Quase nada funcionava direito naquela escola custeada (e abandonada) pelo estado. Fossem as carteiras velhas e bambas, o laboratório defasado, os livros cheios de traças da biblioteca, a péssima comida do refeitório e os armários arregaçados. Por isso foi uma verdadeira surpresa para Dora quando ouviu que as câmeras pelo jeito funcionavam muito bem, ao contrário de todo o resto, mesmo que nunca fossem checadas.
E jamais seriam se os malditos pais de Acey não tivessem solicitado as filmagens, estes que se não fosse a pedido da diretora continuariam a gritar na sua cara e exigirem o telefone de seus responsáveis. Teria respondido que não tinha responsável nenhum, e que poderiam enfiar o processo naquele lugar em particular, sorte que a Sra.Jones pediu por silêncio e calma no momento, coisa que ninguém tinha naquele instante.
Dora não queria que ligassem para sua mãe, foi o que mais temia naquele momento na diretoria, mais do que o olhar vingativo do babaca do Matt ou as ameaças de seus pais quanto a um processo. Porém a chamaram, e Dora torceu para que Caroline fosse a mãe relapsa de sempre e simplesmente não viesse, mas não foi o que aconteceu.
Foi inevitável seu encolher de ombros quando a figura da mulher apareceu de maquiagem feita às pressas, cabelo desarrumado e andando levemente cambaleante sem saber se por conta dos saltos ou se pela bebida – Dora não duvidava que fossem os dois. Num primeiro momento a mãe apenas berrou em sua direção, puxando sua orelha como se fosse uma criança e questionando de forma escandalosa que tipo de merda Eudora tinha na cabeça para fazer essa idiotice, usando exatamente essas palavras. A garota não retrucou, coisa que raramente fazia, apenas olhava dos pais de Matt Acey para a Sra.Jones de maneira repetitiva, detestando o olhar de horror que lançavam para ela e sua mãe. Nunca viram uma família disfuncional antes seus imbecis? Era o que queria dizer, mas quando Caroline parou de insultá-la no meio daquela plateia, começou a se dirigir de dedo apontado aos pais de Matt que segurava o riso feito o imbecil que era.
Mas quem riu dessa vez foi Dora, onde enfim pensou que a presença de sua mãe naquele momento não era tão ruim assim. Claro que Caroline podia ser um tanto escandalosa, mas sempre conseguia o que queria por sua teimosia, e não deixaria que a filha tivesse o mesmo destino que o imbecil de seu pai. Se Dora havia entrado naquela sala imaginando que seria levada direto para o reformatório, dona Caroline Allerton havia sido a maior advogada que poderia pedir ao conseguir no lugar duas semanas de suspenção e pagar a reforma do carro de Matt.
Mas nem tudo eram flores, se é que aquilo tudo manchando seu já decadente currículo poderia ser chamado de flor.
– Você vai pagar aquele carro maldito com seu dinheiro, não vou dar um centavo pros seus erros. – Caroline disse mais tarde fora da escola, lhe apontando com o cigarro que exalava fumaça. – E é melhor fazer bastante hora extra, sua merreca de salário não serve nem para pagar nosso papel higiênico.
– Já estava esperando por isso. – Dora respondeu franzindo os lábios e revirando os olhos, encarando de soslaio a mãe que procurava o celular na bolsa de marca falsificada. Não sabia se agradecia por ela ter vindo e a ajudado, pois uma parte sua dizia que não era mais que a obrigação dela de mãe, enquanto outra parecia tentar encontrar alguma espécie de afeição a justificar aquele ato. Quando não estava discutindo com sua mãe, acabava não saber o que fazer no lugar. – Valeu por ter vindo mesmo assim.
Caroline não parou de digitar sua mensagem. Só a olhando com os olhos azuis vibrantes após alguns segundos, dando um sorriso solene e jogando o resto do cigarro no chão e pisando com o salto.
– Só pare de se meter em encrenca docinho. Mas agora você sabe que tenho de voltar pro trabalho antes que meu chefe imbecil note, se vira com essa papelada. – Disse a mãe apertando sua bochecha como uma tia grudenta. Eudora franziu as sobrancelhas e massageou a pele beliscada, vendo-a andar até o carro sucateado que tinham e saindo quase batendo nos outros veículos estacionados durante o trajeto.
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Calmaria Rebelde
Novela JuvenilEudora Allerton é o que se pode chamar de garota problema, com chances de ser levada a um reformatório se fosse expulsa da terceira escola num período de dois anos. Tentando mudar seu destino cheio de fracassos, resolveu se dedicar a um grupo de ref...