Capítulo 4

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Dasha no dia seguinte...

— Paulo, será que ela vem hoje me ver? - Estava ansiosa, quase roendo meu dedo todo.

— Aquela jovem ficou encantada contigo, você tem certeza que pode ser ela?

— Eu li as cartas do destino... E dizia que uma mulher mudaria minha vida, e se ela não vier nunca poderei ter certeza disso, afinal estamos indo embora do Brasil daqui dois dias com certa urgência. - Minha voz saiu desapontada, e meu padrinho como costumo chamá-lo, segurou meu queixo e disse.

— Quando você não conseguiu algo que desejasse? Minha jóia. - Beijou minha testa cuidadosamente.

Consegui sorrir, mas por dentro eu estava preocupada, porque me senti tão bem com aquele olhar dela me fitando, um olhar que não era de desejos impuros, pude sentir isso, senão for ela, toda essa minha busca será em vão, por ter seguido minha intuição cigana através das cartas do destino.

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(Greta Narrando, hora da apresentação de Dasha):

Não devo ir... Mas, quero ir e irei! Há algo nela que me devolveu a esperança numa vida melhor. Pude ver na forma que libera sua beleza, e não digo a física... Mas de sua alma, quanto tempo não via isso em alguém.

Se ela dá essa rosa a todos, deve ter muitos amores por aí fora, descobri meu medo nessa mulher, mas, na verdade isso diz respeito mais a mim, muitos de nós não aceitamos alguém assim, que tenha uma vida livre demais em comparação a nossa, então é nós que precisamos curar isso em nós e não a pessoa que julgamos estar errada por ser assim.

Chegando no Teatro, havia muitas pessoas na fila, e pensei, mas, ela não parecia ser famosa, estava num barzinho simples. Quando o "empresário" dela me enxerga naquela fila.

— GRETA! Venha cá, Greta! - Acenou sorridente, pedindo para eu ir rapidamente até ele.

Apressei meus passos, pedindo licença repetidas vezes ao demais da fila e ao chegar nele, ele me puxou pra dentro do Teatro.

— Você já tem um lugar guardado, Angeline reservou para você. - Questionei na hora.

— Angeline?

— Dasha é nome artístico dela menina... - Riu, zombando da minha inocência. — Deixe-me perguntar, você sabe dançar?

— Há anos que não danço... Então não sei te responder essa pergunta, por qual motivo me fez esse questionamento?

— Quem é da arte... Reconhece a arte da outra. - Sorriu contente e se retirou.

As luzes foram diminuindo, e indo tudo para o palco, as pessoas iam chegando aos poucos, uns rapazes sentaram atrás de mim e ao meu lado não estava ninguém, que era a primeira fileira.

Anunciaram a entrada da Dasha que na verdade se chama Angeline, não disse que essa mulher é cheia de segredos?

— A italiana vai se apresentar... Vim só pra ver aquelas coxas deliciosas dela, pelo cartaz parecia bem gostosa. - Comentou um dos rapazes entre eles e ouvi risinhos, já comecei a me irritar ali.

Ao entrar, Dasha... Chegou com uma roupa de flamenco espanhol, numa cor preta e vermelha sua saia rodada, com uma blusa que mostrava sua barriga lisinha, usando uma rosa branca na cabeça, e sapatos com a sola de madeira, e a famosa rosa vermelha entre seus dedos da sua mão direita. Que mulher!

— Nossa é hoje que eu como essa vadia italiana, ouvi dizer que se ela entrega a rosa é porque você é o escolhido para transar! Essa dança pagã é um lixo, vim só pra ter uma chance com a putinha italiana. - Falou num tom um pouco alto, e creio que Dasha ouviu, pois os demais da fileiras ouviram.

Eu não aguentei dessa vez, me levantei da cadeira subindo no palco, pedi para o tocador mudar o ritmo e tocar tango, depois cheguei pegando Angeline na cintura e conduzindo-a no ritmo que escolhi, não sei como havia conseguido criar coragem e fazer aquilo na frente de todo mundo, o olhar surpreso dela foi divino, seu corpo se uniu ao meu, e segurá-la foi como conduzir o vento a sua corrente perfeita de ar... E liberar toda sua magia, até que quando ficamos bem próximas, nossos olhares transbordaram fogo, e uma curiosidade uma pela outra, e parecia que queria dizer alguma coisa, acabou conseguindo ter a oportunidade de conversar comigo...

