1- Koi No Yokan

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koi no yokan
(s.) a extraordinária sensação de
encontrar pela primeira vez
com alguém por quem você se
apaixonará um dia

Acho que, literalmente, tudo começou no dia 10 de maio de 1996 às 3 horas da madrugada quando nós dois nascemos. Eu às 3:00 e você às 3:20. Eu em Roanoke e você em São Francisco.  Acho que isso diz muito sobre nossos distintos sensos de responsabilidade. Eu cheguei às três em ponto e você se atrasou, como sempre.

De alguma forma, 6 anos mais tarde nós dois acabamos na mesma cidade: Southport, Carolina do Norte. E é lá, na escola primária, que eu tenho minha primeira lembrança de você.

Minha mãe costuma dizer que eu carregava em mim mais teimosia do que células nervosas. Talvez ela tivesse certa porque a pequena eu, sentada na mesa colorida da sala de aula de escola primária de Southport, tinha seus pequenos olhinhos cor de oliva estreitos numa carranca emburrada enquanto eu encarava o meu desenho completamente deformado.

Aquilo não fazia sentido. Na minha mente o desenho de uma princesa num castelo de guloseimas ficara extraordinário, mas no papel parecia apenas um monte de linhas tortas e borrões.

Então eu olhei para o lado, onde um garoto alto estava. A primeira coisa que percebi foi que ele tinha muito cabelo. Seus fios bagunçados parecia um ninho castanho claro sobre sua cabeça e eu realmente cogitei alertá-lo sobre a possibilidade de pássaros botarem ovos ali e fazerem do cabelo dele sua nova morada.

Tirando o fato do seu cabelo desgrenhados que realmente perturbou a minha eu de 6 anos, eu também percebi como ele tinha os olhos azuis mais azuis que eu já tinha visto. Uma pena que os fios de cabelo insistiam em cair sobre eles. O garoto estava dividido entre afastar as mechas castanhas de seu rosto e se concentrar em seu desenho.

Aquilo sim era um desenho.

Deus, ele era muito bom nisso.

Enquanto o meu parecia um grande lixo, o dele era realmente bonito. Era o homem aranha, desenhado e pintado de maneira delicada e caprichosa.

Ele percebeu como eu o encarava avidamente, então me olhou de maneira displicente e perguntou “o que foi?”.

— Como você desenha assim? — perguntei, com o tom ofendido por ele ser mais hábil que eu naquele quesito.

Lá estava minha arrogância florescendo. Mesmo que na infância, eu não aceitava que ninguém fosse melhor que eu. Avery Mackenzie deveria ser a primeira, em tudo.

— Com as mãos — respondeu ele, espertinho. Bufei, irritada.

— Mas você é bom — rebati, incrédula.

— E daí?

— E daí que todos sabem que meninos são uns imprestáveis.

Ele riu e eu fiquei brava porque eu falava muito sério e de maneira alguma eu parecia uma palhaça. Na verdade, eu nem mesmo era engraçada. Nunca fui.

— Eu posso te ensinar, se você quiser — disse ele, se endireitando.

— Acho bom mesmo.

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