Capítulo 3: Realidade.

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Seco rapidamente a lágrima que escorre pelo meu rosto, e me levanto. Vou em direção ao banheiro para tomar um banho. Relaxo quando a água fervendo cobre meu corpo e por um segundo caio, me ajoelho e sinto tudo sair como uma onda e tudo vai com cada gota de água que entra no ralo. Cada maldita lembrança que desde cedo insiste em se passar pela minha cabeça, tudo, coloco tudo para fora.

Saio do banheiro e visto uma camisola de seda sem nada por baixo e volto para a sala e viro mais um copo de uísque, encosto minha cabeça na poltrona e fecho meus olhos, lembrando de momentos atrás, do que fiz com  Eliza e me sinto uma vadia sem coração, imagino como será amanhã, em como ela estará e isso só me fode. Ouço o interfone tocar e sei que é Jensen. Autorizo sua entrada.

- Querida cheguei. - Jen diz e eu apenas lhe olho. - Oh baby, não se preocupe papai chegou.

Minha pele se arrepia com essas palavras, e reviro os olhos, Jensen se aproxima e abre os braços para me abraçar apenas levanto meu pé o impedindo de fazer.

- Deveria usar outro tom de cor nas unhas dos pés, azul não combinou. - Diz enquanto morde a ponta do meu dedo, eu tomo mais um gole do meu uísque e o olho com toda a intensidade de tudo o que estou sentindo, ele se senta ao meu lado. - O que aconteceu? - Pergunta sério, Jensen sabe que eu não iria ligar as 2:00 am atoa, ele me conhece bem demais para isso.

Jensen possui tantos problemas quanto eu, fizemos faculdade de direito juntos e namoramos no ensino médio, ele estava lá quando passei por tudo e mais um pouco e eu estava lá quando nem ele estava. Somos dois fodidos, ele me entende e eu o entendo. Jensen é o típico garoto filho de papai e perfeito fisicamente, é alto 1;90, corpo atlético, cabelos loiros claros e olhos azuis. Tão rico quanto você possa imaginar e tão sem alma também. Fodidos em uma sociedade fodida, enxergamos as cordas mas ainda não podemos corta-las.

- Eliza, a feri. - Digo olhando para o lado e analisando sua roupa, calça preta jeans justas e uma blusa social vinho.

- Por que ?

- Precisava.

- Ela merecia ?

- Não.

- Por que então ?

- Perdi o controle Jensen, precisava recupera-lo. - Digo olhando em seus olhos e percebo a preocupação.

A 8 meses isso não acontecia, a 4 anos eu me controlei, mas a 8 meses venho perdendo o controle gradativamente e se isso continuar não quero imaginar onde irei parar.

- Savanna. - Jensen diz e suspira. - Quanto ?

- Ela teve que gritar para eu ouvir a palavra de segurança. Minha mente saiu. Pela segunda vez hoje.

- Qual foi a primeira ?

- Bart tentou me tocar, e eu lhe disse que se ele tentasse encostar as mãos em mim denovo o faria amar o diabo pôs eu seria bem pior que ele.

- Sá, algo volto, você estava bem, estávamos bem, acho que você chegou ao seu limite, isso não pode acontecer novamente nesse último ano foram quantos ? Antes de Eliza foi Charles certo ? E antes de Charles foi aquela garota Sarah ? Você acabou com ela- Pergunta e eu afirmo.

- Eu só perdi o controle. - Digo me sentindo culpada, era a terceira sessão de Sarah ela ainda estava se acostumando com as regras, deveria ter sido mais cautelosa.

- Você sabe que não podemos domar quando não temos total controle dos nossos sentimentos. Sá acho que seu limite chegou. - Jensen diz sério.

- Não posso Jen se eu abrir mão disso o que me sobra ? Nada Jen eu simplesmente não posso. Não sou nada sem ela. - Digo e ele assente.

Entrei para o mundo BDSM com 18 anos no meu primeiro ano de faculdade, foi quando conheci Maxwel. E por Deus se arrependimento matasse. Entrei como submissa, queria experimentar algo novo, algo diferente, queria sentir, estava cansada de todos os jogos, de toda manipulação, da fachada de família perfeita. Estava cansada de ter a "vida perfeita", e bom consegui.

Todos temos nossa fase de jovem rebelde, fazia tudo oposto ao que minha família achava correto, e nunca pensei que poderia terminar assim.

- Por que você não tenta voltar a ser sub... - Jensen começa a dizer mas o interrompo levantando rapidamente deixando o copo se estilhaçar no chão.

- Não ouse terminar essa frase. - Digo com os olhos em chama.

- Sério Savanna você precisa disso nós dois sabemos, você precisa de algo e até hoje apenas isso nos bastou. - Jensen diz se levantando novamente.

Minha cabeça é atormentada por imagens, flashs de lembranças:

"Estou a dois dias nesse quarto, dois dias com os braços amarrados acima da cabeça, todo meu corpo dói. Minha alma dói, tenho certeza que se tivesse uma ela doeria. Mas eu desobedeci, tenho que ser punida não ? Sim, eu desobedeci.

- Bonequinha. - Max diz ao se aproximar de mim e me beijar, ele não se importa de eu estar suja. Ele me beija forte, duro, fazendo meus lábios sangrarem. Ele me ama certo ? Sim, ele me ama.

-Bonequinha já entendeu que não pode fugir de mim ? - ele pergunta e apenas aceno, eu não posso por que ele me ama, certo ? - Pelo menos não viva bonequinha. - Max diz e sinto algo ser enfiado em minha cocha direita, minha perna sangra como minha alma. Max apenas sorri ao ver o sangue ir, e realmente é bonito. A última coisa que vejo antes de desmaiar é o sorriso no rosto de Max."

Não, não posso. Meu estômago se revira e eu inspiro e expiro rapidamente, meu pulmão queima a cada lufada de ar que consigo puxar. Minhas pernas estão fracas, minha visão embaçada. E ele conseguiu denovo ele está me controlando, mesmo não estando aqui ele consegue controlar meu corpo. A raiva em meu corpo transborda e eu avanço para cima de Jensen com todo o ódio que sinto. Soco seu lindo rosto e sorrio ao ver um filete de sangue escorrer por seu lábio. Eu controlo, o controle é meu e ninguém nunca mais vai me tirar ele. Jensen não revida apenas absorve cada soco que eu lhe dou. Minha raiva se vai a cada movimento que faço, meus joelhos fraquejam e eu vou para o chão, pela segunda vez em um mesmo dia. Jensen me acompanha.

- Eu não posso, denovo não. Tudo que tenho da última vez que não estive no controle está no meu corpo ainda, não posso, só não. - digo abaixando minha cabeça.

Jensen sobe as suas mãos pela minha perna e pousa na cicatriz que está lá. Ele pega meus pulsos e beija cada cicatriz feita pelas bitucas de cigarro que Maxwell apagou em mim. Jensen me abraça e sinto suas mãos em minhas costas passando a mão por cada fina cicatriz dos corte que Max deixou. Meu corpo todo se arrepia. E minha mente só vai para um lugar, Eliza. Ela terá as mesmas cicatrizes que eu. Eu me tornei quem mais odiei.

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⏰ Última atualização: Feb 27, 2020 ⏰

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