2° Capítulo: Anos 80

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Cheguei mais cedo no local onde havíamos combinado. Maldita ansiedade. Era um pub versão anos 80 que acabara de abrir na cidade, tinha uma pegada diversificada e logo de cara já havia me apaixonado pelo lugar. Meia luz, com diferentes quadros espalhados pela casa e o chão imitava o de uma discoteca em preto e branco. Numa das paredes ao meu lado havia uma lousa que me chamou atenção, nela continha uma mensagem dizendo que nos anos 80 não havia wifi e isso soava muito interessante, principalmente num mundo em que as pessoas não se encaravam mais e viviam aprisionadas em suas telas de celulares.

- Boa noite, senhorita. Como vai? Há alguma coisa em que posso ajudá-la? - Uma garçonete muito simpática com o cabelo todo trançado estava me abordando.

- Oi meu bem, boa noite! Pode me trazer uma cerveja Heineken, por favor. Dois copos.

- Tudo bem! Só um momento, por gentileza.

Agradeci e a moça se retirou. Alguns minutos depois a cerveja chegou... Acompanhada de Ana. Ela estava incrivelmente gata. Gata pra cacete. Um verdadeiro mulherão da porra. Vestia uma calça jeans, uma camiseta preta, o cabelo volumoso pra cima e trazia consigo aquele ar de malícia que eu não sabia nem o que fazer quando via.

- E aí, lindona, como você tá? - tentei agir naturalmente (como sempre).

- Tudo em paz, Vi. Pelo visto cheguei na hora certa, né? - gargalhamos juntas e Ana me puxou pela cintura sutilmente me cumprimentando com um beijo na bochecha e se sentou numa cadeira de frente comigo.

Aquele perfume já havia se infestado pelo bar inteiro e como o aroma dela era delicioso, eu já imaginava se o gosto também seria daquele jeito.

Porra, Vitória! - Pensei comigo - Você ainda nem beijou a boca da garota e já está pensando sacanagem? - Me segurei pros pensamentos não invadirem minha boca.

- E aí, como foi o seu dia hoje? - Ana me perguntou enquanto servia nossos copos.

- Nada muito diferente. Visitei um cliente hoje para resolver as últimas coisas da abertura do estabelecimento dele. Tá vindo pra cá uma nova casa de massagens, achei bem criativa a ideia, porque aborda umas práticas bem diferentes.

Ana parecia demonstrar interesse nos meus assuntos quase sempre tão banais e isso era legal. Eu já não me sentia mais nervosa e estava confortável com a situação.

- Ah, é? Que massa. Posso indicar aos meus alunos, eles sempre se interessam por massagens diferentes. Tem tântrica lá também?

Soltei uma gargalhada sem graça, enquanto brindávamos com os copos de cerveja.

- À sexta-feira! - eu disse.

- À essa sexta-feira! - Ana completou dando ênfase na pronúncia do "essa".

Passamos a noite conversando sobre trabalho, astrologia, militância feminista, política, cinema, teatro e todos os assuntos rendiam por horas, já haviam sido 5 garrafas de cerveja e eu definitivamente precisava parar de beber naquele momento. Minha cabeça só conseguia imaginar Ana desabotoando a minha camisa e me beijando inteira. Olhei no relógio e já marcava mais de 2h da manhã, sugeri a Ana que fôssemos pra um lugar mais tranquilo.

- Quer ir lá pra casa? - Ela me convidou. - Se quiser pode até dormir por lá.

A essa altura do campeonato o meu olhar já deveria entregar tudo o que eu tentei esconder a noite inteira e eu jamais me perdoaria caso recusasse esse convite.

Só por uma noite. Onde histórias criam vida. Descubra agora