Capítulo Um.

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– Chega, Raíssa! – ofegante, Saory implorou, sentindo os músculos de seus braços queimarem e seu rabo de cavalo grudar em sua nuca suada

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– Chega, Raíssa! – ofegante, Saory implorou, sentindo os músculos de seus braços queimarem e seu rabo de cavalo grudar em sua nuca suada.

O dia em Primavera ainda estava tipicamente agradável naquele ponto. Enquanto as duas treinavam no exterior da pequena casa de madeira amarelada, o sol preguiçoso da manhã ainda esquentava as suas cabeças e a grama neon ainda pinicava seus calcanhares. Naquele ponto, aquele primeiro dia da semana ainda se tratava de um dia convencional dentro da nova realidade na qual Raíssa e Saory Cartelli estavam inseridas. E, como de praxe, ambas treinavam luta corporal no quintal infinito que a mais velha possuía em sua humilde casa afastada, com uma familiaridade levemente forçada.

– É isso por hoje – reafirmou, rendendo-se, enquanto desgrudava seus fios de seu pescoço com uma careta no rosto. – Não dá mais.

Soltou todo o ar de uma vez, apertando seu abdome dolorido. Realmente, não dava para continuar naquele ritmo. Queria um banho refrescante e um suco de melancia. E, talvez, meses de folga.

Era fato que aos poucos a princesa de Jasmim ganhava mais resistência física. E que, depois de quase dois meses de treinamento, sentia-se em forma o suficiente para aguentar todos os exercícios que recebia de sua treinadora experiente. Contudo, tinha certeza de que nunca se acostumaria com o suor nojento que impregnava em seus cabelos bem cuidados em todos os treinos, muito menos com o princípio de morte que sentia no final de todos eles.

Já perdera a conta de quantas manhãs e fins de tarde se dedicara por completo àquela prática. Nos dois meses que se hospedara na casa amarela de Raíssa, treinaram quase todos os dias, e aquilo era quase assustador de se pensar. Tanto a parte do treino extensivo quanto a de sua mais nova moradia.

Ela estava hospedada na casa de Raíssa, e pensar sobre isso ainda a fazia sorrir sozinha, ciente da loucura que aquela situação implicava. Do ataque cardíaco que provocaria em qualquer um que soubesse. Do surpreendente bem que aquela insanidade a estava fazendo.

A princesa não saberia citar, se a perguntassem, o que de fato a levara a tomar essa decisão fatalista. A verdade era que não havia um motivo específico, mas sim um agregado de fatores que a fizeram morar por dois meses quase completos com uma assassina. Foram várias pequenas coisas que a levaram a de fato se sentir em casa em um casebre precário e sem ar condicionado.

Ela poderia citar como uma delas a briga que teve com seu irmão quando ele voltou para a casa do hospital e, indiretamente, a culpabilizou pela morte de seu pai ao afirmar que "Saory não devia ter se metido em algo que não entende".

Poderia citar, claro, a tristeza que assombrou seus dias no endereço novo que estipularam para sua família: uma mansão provisória a 15 minutos do antigo castelo enquanto este era reformado. A menina sentira uma aflição crônica a sufocar por completo durante aqueles dias, a fazendo quase deprimida. Fazendo-a se sentir doente. Nos dias que se seguiram ao velório de seu pai, Saory se sentira completamente sozinha, e, logo em seguida, amargurada, ao saber da tragédia que se dera com o sucesso do feitiço. E ela não achava que tinha forças o suficiente para segurar o peso da morte de seu pai e o fracasso que a levou àquele ponto sozinha.

O Bailar das Estações | #2 | (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora