O Encontro

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A forte chuva me acordou. Olho para o relógio em minha cabeceira e um calafrio atravessa meu corpo, ela está vindo. Está vindo para desafiar minha razão, para destruir a minha lucidez e me atirar impiedosamente no vórtex caótico que se tornou minha vida.

- Dessa vez vai ser diferente - prometo a mim mesmo em voz alta, sabendo que estas palavras não contêm peso algum, desaparecendo da existência no mesmo instante em que saem de minha boca.

Sento na cama e encho novamente o meu copo com um uísque barato, a garrafa já está na metade, sei que ando bebendo muito, sei que devo parar, mas também sei que sem essa dose eu dificilmente conseguirei chegar ao próximo dia.

Às quatro e quarenta e quatro em ponto ela aparece. Como sempre, está deslumbrante, está usando um vestido prata, ornado com diversas pedras de cores diferentes, ele combina perfeitamente com o tom escuro de sua pele, seus cabelos negros trançados em um sofisticado penteado, seus olhos mais vivos do que nunca, ela parece a porra de uma princesa de contos de fada.

- O que você quer de mim!? - grito atirando meu copo em sua direção - Me diz o que fazer... estou tão perdido sem você meu amor.

Mais uma vez minhas súplicas são respondidas apenas com aquele gesto estúpido e desesperado: ela me chama insistentemente com suas mãos, sem emitir um único som.

Corro até ela e tento em vão abraçá-la, sei que isso não vai funcionar, sei que ela não está de fato aqui, mas eu tenho que tentar novamente. Não consigo conter o choro diante de mais esta falha e caio de joelhos na sua frente pouco antes dela começar a desaparecer. Olho uma última vez em seu rosto e vejo seu sofrimento por me ver neste estado.

Quando consigo reunir forças suficientes para me levantar, as primeiras luzes do dia invadiam o quarto, exausto, tomo mais uma dose de meu uísque, bebendo no gargalo da garrafa e me jogo de volta na cama sabendo que pesadelos me aguardam.

Salto de Fé (CONTO)Onde histórias criam vida. Descubra agora