one.

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Londres, 2010.

Fazia muito frio aquele dia. As ruas estavam com gatos pingados caminhando com suas galochas. As crianças saiam, timidamente, para brincar nas calçadas vizinhas, cobertas por inúmeras camadas de roupas, luvas e toucas tampando as testas e ouvidos.

Os telhados desmanchavam-se em neve, fazendo com quê todos aqueles desenhos de natal, espalhados por filmes por todo o mundo fosse, de fato, uma verdade única.
As chaminés indicavam total uso das lareiras internas das casas do pacato bairro.

Clarissa caminhava pela rua, com as mãos enfiadas nos bolsos do casaco, enquanto ouvia tranquilamente Oasis em seu fone de ouvido – nada mais combinava com aquele inverno que as músicas de sua playlist intitulada "músicas quando o inverno tá foda".

– Ei, loirinha.

Nada ouviu-se, uma vez que o volume estava estridente.

– Loira do banheiro! – a voz arfava desesperadamente, tentando alcança-la do outro lado da avenida.

Nossa, agora começou Snow Patrol, sem condições psicológicas para isso hoje! – pensava Clarissa, enquanto criava coragem para tirar a mão aquecida do bolso e pular a faixa do celular.
O meio tempo que tentava achar um som que agradasse, ouviu (ao que parecia longe mas nem tanto) um grito estridente ecoar pela rua, ainda deserta.

– CLARISSA, DESGRAÇADA!

Ao virar-me, deparei-me com um rosto avermelhado, posicionando as mãos no joelho, finalmente respirando. Não conseguia aguentar. Explodi em risadas!

– Tá louco, Lucas? – ria descontroladamente agora que ele mostrara o dedo do meio. –
Como você brota na minha frente parecendo alguém que correu uma maratona?

Lucas tentava respirar, com dificuldade, após os segundos de corrida.


– Tô te gritando desde a oitava rua, ridícula. – revirou os olhos, ajeitando a postura.

– E posso saber porquê esse desespero? Sei que é incontrolável a vontade de estar comigo o tempo todo, mas você tem que tentar.. – sorri amigavelmente, até receber um tapa na cabeça, fechando a expressão do rosto. – O que é, afinal, cacete?


– Quero notícias do seu irmão. Ele já chegou?

Isso era o que Clarissa mais ouvira nas últimas semanas. Todos querendo saber notícias da chegada de seu irmão. Os tios distantes, os amigos de infância, os vizinhos que os vira crescer, os conhecidos comerciantes, e até os que não a conheciam. Todos perguntam por ele.

Ela não se irritava, óbvio, aliás, era seu irmão e também sentira saudade dele.
Não muito, mas o suficiente para querer vê-lo e dar-lhe um abraço – ainda que minutos depois eles já estivessem feio cão e gato, discutindo pelos corredores da casa por todo e qualquer motivo. Lucas era seu amigo de longa data, e simpatizava com seu irmão, ainda que o interesse dele fosse outro, já que Lucas era irmão de uma das 2 garotas com quem seu irmão tenha se envolvido na vida. Em casa, tudo já rodava em torno de Mike. Como fora a vida inteira..

– Chega amanhã. Ás nove, ou onze. Não sei muito bem. – dei de ombros.

Lucas conhecia Clarissa da época em que eram crianças no jardim de infância.
Ele sabia que provavelmente, a chegada de Mike causava mistos de emoções.

– Clarissa, é o seu irmão. Vocês passaram anos distantes, cresceram, amadureceram. Essa disputa de filho preferido não precisa existir mais.

Ela sorriu, sarcástica.

– Claro que não precisa, se não há dúvidas. Ele sempre foi o filho preferido! – exclamei, imóvel. – Ainda quê, quando mamãe adoeceu, eu quem interrompi o curso e deixei tudo de lado para estar com ela.. Mas enfim, o que isto importa, não é mesmo?
O importante é ser o primeiro-filho-homem da família Muller! Orgulho! – ri sem humor.

Lucas ria da ironia, ainda que soubesse que isso realmente existia naquele lar.
Era uma disputa que colocavam entre os irmãos desde sempre. O filho mais velho seria o orgulho, o herdeiro do trono dos negócios, o macho alfa que resolveria tudo.
A filha caçula, a princesinha intocada, educada e prometida levaria o nome da família á diante – apenas construindo uma. Ainda que Clarissa não soasse em nada com a descrição anterior.

Era assim com os Muller e metade da Inglaterra.

– Não odeie, Mike. Dê uma chance a relação de vocês.
Ninguém sabe como estão suas cabeças agora.

Isso era verdade. Inúmeras foram as vezes que Clarissa pegou-se pensando no assunto desde que o irmão avisara que estava retornando. Como seria? Haveria novidade?

– Não odeio meu irmão, idiota. Só não tenho paciência pra ele e seus superpoderes nerds e competentes que farão dele o melhor advogado do estado, após nosso pai e avô, claro.

– Enfim.. você entendeu. Sorria e acene, soldada. – Lucas bagunçava meus cabelos, enquanto eu lhe mostrava a língua.

Suspirei.
Odiava quando Lucas estava certo.

no control.Where stories live. Discover now