"Piloto"

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Eu estava jogada na minha cama, escutando um som onde eu viajava, mas viajava para
longe.. Longe de todos os lugares que eu me lembrava de quando minha vó me tirava de casa, e
passeava comigo quando minha mãe estava brava.. Ela sempre fora amorosa comigo e eu
sempre fui muito apegada à ela. Foi ela quem me ensinou a contar, por mais que eu ficasse
brava, ela parava, olhava para mim com um sorriso no rosto, e falava para mim respirar e
recomeçar. E era o que eu fazia.. Parava e recomeçava. Mas infelizmente, ela se foi a uns 2 anos, e eu ainda não havia superado aquela dor, na verdade, nunca iria superar. Quando de
repente fui interrompida por um barulho que me fez estremecer de raiva, por simplesmente me tirar do meu transe emocional.
- Hope !! Hope !! - alguém gritava meu nome sem parar do lado de fora da porta, batendo nela
como se estivesse com um grave problema. Levantei-me da cama, enxuguei meus olhos, pois estavam quase alagando meu quarto com as lágrimas, e abri a porta.
Lá estava meu irmão com um sorriso de orelha a orelha, ele tem 17 anos e é maior que eu... - O que é ?
- Chegou um vizinho novo na antiga casa dos Wilson, e eles tem dois filhos. Mamãe está
chamando você para fazer as honras aos novos vizinhos. Vamos !! - ele disse e em seguida,
saiu correndo escada abaixo.
Eu realmente não queria sair do meu quarto, mamãe sempre teve aquela mania de dar as honras aos novos vizinhos, que era praticamente um jantar onde nós nos apresentavamos e fazíamos uma festa de boas vindas. Depois que minha querida avó morreu, achei desnecessário qualquer tipo de festa. Mas o que eu podia fazer ? ficar trancada no meu quarto e viajando nos meus pensamentos.
- Hope, por favor venha conhecer os nossos novos vizinhos ! - gritou minha mãe lá de baixo, esperando que eu fosse descer.
- Não irei. Não estou bem para conhecer ninguém hoje - aliás, nunca estava bem.
Pude escutar minha mãe suspirar e começar a subir os degraus da escada como se soubesse
porque eu estava daquele jeito, e bom, ela sabia. Ela também não estava bem, mas fazia o possível para que seguissemos em frente após a morte de vovó.
Ela bateu na porta e entrou.
- Desculpe, mas não irei descer la em baixo, quem sabe outro dia.. - ou outro ano.
- Eu sei que não está sendo nada fácil para você lidar com a perda de sua vó Ellie, você ama ela tanto quanto eu, mas temos que seguir em frente.. - ela fez uma pausa e se sentou na beira da cama- e você sabe, ela não gostaria nadinha de ver você assim, aliás, não gostaria de ver todos nós assim.
Tudo o que ela falou, realmente era verdade, vovó nunca gostou de que ficassemos tristes, queria que seguissemos em frente e feliz, não importa o que aconteça. Mas eu não podia, aquilo era forte demais para mim continuar, como se eu não perdesse uma parte tão importante de mim.
Minha mãe chegou mais perto de mim e passou seus dedos delicados em meu rosto como se estivesse me consolando.

HopeOnde histórias criam vida. Descubra agora