four.

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Fui o mais rápido que pude. Obviamente, o trânsito estava insuportável. E pra melhorar ainda mais haviam inúmeras mensagens de meu pai "Seu irmão já chegou!" ou "Onde você está? Seu irmão está aqui e sua mãe quer te matar!". Meu pai era ótimo. Odiava ligações, mas estava fã número 1 das mensagens de texto. As vezes ele me mandava algo, do tipo: "Clarissa, está perdida em qual pub? São nove horas da manhã. Venha tomar café da manhã comigo!".
Havíamos ficado bem próximos nos últimos tempos, ele finalmente entendia que eu não era somente sua caçulinha-princesinha. Conversávamos mais sobre esportes, política e música.
Não tenho como negar que esse espaço evoluiu com a ausência de Mike. Eles eram extremamente companheiros, então, sobrava para mim apenas conversas fúteis.
Havia apenas um assunto que não poderia disputar a atenção de nosso pai, com meu irmão: Direito.



Particularmente odiava tudo que rodava nesse meio. Nossa família vinha de uma sequência de bons advogados e em negócios milionários/grandes escândalos sempre tinha um Muller por trás. – articulando, defendendo, acusando e fazendo dinheiro para que tivesse continuação.


Mike havia prestado vestibular e passou para fazer o curso. Ele era altamente inteligente.
Lá em casa todos estouraram fogos. Vovó dizia que éramos uma linhagem nobre – traduz-se, corruptos. Quando foi minha vez de entrar na faculdade, prestei para Arquitetura. Passei.
Papai odiou e ainda tentou me fazer voltar atrás.. Sem sucesso. Porém, um ano depois precisei trancar. Mamãe havia adoecido e aparentemente nem meu pai e nem Mike poderiam parar suas vidas – já que o "negócio de família" precisava continuar e expandir.


Desde então, estava no escritório só para passar o tempo. Sempre me fazia presente na noite inglesa, as vezes fazia algumas viagens pelo litoral espanhol. Envolvia-me em projetos sociais e, no mais, apenas fazia parecer que era só mais uma herdeira que nada tinha para acrescentar.


Cheguei em casa entrando pela porta dos fundos na ponta do pé. Conseguia ouvir burburinhos de conversas, mas meu objetivo era ir direto para cima, tomar banho e descer como se não estivesse atrasando o almoço de boas vindas de Mike. Quando já estava no terceiro degrau, cantando mentalmente "We are the champions, my friend" ouço um pigarro.

Mamãe.

– Adoro o fato que você cumpre com o que me promete! – Falou irritada, cruzando os braços. Aquilo era um péssimo sinal. Dona Alexandra era osso duro.
– Oi mamãe! Que linda está hoje.. Fez algo no cabelo? Sabia que eu te amo? – Sorri amarelo.
– Cara de pau! Seu irmão está aguardando você, e ele tem uma surpresa junto... – Sorriu "encantada", como se estivesse nas nuvens.
– Que surpresa?
– Clarissa, procure depois o que significa a palavra "surpresa". – Revirou os olhos. – E vá voando tomar um banho e tirar esse cheio de perfume barato! Sabe que tenho alergia.


Gargalhei. Ela realmente era uma peça.
Tomei um banho rápido, coloquei uma calça de moletom justa – que mataria Dona Alexandra de raiva. E achando pouco, uma camiseta de banda. Creed, para ser mais exata – o que a deixaria soltando fogo pelo nariz. Fiz um coque aleatório e desci.


Chegando ao ambiente avistei Mike e alguém a mais na mesa.


– Aí está ela! Clarissa! Finalmente, minha filha! – Papai esbaforiu sorridente, enquanto Mike me sorria alegremente. Senti meu coração aquecer, eu realmente senti falta dele.

– Até que enfim, minha irmã. – Abraçamo-nos fortemente, enquanto ele beijava minha cabeça.


A presença extra naquela sala de jantar levantou-se, ainda de costas e virou-se para me cumprimentar. Eu não sei vocês, mas acho piegas o termo "feitos um para o outro", então vamos usar "cara de um, focinho de outro". A garota era uma versão feminina de meu irmão.

Tinha uma expressão serena, a pele mais bronzeada e uma cara de quem não ouve pagode em hipótese alguma na vida.


– Olá, Clarissa. Prazer! Ouvi falar muito de você. – A garota estendeu a mão, enquanto ajeitava os óculos. Seus cabelos eram curtos e levemente tingidos.
– Prazer... – Cumprimentei-a de volta com a mão, fazendo uma pausa, encarando-a.
– Ana!
– Prazer, Ana! Espero que tenha ouvido coisas boas. – Encaminhei-me ao meu lugar, sentando ao lado de Papai e lhe dando um beijo.
– Em sua maioria, sim. – Ela riu, piscando para Mike.
– Digamos que Ana sabe de nossas guerras sobre discordarmos de absolutamente tudo no mundo! – Mike sorriu, abraçando a garota de lado.


O almoço seguiu tranquilo. O casal contava como haviam se conhecido há 6 meses, em um café na entrada de um museu. Altamente nerd e clichê, eu diria.
Vez por outra meu olhar encontrava o de Ana e ela me parecia muito leve. Interessante, talvez.


Já fazia mais ou menos uma hora que todos terminaram de comer e eu já bocejava de sono – enquanto papai e Mike conversavam sobre os novos negócios que eles fechariam, agora que meu irmão havia passado nos exames finais e poderia exercer a profissão. Mamãe e Ana conversavam algo sobre o esmalte da estação e levantei-me da mesa afim de sair dali.


– Bom, pessoal. O papo está realmente ótimo, mas preciso dormir um pouco.

Caminhei até Mike e lhe beijei o rosto.

– Se for sair hoje, avise-nos. Quero mostrar um pouco da noite de Londres para Ana. – Piscou pra ela, que animadamente confirmou com a cabeça, sorrindo para mim.

– Claro. Saio tarde, então, fiquem á vontade para fazer outras atividades até lá. – Sorri e acenei um tchau geral.


Antes de minha cabeça encostar o travesseiro, eu já dormia.

no control.Where stories live. Discover now