19 de setembro de 1948;
Saison des Mouettes
06:27 P.M.
Meus olhos não paravam nem por um segundo dentro do trem, pessoas andavam de um lado ara o outro, procurando por algum lugar vago, nem havíamos começado a andar, mas a minha animação estava no máximo. Em algumas horas, todos deste trem estariam na maior e mais renomada academia de musica e dança da França, era algo para se ter algum orgulho.
Pela janela, consigo ver cada rosto com detalhe, meus pais do lado de fora, me encaravam com uma espécie de alter ego estranho, junto com o famigerado orgulho paterno e materno, eles foram em grande parte responsáveis pela minha chegada aqui, não desmereço meu esforço, mas sem aqueles dois me cobrando sempre o melhor em suas aulas de Ballet, talvez eu tivesse desistido na metade do caminho. Ambos eram professores de dança clássica, nossa família era formada por grande parte de artistas, então tive muitas inspirações nesse meio.
O nervosismo me consumia aos poucos, mas tentava não demonstrar isso, observar tudo ao redor era sempre uma válvula de escape que eu usava, me distrair com o que as outras pessoas estavam fazendo. No lugar onde eu estava não havia mais ninguém, minha mochila ocupava o banco ao lado, enquanto os outros dois a minha frente permaneciam vazios, então apenas encarei o estofado, podendo notar o assento um pouco sujo e gasto, as cores em tons frios se juntavam em uma mistura que beirava a morbidez, os detalhes em madeira pareciam novos, talvez tivessem vernizados. O vidro que dividiam as cabines e davam mais privacidade aos assentos estavam embaçados por causa do tempo frio e as respirações de tantas pessoas.
– Hey – uma voz vem da porta e me faz sair do meu pequeno "transe", era um cara de cabelo cacheado, devia ter mais ou menos a minha idade – desculpa atrapalhar, mas... Todos os outros estão cheios, estão eu...
– Claro... – digo deduzindo o que ele queria dizer e aponto os bancos a minha frente – estava me perguntando se passaria as 3 horas sozinho olhando para o nada.
Ele sorri com a minha resposta e entra na cabine, deixando suas coisas na prateleira de cima, feita exatamente para isso, reparo que ele levava consigo uma bolsa do formato de um instrumento pequeno, me deixando brevemente curioso para saber qual instrumento ele tocava.
– Obrigado... As outras já estão cheias, e as que tinham apenas duas pessoas não pareciam me querer ali – o garoto diz deixando a mochila e a bolsa no banco ao lado.
– Algumas das pessoas daqui tem um pequeno complexo, não pense que é algo com você – cruzo os braços encostando a cabeça na janela.
– Fico mais aliviado – ele se acomoda melhor e sorrio de lado – Me chamo Raymond..., mas pode me chamar de Ray se preferir.
– Certo, Ray. Me chamo Frank, sem apelidos – ele assente e concorda com a cabeça.
Ficamos em silencio depois dessa apresentação, olhando pelo vidro da porta, posso ver que as pessoas haviam se acomodado, as pessoas do lado de fora se agitavam conforme o maquinista anunciava a partida, a última chamada tinha sido feita, então lá estávamos nós, nos trilhos em direção a um lugar, o qual julgávamos ser o que iria decidir nosso futuro na dança e na música clássica. Meus pais me olhavam acenando uma ultima vez, com um sorriso no rosto aceno de volta, posso notar que ao lado deles estava uma senhora acenado na mesma direção, Ray a minha frente também se despedia, aparentemente, de sua mãe.
Não demora para que o trem comece a andar, vejo meus pais ficarem para trás aos poucos e um pequeno frio na barriga surgir, estava mesmo acontecendo, um passo a menos para alcançar o que tanto desejava. Parecia que antes a minha ficha ainda não havia caído, mas agora em movimento e vendo meus pais cada vez mais distantes, tudo ficava mais claro de que não era só uma ilusão. Com um ultimo suspiro do trem, a estação também fica para trás, as pessoas acenam enquanto conseguem e então, apenas as árvores preenchem nossa visão, se tornando o cenário da nossa viagem.
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Last Lettler »Frerard«
FanfictionFrank sempre sonhou em se tornar um bailarino profissional. Por mais que se esforçasse, sentia que sempre faltava algo. Nunca satisfeito. Sempre querendo a perfeição. Ao conseguir ser selecionado para uma das academias mais renomadas da França, Fr...