tão perto, mas tão longe

Capítulo III

Marisa

-O QUÊ?? TU TENS ANDADO A SAIR COM O AFONSO E NÃO ME CONTAS NADA, MARGARIDA?

-Calma, tem calma... E desculpa, mas é tanta coisa ao mesmo tempo. Não consigo pôr-te a par de tudo.

-Ahm, não é por nada, mas acho que uma amizade com o Afonso Silva não é coisa que simplesmente te passe ao lado...

-Sim, tens razão, mais uma vez desculpa... Mas então, o teu date como foi?

-Date? Qual date? Só fui beber café... Ele nem com o meu número ficou...

-O quê?? Como assim não lhe deste o teu número, Marisa?!

-Oh, sabes como sou envergonhada... E se ele tivesse realmente interesse pedia-o.

-Cala-te! Tens de começar a arriscar na vida! Assim não sais do sítio! Agora tens de rezar para que o voltes a ver! Lisboa é grande, mas tens de pensar que o mundo é maior, se aconteceu uma vez pode acontecer outra. Até porque no espacinho de tempo que tiveste com ele não referiste que eu amo o Rubenito.

-Sim, deves ter razão... Tinha o Jota à minha frente, eu ia mesmo lembrar-me de dizer que tu tens uma paixão no Rúben, Guida!

-Devias! E agora vou bazar, o Afonso e o Hugo estão à minha espera lá baixo. Depois falamos, beijinho.

-Ui! Onde isso já vai, até conhece os primos! Xauzinho, também tenho de ir buscar o jantar. Beijo.

Argh. Estou cheia de fome e farta de comer massa. O Hugo não está cá e eu não conheço mais ninguém, tenho de fazer amigas o quanto antes! Vou ter que ir ao Mc, outra vez. Pode ser que encontre alguma cara conhecida, afinal de contas não devo ter sido a única pessoa a escolher Lisboa. Podia era dar de caras com o Jota, outra vez. Pareço muito desesperada? Desculpem, mas é que estou mesmo. É que nem sequer tenho forma de lhe mandar mensagem de modo a ele responder. Tenho mesmo de esquecer que tive com ele alguma vez na vida? Porra, nem uma foto tirei!

Perdi-me nestes pensamentos e ainda não saí. Ponho os fones e dou play. Tenho a música nas alturas e ainda consigo ouvir o cão do vizinho a ladrar! ''Tens de começar a arriscar na vida''. Bem, não morro se bater à porta, aliás, até pode ser que conheça mais alguém.

Dou um passo em frente mas não foi necessário bater, a porta abriu no segundo em que levantei a mão. Adivinhem quem saiu por ela. Um labrador preto, com uma coleira vermelha, preso numa trela da mesma cor, segurada por um rapaz ligeiramente mais alto que eu vestido com um fato de treino da adidas preto. Sim, o Jota. Eu vivo a 2 metros do Jota desde que cheguei a Lisboa e nunca me dei conta disso.

Não consigo evitar sorrir, a minha mão continua levantada e mais uma vez não tenho reação. Só acordo com a voz dele.

-Marisa? Não sei quanto a ti, mas eu acredito no destino.

O quê que ele quis dizer com isto? Epah, olha-me só esse sorrisinho envergonhado.

-Podia até não acreditar, mas isto deu-me motivos para o fazer.

-Bem, mas ias bater aqui à porta porquê?

-Eu ouço o cão ladrar desde que cheguei, mas nunca imaginei que fosse o teu. Ia agora sair para jantar e pensei ''Porque não arranjar a desculpa de gostar de cães para conhecer alguém visto que não conheço ninguém?''.

-Foi bem pensado. Só que no caso já me conhecias. Eu ia agora sair para ir ao Mc também, posso-te fazer companhia se quiseres, claro.

-Agradecia imenso, mas se tiveres combinado com algum amigo, ou amiga quem sabe, eu não me importo de ir sozinha.

Notou-se muito que era para saber se tinha namorada?

-Não, não tenho nada combinado. E não, não tenho namorada.

Ups, notou. Corei.

-Sendo assim, vamos, estou a morrer e não vejo a hora de ter a boca num McRoyal Bacon.

-Só vais comer isso? Dois BigMc para mim não chegam ahah.

Começamos a andar e é impossível não sorrir com a vozinha tão fofa dele. A forma de falar dele. Eu sempre o admirei como jogador e pessoa, mas não tinha ideia de que ele poderia ser assim, ou de que algum dia poderia vir a conhecê-lo assim. Dou por mim a olhar fixamente para ele e a sorrir como uma estúpida quando ele saca do telemóvel e diz:

-Olha, não te pedi o número no outro dia, e arrependi-me profundamente. Não vou desperdiçar a segunda oportunidade que as estrelas me estão a dar, por isso aponta aí. Mas por favor, não partilhes isso com ninguém!

Uau. Peguei no telemóvel e digitei os 9 números. Ele guardou o contacto como ''<3''. Impossível ter visto isso e não corar. Fui dizendo que ele podia confiar em mim e que não iria espalhar por ninguém e ele agradeceu e deu-me um pequeno beijo na testa.

Jantamos, demos uma volta pela rua iluminada pelos candeeiros e fomos para casa. No caminho tivemos de parar por causa de uns quantos fãs que se aproximavam e pediam uma foto ou um autografo. Ele pedia sempre desculpa por pararmos, mas eu compreendia sempre, afinal de contas eu era uma dessas fãs.

Chegamos ao prédio e subimos no elevador. Sem eu dar conta tirou-me uma foto e deu a desculpa ''Precisava de meter uma no contacto''. Eu ri-me. Chegamos ao nosso andar, às portas que se encontram uma em frente à outra. Nenhum de nós entrou, nenhum de nós disse nada, nenhum de nós fez nada. O silêncio e os sorrisos foram cortados com o ladrar alto do Horta. Ambos rimos.

-Hm, queres entrar? – Porra Marisa, que merda foi essa? Achas que ele vai entrar? Tiveste com ele duas vezes!

-Se vires um filme comigo, sim.

Ok, não esperava esta resposta.

Entramos. Abri a Netflix e ele escolheu o filme. ''When we first met''. Já o tinha visto, mas não o queria contrariar. Fui fazer pipocas e rapidamente nos deitamos no sofá. Rimos imenso, atiramos pipocas um ao outro, ele fez-me cócegas e quando dei por mim estava a rir imenso sentada no colo dele. Ambos ficamos a olhar um para o outro um pouco perdidos e demasiado próximos.

Pling, mensagem de Guida

Olá burra, se tiveres a dormir liga-me mal acordes.

Saí rápido de cima dele, bastante atrapalhada e disse que era a minha melhor amiga que está no Porto. Ele riu e disse que também já era tarde e devia ir dormir porque tinha treino cedo.

Levei-o à porta e recebi um beijo atrapalhado na bochecha.

Deitei-me sem sequer responder à Guida. O que se está a passar comigo? Mal o conheço!

Pling, nova mensagem, número desconhecido

Amanhã, meio-dia, no apartamento em frente ao teu, eu faço o almoço, aceitas? Não partas o meu coração ao recusar. :(

Sorri para a tela.

Não era capaz de o fazer, lá estarei. :)

Guardei o número rapidamente ''J <3''

Pling, mensagem de J <3

Espero mesmo que não sejas. Até amanhã. <3

Voltei a sorrir.

Até amanhã <3

Ai, o que é que eu estou a fazer?