tão perto, mas tão longe

Capítulo VI

Guida

-Portanto a vida em Lisboa tornou-se mais agitada do que o que pensávamos. - depois de ter ouvido ao pormenor e visto o sorriso da minha amiga no ecrã do computador percebo que de facto a visita à capital vai ter de acontecer, não posso perder estes acontecimentos nem a chance de me dar com alguém do plantel encarnado. 

-Sim Guidinha, mas a do Porto não está mais calma, correto? Não é todos os dias que entramos para a família Silva. 

-A minha felicidade para te ver este fim de semana está rasca, só de imaginar as tuas boquinhas e planos de casamento... já te disse que estou confusa.

-Se te levar a ver o jogo desta semana dás-me permissão para boquinhas?

Okay, ela conhece-me:
-Posso concordar, só não as mandes em público, em frente aos rapazes.

-Temos acordo, vou comprar os bilhetes.

-Mas e a surpresa de que me falaste?

-Qual é a parte 'surpresa' que não percebes, Margarida?

E desligou. Esta rapariga deixa-me sem paciência. Vou mesmo ter de esperar até lá? 

*bzz bzz* Nova mensagem, Afonso: Vais ignorar-me até quando? 

Já percebeu? Se calhar 4 chamadas ignoradas e 7 mensagens vistas fizeram-no perceber.

Nova mensagem, Afonso: Se é assim temos de falar sobre o que aconteceu. Posso ir aí? 

Bom, mais tarde ou mais cedo tens de lhe falar, e vais a Lisboa com ele, o que pensas fazer até lá? Vou deixá-lo vir, só não tenho ideia do que tenho para lhe dizer. 

Desculpa, podes aparecer, hoje nem vou sair. - Mensagem Vista

Nova mensagem, Afonso: Contava com essa resposta, vou já subir.

Confiante este Afonso. Poucos segundos levaram até o ter à porta de minha casa. Olhamos nos olhos um do outro e por momentos um silêncio constrangedor e um não saber o que fazer ou dizer pairavam na sala. Até que o silêncio foi quebrado por ele. Emitiu um som, não me lembro qual, estava demasiado ocupada a ver o meu corpo a aproximar-se dele para o beijar de novo. Foi um impulso mas foi um impulso pensado, era o que eu queria no momento. Depois disto nada foi preciso ser dito, foi como se todas as dúvidas e razões que me tinham levado a afastar e pensar e que o tinham levado a querer conversar tivessem todas sido esclarecidas com aquele simples gesto. Quando nos afastamos vi o sorriso dele, nada nunca tinha parecido tão correto.

Marisa

Não consigo simplesmente parar de pensar no Jota, e principalmente naquela miúda que entrou com o Félix, a Sofia. Não foi só o nome dela que me provocou uma certa dúvida quanto ela, foi também a mudança repentina do J quanto ela entrou, da forma como a evitou. Tiveram algo e não sei até que ponto isso pode ser mau para mim, mas... não sei. Tirar isto a limpo com ele, confrontá-lo pode não ser a melhor opção, mas é a única que tenho...

*knoc knoc* 

Corro para a porta, e o sentimento de desilusão cresceu em mim quando não vejo o sorriso do meu novo avançado favorito do outro lado, e noto que o Hugo reparou na minha mudança de expressão facial:

-Uau, de facto ficaste contente por me ver.

-Não é isso - sorri envergonhada - não sabia que estavas de volta, não contava que fosses tu.

-Mas contavas que fosse alguém, e pelo sorriso não era um alguém qualquer, certo? Uma pessoa vai ao norte e volta e tu trocas logo a minha companhia pela de outra pessoa, e eu até vim mais cedo!

-Se me tivesses dito que o cão que está sempre a ladrar é do João Pedro Neves Filipe, talvez até te tivesse trocado mais cedo! 

-Portanto, tens coisas para me contar, mas antes, caso não tenhas já planos com o sr. futebolista, este fim de semana os meus primos vão fazer-me uma pequena visita e achei que podias vir almoçar connosco.

-Posso! Quer dizer, a Margarida vem ver-me mas ela não se importa de certo. Desde que não interfira na minha tarde de sábado, está reservada para o meu Benfica.

Sábado

A Guida chega a qualquer momento, o Jota como tem jogo já não está cá para a ver logo, mas depois do jogo prometeu que vinha ter connosco. Foi ele quem nos arranjou os bilhetes, em ótimos lugares, tão perto do relvado.

Nova mensagem, Hugo: Dei aos meus primos o número do teu apartamento, assim toda a gente se apresenta e se conhece, dá-me 1minuto e eu vou já para aí.

Nem 1 minuto foi preciso, não faço ideia do porquê de ter enviado mensagem, podia ter dito aquilo quando entrasse pela porta enquanto me abraçava. 

Nova mensagem, Guidinha: Estamos a subir ;)

*plim* o telemóvel do Hugo também tocou

-Os meus primos estão a subir.

Talvez tenham vindo no mesmo comboio, ou simplesmente se tenham encontrado na entrada e partilhado o elevador. Coincidências estranhas.

Batem à porta.

Vou abrir.

Vejo a Margarida sorridente, um Afonso sorridente, mas não consigo acreditar ao ver a outra pessoa sorridente que está em cima do meu tapete de entrada. Parece que o Hugo é um Silva também.