<20h30>
|San José|
-Nem acredito que já vejo San José à distância! - desabafa Catarina claramente desgastada pelos quilómetros de condução que tem em cima. Hoje era o dia dela, amanhã é o meu, daí não termos já trocado de lugar.
-Já fizemos viagens bem mais longas ahah. - admira-se Miró, meio a dormir. Expliquem-me como é que passou o dia inteiro com sono porque eu juro que não entendo ahahah, pensava que ele tinha tido tempo de dormir em casa.
-Pois. Mas atrás do volante é diferente!
-Especialmente com o cansaço de surfar em cima não é verdade Dona?? - desmascaro-a sabendo muito bem a real causa do seu estado.
-Não sei do que falas... Até pode ser, mas valeu mais que a pena! - atreve-se a descarada a dizer.
-Vá, preciso que me dês o nome do hotel para o colocar no GPS.
-Ah pois, até porque temos de ir deixar as malas e trocar de roupa para então jantarmos num restaurante local asiático.
-Sim, estarmos em viagem não serve de desculpa para não comermos o combinado! Mas fogo, não podemos ir com esta roupa Miró?? Nem está suja, passou o dia dentro de um carro...
-Quanto a ti não sei, mas eu cá faço questão de estar todo bem arranjadinho para ver se engato um boy todo jeitoso.
-Chato... - digo fazendo um funeral mental à roupa que trago no corpo - O nome, Cath.
-Hum? - diz esta ainda sem desviar o olhar da estrada. E também não comentara nada sobre o facto de ainda se ter de arranjar para jantar...
-Catarina. Diz-me que reservaste quarto nalgum hostel, por favor. Ou que pelo menos viste uma possibilidade. - Imploro fechando os olhos, numa tentativa de que a verdade doesse menos à minha pobre pessoa.
-Ahhh pooois... Dormir. No meio de tanta coisa esqueci-me que tinha de o fazer... Mas não se preocupem! Não há de ser assim tão complicado encontrar um.
-Claro que é complicado! Estamos em San José! - pausa dramática por parte de Miró - Não posso dormir mais horas neste banco.
-Passa pró da frente. - digo, encostando a cabeça à janela já fresca do carro, sem intensões de ceder a vista que tinha sob a cidade noturna.
Acho que a verdadeira alma de uma cidade está na noite. Só no escuro sabemos se nos sentimos realmente seguros num lugar e só no escuro conseguimos tocar a face da cidade, despejada de todo o barulho que normalmente a esconde e se faz passar por ela. Claro, o mundo é feito pelas pessoas, e também elas são parte da essência que nele entranha, mas não só. Seria ingrato visitar e julgar um lugar com base apenas no dia, ou noite, ignorando a outra parte de que tudo é feito. Luz e escuridão. Bondade e maldade. Passado e futuro. Vida e morte.
Ainda à entrada da segunda tentativa de hospedagem, sim, segunda, Miró desiste finalmente da ideia surrealista de se conseguir aperaltar antes de jantar, e implora por comida.
Pois, é muito bonito exigir algo aos outros da qual nós próprios não somos capazes. Não estou a diminuir o Miró, mas a verdade é que o facto de ser meu melhor amigo não me impede de ver os defeitos que ele, tal como eu, tem. Aliás, ser-se amigo de alguém, a meu ver, implica dizer-lhes as verdades e abrir-lhes os olhos, ajudá-los a manter os pés na terra, porque se os teus amigos não te são sinceros e não contribuem para te melhorar enquanto pessoa... Bem lhes podes dizer adeus, porque falta não te fazem.
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Humboldt | Crisis
Teen FictionTrês jovens adultos durante um gap year. Nada de especial, certo? Era o que todos pensávamos. "Precisamos de nos aventurar mais malta!" exclama Catarina para mim e Miró. Pois bem, o meu nome é Noa e passei aqui para vos dar SPOILER!! (o quê?? nãa...