Capítulo V

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Marisa

Estou sentada no sofá do Jota. Do Jota. Estou a sorrir como uma parva e ele nem sequer está aqui comigo. O pequeno grande Horta está deitado ao meu lado com o ar mais meigo possível e as minhas mãos não conseguem evitar fazer festinhas na barriga dele. Ouço a voz do Jota atrás de mim:

-Tu adoras mesmo cães, não?

-Nem imaginas o quanto. Desde pequena que quero um labrador preto, tal como este, a quem possa chamar Zorro.

-Zorro? Porquê Zorro?

-Bem, foi o nome do meu primeiro cãozinho e a primeira palavra que eu disse, acho uma boa homenagem.

Ele sorriu:

-Então estás com sorte. Este pode não se chamar Zorro mas cumpre os outros dois requisitos. Ah, para não falar que o dono é extremamente atraente.

Não consegui conter um sorriso:

-Sim, tens toda a razão, mas eu continuo a preferir o Hortinha.

-Bem, por enquanto. – disse isto bem baixinho, quase sem eu ouvir. Fingi que não tinha mesmo prestado atenção, mas corei. – Mas, então, vamos comer?

Confesso que o almoço estava ótimo, o chefe Jota Filipe é sem dúvida maravilhoso, em vários aspetos diga-se de passagem.

Falamos de tudo um pouco enquanto comíamos. Do meu curso, de como me estava a adaptar a tudo, de família, de amigos, do Benfica, da carreira dele até agora, dos companheiros e jogadores, de música, filmes, séries, livros. Ele é simplesmente fantástico.

Depois de o ajudar com os pratos e com a cozinha, sentamo-nos no sofá e começamos a ver um programa bastante aleatório que estava a dar na MTV, o qual ele estava a adorar. Tentei roubar-lhe o comando para mudar de canal, queria ver Friends que dá sempre àquela hora, mas rapidamente a minha tentativa falhou e dei por mim presa pelo braço direito dele. Tentei fazer-lhe cócegas para ele me largar, mas mais uma vez foi uma tentativa falhada. Acabei por ser eu a sofrer um ataque de cócegas e a ficar estendida no chão da sala com o Horta a lamber-me.

-Tréguas! – Gritei eu entre um ataque de riso por causa das cócegas. – Por favor! Não aguento mais João Filipe!

Ele parou:

-João Filipe? Nah, só a minha mãe me pode chamar isso! Prepara-te porque vais morrer.

Ao dizer isto as cócegas voltam.

- Oh... meu... Deus! Por favor paraaaa, eu faço qualquer coisa, só para!

Ele parou novamente:

-Qualquer coisa? Tornou-se tentador.

-Sim, qualquer coisa!

Ajudou-me a levantar e puxou-me para o colo dele. Percebi que estava de vestido nesse momento, e que o mais provável era ele já ter visto as minhas cuecas umas quantas vezes por causa de literalmente ter estado a rebolar no chão uns segundos antes. Senti a minha cara a corar.

-Hmm, para a semana são os Galardões Cosme Damião. Podemos levar uma acompanhante e eu estou farto de ir sem ninguém. Eu juro que até te compro um vestido se não tiveres nada à mão.

-'Tás a gozar, Jota??

-O quê? Não queres ir? Tu disseste que eu podia escolher qualquer coisa, então tu te...

-É claro que eu quero ir! – Com o grito que dei aposto que nos ouviram do outro lado da estrada. Abracei-o com imensa força e ele retribuiu o abraço.

Quando nos afastamos ambos estávamos a sorrir e foi inevitável as nossas caras não estarem próximas. Senti a mão dele a afastar o cabelo que tinha a tapar-me os olhos e o olhar dele em cima de cada pormenor do meu rosto. Eu sabia perfeitamente o que ia acontecer depois disso. Sabia que em segundos nos íamos beijar e a ideia fascinava-me mas ao mesmo tempo deixava-me com medo. Não seria muito cedo para isso? Não me iria eu arrepender disso num futuro próximo. Enquanto estas perguntas soavam na minha cabeça e os segundos pareciam minutos, o espaço entre nós só encurtava. Sentia a respiração dele tão próxima. A minha mão estava encostada ao peito dele e senti o coração dele acelerar antes de os lábios dele se colarem nos meus. Eu estava a beijar o Jota Filipe. Não consigo descrever o que sentia naquele momento. Não consigo dizer o quão bons aqueles segundos foram. Durou pouco porque alguém tocou à campainha. Afastamo-nos e ele levantou-se para ir abrir a porta. Ouviu sussurrar um "Foda-se" mas não percebi bem o porquê no momento. Através da porta entra o João Félix, quando eu o vi pensei ser o meu dia de sorte, seguido dele uma rapariga um pouco mais baixa que eu com o cabelo castanho curto, ondulado e uma franja que quase lhe tapava os olhos.

O João apresentou-me ao Félix como ''Uma grande benfiquista, imensamente tua fã, e bem, de todos os outros, que por acaso vive mesmo ali à frente. Bastante gira, eu sei, não olhes muito por favor". Corei e cumprimentei o jogador. Percebi que tinham combinado ir ao ginásio dentro de uma hora e como queria fazer uma paragem antes apareceu para o buscar um pouco mais cedo. Fui também apresentada à rapariga, Sofia era o nome dela. Depois de o saber apercebi-me que não ia gostar dela, não perguntem, mas não conheço nenhuma Sofia que seja boa peça. Reparei que o Jota não a cumprimentou e evitou contacto visual com ela, o meu sexto sentido indicou-me que algo ali se tinha passado. Não fiz perguntas, despedi-me dos três com dois beijos na cara e um pequeno abraço ao Jota, e fui para casa.

Depois de atravessar o corredor e entrar em casa, abri o computador e liguei à Margarida por Skype, precisava de a ver e de lhe contar todos os pequenos pormenores dos meus últimos dias.

tão perto, mas tão longeOnde histórias criam vida. Descubra agora