Realidade alternativa - Parte 3

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Carmen segue observando escondida a movimentação na antiga fazenda de Dom Sabino. Percebia quem realmente estava triste com a sua morte e quem estava ali apenas para tirar proveito da situação ou para se exibir. Toda aquela situação estava a deixando com nauseas, aqueles urubus que ficavam rondando o seu Sabino... aquilo tudo não era pra estar acontecendo. Sentia revolta, angustia e ao mesmo tempo, inútil.

Passou mais algumas horas naquela posição e nada mudava. Não queria, mas começava a perder as esperanças. As pessoas começavam a sair da fazenda, o céu começava a dar indícios de que iria ficar escuro. No dia seguinte tinha certeza de que o corpo de Dom Sabino terminaria de ser velado e o seu enterro aconteceria.

"É Carmen... você está sozinha nessa... Novamente sozinha..." - Ela reflete em voz alta, começando a caminhar sem rumo, até que se encontra na porta da fazenda. A empresária sente olhares desconhecidos sobre a sua pessoa, cochichos, mexericos... "Os boatos eram de fato reais. Dom Sabino tinha uma amásia", dizia um fazendeiro. "Essa concubina não sente vergonha, não?", ela ouvia dizerem. Mas, não se importava. Chegou ao local onde Sabino estava sendo velado e não sairia de seu lado de forma alguma. Nem que a expulssassem, ela retornaria.

Carmen toca levemente uma de suas mãos, frias como pedra, e observa o seu rosto gélido e sem expressão, como se estivesse congelado. Deposita um pequeno beijo em sua testa, preferindo pensar que estava apenas em um sono profundo, novamente congelado.

Ela sente alguém tocar o seu ombro e se vira, reparando que era Marocas.

_Senhora... não é de bom tom presenciar uma cerimônia dessas. Se meu pai estivesse vivo, iria querer evitar o falatório.

_Seu pai está vivo... - ela se esforça para responder. - E iria querer que eu permanecesse ao seu lado.

Marocas se assusta com a rispidez de Carmen e se afasta sem dizer mais nada. A empresária volta novamente o seu olhar para Dom Sabino, até que sente outra vez uma mão em seu ombro, logo um sussurro em seu ouvido.

_A senhora quer quanto para sair do lado do leito de morte de Dom Sabino Machado? Está afetando o que deve ser uma cerimônia respeitosa. - Dizia uma voz asquerosa.

_Afaste-se de mim! - Exclama Carmen.

_Ora ora, uma mulher querendo me peitar... você não passa de uma devassa, ponha-se no seu lugar. Ou eu mesmo posso por... - Ele segura o braço de Carmen, que pela primeira vez sente medo. Mas, não iria abaixar a cabeça para nenhum senhor do século XIX.

_Ponha-se o senhor em seu lugar. Conheço Dom Sabino o suficiente para saber que ele não seria capaz de fazer amizades com tipos como você, que bem sei que só querem se aproveitar da situação. E eu não vou arredar o pé do lado dele! - Diz Carmen, com firmeza e coragem, vendo o homem se afastar, apesar de continuar a encarando com desprezo. Só conseguia sentir nojo.

Algum tempo depois, Marocas retorna.

_Senhora...?

_Carmen.

_Isso, senhora Carmen, estava tentando me lembrar de seu nome... Não se move a horas, a quanto tempo não come nada?

_Devo confessar que a mais de vinte e quatro horas. - Responde Carmen, percebendo que seu estômago roncava.

_Aceite meu convite, descanse. Preparei uma pequena refeição para minhas irmãs, se quiser se alimentar um pouco... - Ela pensa em recusar, mas sua fraqueza e fome falavam mais alto. Se retira do local por um instante, jurando retornar o mais breve possível.

Marocas conduz Carmen até o local da refeição e ambas acabam tendo uma surpresa: no centro dos pratos havia um vaso repleto de rosas colombianas.

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⏰ Última atualização: Jun 13, 2019 ⏰

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