Biblioteca

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Subo para meus aposentos assim que terminamos o jantar e a sobremesa que estava deliciosa.
Sento na cama e olho de longe o contrato em cima do pequeno criado mudo. Penso no que vai acontecer depois que eu assinar o contrato, um turbilhão de pensamentos se passam em minha cabeça e me levam até uma única pessoa. John. Era estranho chamar ele assim já que eu tinha me acostumado com "James". Queria poder estar com ele, rir de suas canções totalmente estranhas e que não rimavam nada, mas mesmo assim eu queria estar com ele, era ele quem vinha me fazendo sorrir feito boba, era ele com quem tinha sido tudo.
Uma batida na porta me tirou dos meus pensamentos e levantei da cama e fui olhar pelo olho mágico, era Jhonathan, abri apenas uma brecha da porta.
- Olá? Precisa de algo?
- Oi, na verdade não, mas vim te entregar as chaves da biblioteca quando quiser ir ler, eu não leio muito e sou o único que mora aqui, até você assinar, então você pode ficar com ela. Se quiser posso te mostrar onde ela fica. - disse ele, provavelmente queria conversar com alguém.
- Ah sim... Obrigada, mas acho que já está tarde e eu...
- Ah por favor Hope, não aceito um não como resposta. Sem contar que ainda não está tão tarde. Vamos lá, não vou fazer nada com você. - ele falou me cortando.
Pensei por um momento até que cedi, porque poderia ver lugares diferentes do que ficar trancada nesse quarto, sem contar que eu poderia encontrar algo, a possibilidade disso acontecer são poucas mas nunca se sabe.
Fechei a porta de novo e peguei meus chinelos. E abri a porta.
- Vamos?
Ele abriu espaço para mim passar.
Caminhamos até o fim do corredor, que dava para outro corredor à direita.
- Você já assinou o contrato? - perguntou ele.
- Ainda não. Isso te incomoda?
- Óbvio que não. Apenas perguntei por curiosidade. Pois assim que o assinar você terá muitas coisas para resolver.
- Que tipos que coisas? - perguntei curiosa.
- Ah que pena, só posso te contar quando você assinar. Sem assinatura, sem informações. - e pisca para mim.
Chegamos ao fim do corredor, onde nele só havia uma porta. Deve ser a biblioteca. Ele abre a porta dupla de mármore branco e me dá a passagem. Eu entro e fico maravilhada, é incrível! Nunca vi tantos livros na minha vida, nem na biblioteca do colégio tinha tantos livros assim. Eles eram alinhados, de acordo com o nome. Eu inspirei o ar daquele lugar maravilhoso, tinha cheiro de couro.
- Isso é simplesmente...
- Incrível? ... sim realmente é. Mas eu quase nunca venho aqui depois que... - ele fez uma pausa drástica.
- Depois do que? - me virei para encara-lo.
Ele balança a cabeça em negatividade. - Nada, não é nada. - e me dá um sorriso forçado.
Eu apenas concordo com a cabeça e me viro novamente para ir ver os livros.
- Se quiser, pode ficar aqui para ler alguns. Mas não se esqueça de assinar o contrato. - e sai da sala me deixando só.
Eu continuo passando entre os livros alinhados por ordem alfabética, passo do "A" encarando-os até achar algum que me chame a atenção. Sigo reto até que paro na letra "O" e fito Orgulho e Preconceito da Jane Austen. Retiro da prateleira e procuro algum lugar para me sentar.
Vejo duas poltronas uma de frente para a outra, à frente de uma das prateleiras. Elas são de cor azuis-claros e me parecem bem confortáveis. Sigo até elas e me sento. Me ajeito, abro o livro e começo a relê-lo.

Algumas horas se passam.

