capítulo 1

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Esta é a minha história. Ela é composta por felicidade e por tristeza, porque uma não existe a outra.

Ela também é composta – e principalmente – sobre bondade.

A bondade é presente em um olhar, quando optamos ver o diferente como um igual.  A bondade de saber dizer palavras gigantes na hora certa: adeus, te amo, você é importante, você é belo.

A bondade presente naquele momento raro em que engolimos uma ofensa, em seu lugar entregamos uma flor.

Eu sempre adorei flores, principalmente rosas, mas nem sempre aquelas que tentam se proteger com os seus espinhos – elas lembram de mim – As coisas e as pessoas que amamos não estão do nosso lado em todos os momentos; as vezes caminhamos sobre muitas pedras descalços sozinhos. E mesmo que algumas pessoas estejam do nosso lado, a caminhada é no fim das contas uma coisa pessoal.

Quero dizer que apenas nós mesmos somos capazes de realmente compreender a pior parte de cada uma das grandes e pequenas dores que enfrentamos.

Eu tive que conviver com a solidão por muito tempo, mesmo quando não estava sozinha assim. Ser diferente é algo solitário.

Ter pessoas que ajudem é sim, muito bom, e esta história apresentará várias flores raras que desabrocharam em meu jardim.

É meu desabrochar. Eu nasci um ramo de espinhos que contém veneno, querendo ser uma flor. E cada espinho em mim doeu desde do primeiro instante. A única que conseguiu me tocar, e fazer carinho, hoje ela foi caminhar pelo céu e não volta mais.

Para mim ela nunca foi embora, mas eu consegui sair de um lugar e seguir meu caminho. Sempre junto à dor.

Cada um sente na pele a dor de ser quem é.

Comigo é literalmente isso que aconteceu.

Aprendi da forma mais cruel possível.

E, assim como ninguém nunca compreendeu com clareza minhas tristezas (apesar de alguns terem sido interesse e isso fez toda diferença), ninguém jamais entenderá a escolha o que a mamãe fez.

Ela morreu quando eu nasci. Ela deu sua vida pela minha – eu nunca aceitei isso de fato, era injusto para mim, mas de alguma forma aceitei essas palavras pois, coloquei na minha cabeça de que ela sabia uma hora ou outra ela iria embora.

Quando foi para o hospital com hemorragia, papai disse que mamãe não chorou. Ela estava resignada e havia feito uma escolha.

Eu sobreviver e ela não.

Sem nunca ter tido a chance de ver meus espinhos, ela amou cada um deles.
Ela amou seu pequeno príncipe feito de espinhos venenosos sem dúvida ou preconceito em si. Aquele Príncipe que furou o seu ventre e lhe tirou a vida que nunca pode olhar nos seus olhos e dizer "mamãe".

Meu pai, Park Yong, me contou várias vezes essa história que os exames da mamãe fez durante a gravidez estavam normais. Ela se cuidava e tinha uma boa saúde.

Ele fez questão de sempre me falar sobre o dia em que eu nasci e sobre o sacrifício que mamãe fizera. Não para me culpa (ele jamais iria fazer isso), mas porque nunca quis esconder o que mamãe fez por mim.

Embora, com tempo ele parou de falar sobre ela, era muito doloroso para ele e para seu coração que aguentasse de tanta dor que ele sentia sua falta.

Durante a gestação, mamãe cuidou muito bem da sua saúde, e da alimentação, fez caminhadas não muito pesadas, e sempre manteve o sorriso estampado no rosto. Papai sempre que contava essa história ele exibia um sorriso no rosto como se lembrasse que foi ontem.

Quando o destino quisesse que eles não seriam pais, desistiram da idéia, afinal eram felizes juntos sozinhos, como se completassem.

Na época, papai tinha ganhado um dinheiro de herança do vovô, cansados da cidade compraram um pequeno chalé no campo, poucos quilômetros da cidade.

O chalé eram rodeado de montanhas, campos cheio de flores com cheiros muito bons. Mamãe adorava esse campo.
Era uma casa pequena já que a herança do vovô era pouca entre os seus irmãos que dividiram. Papai era engenheiro e mamãe uma professora que dava aula para as crianças carentes.

Os dois sempre viviam em simplicidade, ainda mais quando compraram o chalé, parecia que sua felicidade estavam ali. Passavam os finais de semanas naquele lugar, papai cortava as madeiras para fazer lenha, e mamãe cuidava dos animais que compraram com o tempo – já que na cidade não permitia essa vida do campo.

Imagino muitas memórias criadas nesse lugar. Eu nem havia nascido e pareço ter lembranças dessa época. Calma e feliz.

Depois passaram meses e mamãe finalmente tinha engravidado quando menos eles esperavam. Ás férias do trabalho tinha acabado, mas eles iam sempre que pudesse nos finais de semana. Mamãe batia o pé no chão dizendo que esse lugar faria bem para o bebê. Pra mim.

Era noite de verão, ela estava tranquilamente em sua cadeira de balanço lendo um livro enquanto aquele vento de refrescância batia em seu rosto quando, sentiu algo quente e vermelho descendo em suas pernas.

Era sangue. Muito sangue.

Eu, apenas 6 meses vivendo dentro dela, fui capaz de matar minha própria mãe.

Papai pegou a mamãe colocou dentro do carro, e foram correndo pro hospital. Cada segundos passavam, papai olhava para a mamãe e via ela perdendo aquele sangue e cada perda, ficava mais pálida. Com lágrimas nos olhos, mandava ela aguentar firme, que já estava chegando.

Ela aguentou. Por mim e por ele.

Chegando no hospital, ainda deram tempo de me salvar, mas mamãe não era certeza, já estava a beira do desmaio.

Apesar de transfusão de sangue, mamãe não resistiu. Por.causa.de.mim.

Algo perfura seu útero e alguns órgãos abdominais.

Papai estava presente a todo momento na hora da cirurgia cesariana. Ele me disse que tinha desmaiado ao me ver ser tirado dentro da mamãe.

Ele não desmaiou completamente, toda luz do mundo se apagou, como se sua mente tivesse dando curto circuito e, por alguns instantes, ele não me ouviu meu choro e nem viu nada ao seu redor.

Eu parecia um monstro medonho saindo da barriga da mamãe.

Os médicos socorreram e tiraram ele dali, pois tinha que salvar Park Myung, minha mãe.

Depois de horas os médicos vieram das notícias ao meu pai.

— o que era aquilo que saiu dentro dela e o que olhe causou a hemorragia doutor?

Com aquele olhar confuso do doutor se perguntando a si mesmo respondeu:

— aquilo senhor, é o seu filho. Sinto muito mas sua esposa não resistiu. Sinto muito.

E foi assim que o mundo me deu boas-vindas.

Continua...

altruísmo • jikook [ HIATUS ]Onde histórias criam vida. Descubra agora