— Sabia que você dançava... - Sorriu ao encostar seu rosto no meu. E que cheiro delicioso sua pele tinha, por deuses!

Acabou a música, e aplausos calorosos nos saudaram, nos abraçamos, e os moleques idiotas, se retiraram emburrados, dei um sorriso triunfal, minhas mãos firmes na sua cintura, mal percebia que isso estava deixando Dasha sedenta por mim.

— Essa rosa é para você... Por ter vindo. - Beijou a rosa e me entregou, saindo antes de fechar as cortinas, minha atenção foi nesse momento que me deixou ali no palco, e a vi sair sensualmente embora.

Olhei para o público e sorri forçado, quando as cortinas se fecharam completamente, apressei meus passos em busca dela pelos arredores do Teatro, e vi no caminho... Peças de roupa dela, como forma de trilha. Fiquei tentada, e ia cheirando cada peça de roupa que jogava no caminho... Isso acabou me levando ao seu "camarim". Entrei bufando, por ter corrido igual uma louca atrás dela...

— Feche a porta per favore... Trouxe todas minhas peças de roupa? - Falou num sotaque italiano belíssimo, e até trocando uma palavra portuguesa por italiano.

— Sim trouxe... Mas, o que é isso? - Ainda falei arfante.

— Deixe minhas roupas aí em cima do balcão, e vem até aqui.

Angeline estava nos fundos do camarim, provavelmente era onde ficava o banheiro, e quando cheguei, se encontrava apenas de lingerie, acendendo um cigarro... Sentada no vaso (com a tampa fechada).

— Por que saiu desesperada? - Perguntei inocente.

— Eu faço as perguntas... O que você fez lá no palco? O que foi aquilo? - Seu olhar era desafiador e temeroso.

— Não suportei aqueles rapazes falando tais absurdos a sua pessoa... Perdoe-me por estragar sua apresentação. - Acabei ficando sem jeito, e nem sequer conseguia fitá-la aos seus intensos olhos castanhos.

— Olha pra mim... Era isso que você queria de mim? Por ter me defendido? - Abriu as pernas pra mim, fumando e jogando a fumaça descaradamente na minha face.

— Não! De forma alguma! Só quis te ajudar... Mas vejo que a mente maliciosa aqui é apenas você, não vou ficar aqui e ouvir seus insultos!

Me virei de costas, disposta a ir embora... Quando Angeline segu na minha mão, e me para, entrando na minha frente...

— Não deixei você sair... - Falou no meu ouvido, e sua voz foi como me alisar internamente. — O que você quer de mim? Por que veio?

— Você enlouqueceu? Eu vim porque me convidou! - Rodou em volta de mim, balançando negativamente sua cabeça.

— Vou reformular melhor a minha pergunta... Para que possa ser sincera comigo.

— Pois pergunte! - Respondi meio grossa.

— O que você sente ao me ver dançando? E por que fugiu de mim ontem? - Encarou-me firme, com certa raiva, que deixou até seu cigarro cair, e quando o mesmo caiu, pisou nele.

Pensei, eu sonhei com esse momento, não foi bem assim... Mas sonhei!

— Sinto seus movimentos nas minhas veias... Vejo uma energia vibrante dançar, e não uma pessoa física ali no palco, e ao te ver dançar minutos atrás foi o que mais me criou coragem de ir lá te agarrar e fazer amor contigo através daqueles passo quentes que fazíamos! E eu fugi de você sim, você é mulher demais pra mim! Está satisfeita? - Falei com os olhos lacrimejando, e Angeline pôs a mão na boca, se afastando de mim lentamente.

— Meu padrinho disse que se chama, Greta... Não é? - Falou num tom distante, e olhar também.

— Sim, agora quer me explicar isso tudo? - Cruzei os braços, indignada com todo aquele joguinho dela.

— Só consigo explicar sem roupas... O que senti quando te vi... - Sua fala saiu excitada, e foi tirando sua lingerie me olhando séria.

Não soube dizer nada... Só seguir o ritmo dela, até nisso... Porém, tirei com mais voracidade do que ela. Meu corpo estava entrando em combustão...

Amor ciganoOnde histórias criam vida. Descubra agora