- Skye, despacha-te! Já estamos atrasados! - gritou o meu pai num tom ansioso.
- Já vou pai, só me falta calçar!
Assim que me calcei, peguei na mala e desci as escadas rapidamente antes que o meu pai começasse a gritar ainda mais. Ele pegou nas chaves do carro e saímos disparados de casa.
Estávamos no carro, a caminho do aeroporto, e para variar o meu pai tinha o ar condicionado no máximo. Parecia que os meus ossos estavam a congelar lentamente. Nenhum de nós tinha dito uma única palavra, desde que tínhamos saído de casa, então decidi ligar o rádio, mas não estava a dar nada de jeito. Estava cheia de sono, pois estou habituada a acordar por volta das duas da tarde, e ainda pouco passavam das dez, mas como o meu pai me tinha pedido que fosse ao aeroporto com ele, não fui capaz de dizer que não.
Nestes últimos dias o meu pai tinha andado mais alegre, do que o costume, pois o tio Isaac chegava hoje de Nova Iorque, e eles já não se viam há anos. Eu já não me lembrara do tio Isaac, a última vez que o vi, segundo o meu pai, devia ter os meus 4 anos. Por volta dessa altura, depois da minha mãe nos ter abandonado, mudámos-nos para a Flórida pois o meu pai queria esquecer todas as más recordações que Nova Iorque nos trazia, e começar do zero pareceu-lhe uma boa opção.
Tínhamos acabado de chegar ao aeroporto e estávamos na fila para o parque de estacionamento. É incrível a quantidade de vezes que o meu pai para o carro longe o suficiente, para ter que se levantar do banco e esticar-se todo até conseguir clicar no botão, para tirar o cartão do parque. O meu pai estacionou rapidamente, no primeiro lugar que lhe apareceu e entrou no aeroporto numa correria total. Fui verificar o painel de voos e o avião, que vinha de Nova Iorque, já tinha aterrado. Ainda esperámos uma meia hora, até que, por fim, eles apareceram. O meu pai começou logo a acenar como se fosse um náufrago, à procura de atenção.
- Alexander, há quanto tempo!
- Isaac, que saudades! Olhem-me só para estes rapazes, estão tão crescidos! A última vez que vos vi, ainda andavam de fraldas. - disse o meu pai elogiando o Nash e o Kyle.
- Alexander, este é o meu sobrinho Lucas. Os pais dele foram trabalhar para Inglaterra e não o puderam levar, ele agora está comigo.
Eu já não via o Nash e o Kyle desde que éramos crianças e andávamos cheios de nódoas negras nas pernas. O Nash foi o que mudara mais, comparado com as fotos que temos lá em casa. Ele veio na minha direção e o Kyle e o Lucas atrás.
- Olá Skye, lembraste de mim? Costumávamos brincar juntos, quando éramos pequenos.
- Nós devíamos ter uns 4 anos, não me lembro muito bem. - disse eu envergonhada.
Fiquei uns minutos a observá-lo surrateiramente, enquanto ele mexia no telemóvel. Conseguia sentir o cheiro do seu perfume e reparei que tinha uma madeixa loira no cabelo. Era bastante atraente até.
- Olá Skye, eu sou o Kyle.
- E eu o Lucas.
- Olá rapazes. Ele é sempre assim? - perguntei eu, referindo-me ao Nash.
- Basicamente, sim. Está sempre agarrado ao telemóvel. - disse o Lucas.
- Meninos, vamos andando para o carro?
Estava a ver que nunca mais íamos embora, ao tempo que estávamos ali, por momentos, pensei que o meu pai queria lá ficar a dormir.
Caminhávamos em direção ao carro, até que eu me apercebi de uma coisa... como é que vamos caber todos no carro?
- Pai! Não vamos caber todos no carro...
- Mas... como é que eu não me lembrei disso?! Estava com tanta pressa que me esqueci disso completamente.
- Deixa estar, eu vou de autocarro.
- Eu vou com ela! - disse o Lucas num tom apressado.
- Está bem. Então eu levo as malas do Lucas no meu carro e encontramos-nos em casa.
- Ok.
Eu e o Lucas fomos andando em direção à paragem de autocarros e ficámos há espera uns 15 minutos. Estava tanto calor que a única coisa que eu desejava naquele momento, era que o autocarro chegasse. Entrámos no autocarro e sentámos-nos nos lugares do fundo. Tirei o meu telemóvel do bolso, pus os fones e desliguei-me do mundo por uns instantes.
