Carmen Tercena voltava para o seu apartamento, exausta com o dia cheio que tivera. Andava pelas ruas sozinha, passando pelos habitantes da Freguesia do Ó, ocasionalmente por casais felizes, que se beijavam. Ela observava e suspirava, frustrada. Todos no mundo falavam sobre amor, através de poemas, músicas, livros... mas, ela nunca havia experimentado tal sentimento.
Em suas mãos, levava um livro chamado "O Tempo Não Para", escrito por um tal de "Teotônio Sabino Machado", que vivera no século XIX. Emprestara da biblioteca a alguns dias só para passar o tempo, mas alguma coisa nele a encantava, não sabia o que. A forma como a história era contada, ela sentia como se conhecesse o escritor, como se fosse íntima dele. Além da protagonista ter o seu nome, havia um romance entre uma mulher moderna e um homem antigo, que tinham suas desavenças mas sempre deixavam o amor falar mais alto. Aquela era uma coisa que nunca aconteceria com ela.
Entrou em casa, indo diretamente para o quarto, para guardar as suas coisas. Mas, para a sua surpresa, havia um homem deitado em sua cama. Carmen dá um grito de susto, o acordando.
_Ahn... Carmen? Você gritou, o que ocorre? Sente-se bem? - Dom Sabino se preocupa, vendo o olhar assustado dela, supondo que era a Carmen que o conhecia.
_Quem é senhor e como entrou aqui? Saia já da minha cama!! - Ela exclama.
_Mas... minha querida, não está me reconhecendo? - Ele se levanta, preocupado, olhando em seus olhos e encontrando um vazio estranho. Estavam distantes, como se todo o amor que demonstrava sempre pelo olhar tivesse desaparecido em instantes.
_Você só pode estar bêbado, fora daqui!! Vamos, saia!! Xô!! - Ela diz ao "invasor", pegando um travesseiro e jogando nele, em seguida outro e mais outro, até que Sabino desvia e pega em suas mãos.
_Carmen, sou eu! Por obséquio, lembre-se de mim!
_Eu não te dei essa intimidade! - Ela responde, ríspida, puxando as mãos de volta.
_Homessa, o que aconteceu com você? Diga que se lembra! Eu imploro! Sou eu, o seu companheiro, Teotônio Augusto Sabino Machado, Dom Sabino! - Nesse instante, um brilho surge nos olhos de Carmen.
_Teotônio Sabino Machado...? O mesmo nome do autor do livro que estou lendo... - Ela diz, logo se virando - Não, isso é bobagem. Ele está morto desde o século XIX e o senhor está maluco!
_Livro? Mas, que livro é este, Carmen? - Ela dá o exemplar para ele, que folheia, desesperado. Segundo o que lia, havia sido ele quem tinha escrito. Mas, não escrevera nada. A data... 1890. Nunca viveu nesse ano, pois tinha sido congelado... E se... Não, não pode ser. A realidade não pode ter mudado assim.
_Como o senhor sabe o meu nome? - Ela pergunta, mas Sabino mal ouve. Sua cabeça estava repleta de indagações. E se ele não tivesse viajado? E se aquela Carmen não o conhecia de fato, porque ele nunca tinha congelado?
_Carmen, você pode não acreditar em mim. Achar tudo um absurdo, irei entender. Mas, o escritor do livro sou eu! Não exatamente eu, mas uma versão de mim que não era pra existir!
_Eu disse que o senhor está completamente maluco, quer que eu ligue para alguém da sua família?
_Não existe ninguém da minha família! Estão todos mortos, em 1886! E não deveriam! - Ele exclama. Sabia que assim seria difícil de convencer Carmen de que estava dizendo a verdade, mas o que poderia fazer? - A minha família aqui é você! Você... a minha Carmen voltará em breve.
_Descobri o seu problema - Diz Carmen, colocando a mão sobre a testa do homem - É a febre que está fazendo você delirar. Você quer alguma coisa, uma compressa pra melhorar?
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Túnel do Tempo - Carmino
FanficA empresária Carmen Tercena teve a sua vida mudada desde o aparecimento dos chamados "congelados", principalmente de Dom Sabino Machado. Por mais que tentasse se afastar, o homem do século XIX não saia de seus pensamentos. Ele, por sua vez, afogava...