Perco a noção do tempo, e começo a perceber que estou ficando cansada e preciso me deitar. Fecho o livro e coloco novamente no seu lugar. Saio da biblioteca e fecho a porta. Estou com tanta fome, geralmente eu sempre comia algo antes de dormir. Nem que fosse apenas umas bolachas ou café com leite.
Minha barriga ronca alto.
Levo minha mão a barriga e rezo para ela não continuar fazendo tanto barulho assim, pois poderia acordar a casa toda. Lógico que eu estou brincando, mas que alguém poderia escutar, era fato.
Sigo para o meu quarto na esperança de poder pegar no sono o mais rápido possível.
- Senhorita Hope? - alguém me chama. Viro-me para ver quem me chama. É Alvin, ou algo do tipo não lembro o nome dele.
- Ãhm... Oi, Alvin né?
- Não, é Álvaro Senhorita. Você está bem?
- Ah sim, me desculpa mesmo Álvaro. Estou sim, porquê?
- Não tem problema Senhorita, você é a única que já chegou perto do meu nome mesmo. Não, não é nada, é que eu estava fazendo a ronda por aqui e escutei a sua... - e aponta para a minha barriga - barriga roncar. Tem certeza que não está como fome? Se quiser, posso preparar algo para a Senhorita. - diz ele.
- Ah jura? Eu ficaria feliz e muito grata com isso! Mas tem certeza que isso não pode te prejudicar? Não quero que nada aconteça com o seu serviço por culpa minha. - falo sendo sincera.
- Não Senhorita. Pode ficar tranquila. - e ele dá um sorriso.
Eu concordo com a cabeça e sigo ele até a cozinha. No caminho lembro que ele me disse que fui a única que chegou perto do seu nome.
- É verdade? - falo baixo.
- O que Senhorita?
- Que fui a única que chegou perto do seu nome?
- Ah, sim. Foi sim... Na verdade alguns me chamam até de Simon. Eu já tentei corrigir, mas eles riem de mim e voltam a me chamar de Simon.
- Nossa, Simon? Sério? Não tem nada haver com o seu nome e nem com você! - solto uma gargalhada.
- Sim!! Que bom que alguém me entende! Apesar de a Senhorita ter me chamado de Alvin.
- Não foi minha intenção. É que você se apresentou muito rápido e eu não prestei tanta atenção assim. Me desculpa mesmo. E por favor pode me chamar apenas de Hope. Sem essa de Senhorita.
Chegamos na cozinha, e ele volta para olhar para mim.
- Tudo bem... eu posso sobreviver com isso - e ri. Uma risada bem espontânea. Gostei disso. - Tudo bem Senho... digo, Hope. - ele se vira para lavar as suas mãos. - O que você gostaria de comer? - pergunta ele.
- Talvez uns cookies ou qualquer outra coisa.
- Humm... Cookies eu não sei, mas sei fazer um ótimo ovo mexido com bacon, aceita?
- Pode ser. - falo.
Ele se vira e pega uma frigideira e despeja o óleo, e faz ovos mexidos enquanto eu observo a cozinha com mais atenção.
- Ele é todo dia assim ou é só em dias assim? - dou ênfase.
- Geralmente todos os dias - e ri.- mas faz pouco tempo que estou aqui, então nesse pequeno tempo só o vi ele rir uma vez.
- Humm... entendi. A quanto tempo você está aqui?
- A mais ou menos uns 3 meses. Mas quase ninguém fala comigo, e quando falam é tipo: "ahh Álvaro, vai fazer tal coisa" "ahh Álvaro, preste mais atenção", coisas do tipo.
Dou risada da sua imitação, foi até que boa.
- Aqui está seus ovos mexidos com bacon. - ele põe o prato na minha frente.
- E os seus? - pergunto.
- Não estou autorizado a comer no horário de serviço. Apenas a receber ordens e concluí-las.
- Bom, se eu te dar uma ordem você terá que cumprir, então eu ordeno que você se sente e coma um pouco desses ovos mexidos comigo. - digo.
- Esta foi boa. - ele diz e tira o avental e se senta na cadeira a minha frente.
Nós comemos, na verdade eu quase comi tudo sozinha, ele só ficava olhando mesmo. De vez em nunca ele pegava algo.
- Estava muito bom! Obrigada por essa delícia de ovos mexidos.
- De nada, sou muito bom na cozinha eu sei.
- E bem convencido também né?! - dou risada.
Ele me leva até o meu quarto e me despeço dele com um simples "tchau".

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