Capitulo 2 - Despedida

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Liesel Meminger foi levada até uma sala, uma mulher conversou pacientemente com ela, fez-lhe algumas perguntas sobre a Rua Himmel, sobre os seus pais, os seus amigos — Liesel não conseguiu falar de Rudy, não queria imaginar o amigo morto — e, principalmente, se tinha algum conhecido vivo. Liesel só pensou em alguém.

Não levou muito tempo até encontrarem Ilsa Hermann, na margem do rio Amper, ela olhava fixamente para o meio da água, sorriu quando soube que Liesel tinha sobrevivido.

A partir daquele dia Liesel Meminger tornou-se a nova filha do prefeito.

Rudy Steiner manteve-se escondidos por dois dias, demasiado assustado para pensar em voltar para casa. Quando finalmente teve coragem de voltar não reconheceu o lugar.

*UM RETRATO DA RUA HIMMEL*

Não havia casas, não havia lojas, não existia mais a Rua Himmel. Era só um monte de entulho, escombros, uma bagunça. Os homens que limpavam tudo não notaram num rapaz loiro a segurar um ursinho de peluche a aproximar-se até ouvirem o seu choro.

— Menino! Menino! Quem és tu? — um homem aproximou-se, levantando Rudy — Como te chamas?

— O meu... nome? — Rudy estava confuso.

— Vamos rapaz — o homem levou-o até um canto e sentou-se, fazendo sinal para o outro fazer o mesmo — Moravas aqui?

— Aqui? Aqui ainda é a Rua Himmel? — os seus olhos percorriam todo o lugar que um dia fora seu lar, procurava algo que dizia que aquilo era mentira.

— Vem comigo — o homem levou-o até um prédio ali perto, uma mulher estava sentada a olhar para uns papeis — com licença, Andrea, esse menino apareceu lá na Himmel, toma conta dele, sim?— a mulher levantou os olhos e fez um sinal para se aproximarem — olha rapaz, eu tenho que ir mas esta senhora vai te ajudar, está bem? — Rudy fez que sim com a cabeça, o homem despediu-se bagunçando o cabelo do menor.

Rudy caminhou timidamente até a mulher e sentou-se.

— Como te chamas querido? — ela perguntou de um modo caloroso.

— Rudy Steiner — murmurou.

— Rudy, moravas na Rua Himmel? — ele fez que sim com a cabeça — Onde estavas no momento do bombardeamento?

Rudy fechou os olhos, para não chorar, e disse:

— Eu ouvi um barulho, achei que fosse outro avião que tivesse caído ali perto, eu segui o fumo por muito tempo, mas não achei nada, ouvi a sirene e as bombas quase ao mesmo tempo, pensei que estavam... Pensei que estivessem vivos.

— Eu sinto muito — e ela, de facto, sentia.

*CURIOSIDADE SOBRE ANDREA NEUMANN*

Ela sabia exatamente como Rudy Steiner se sentia. Também ela perdeu Adam, o seu único filho, não fazia muito tempo. Lembro-me de quando o tirei da mãe que fazia de tudo para salvá-lo do prédio em chamas. Preocupei-me de o carregar com carinho nos braços. Os outros poderiam esperar mais uns momentos porque ele merecia atenção. Ela fez de tudo para ajudar todos os sobreviventes de ataques a partir daquele dia. E teve um grande interesse num rapazinho loiro. Acho que sabemos quem é.

— O meu pai — Rudy falou, depois de uns minutos de silêncio — Ele... Ele está na guerra, a senhora por acaso sabe onde é que está?

— Desculpa Rudy, mas eu... não tenho informações do que está a acontecer por lá — ela percebeu que o rapaz ia começar a chorar — eu sei que isso não serve de consolo, mas, o meu marido também está lá, eu sei o que é que estás a sentir. Ele também é a única família que me resta. — Rudy passou a mão nos olhos — Mas tens que acreditar que ele está bem.

— Eu acreditei que a minha família e amigos estavam bem e eles morreram. Acho que Deus não se preocupa muito comigo. Deve achar que sou só mais um desses nazistas fanáticos, que eu não mereço nada.

*UM FATO DESAGRADÁVEL*

Alex Steiner não soube que um de seus filhos sobreviveu quando voltou para casa. Rudy voltaria para ver o túmulo do homem que se matou quando percebeu que estava sozinho.

— Isto é tudo culpa dele, do Führer, odeio-o, odeio o Hitler — Rudy praticamente gritou.

— Rudy! — ela repreendeu-o — Não podes dizer isso em voz alta, eles levariam-te! — No entanto, a senhora encostou a boca na orelha do rapaz e sussurrou — Eu também o odeio.

Os dois trocaram um olhar e depois um sorriso.

*UM FUTURO PERFEITO*

Um rapaz loiro foi adotado três dias depois. O seu pai voltou da guerra assim que recebeu a notícia da família morta. Andrea e Erik Neumann acharam melhor mudarem-se para os EUA com o seu filho adotivo. Alguns anos mais tarde voltariam para a Europa, mas morando na Inglaterra.

Rudy despediu-se da Rua Himmel antes de ir para os Estados Unidos, intimamente disse adeus aos irmãos e à mãe, sussurrou um até logo para o pai e chorou por Liesel Meminger.

How about a kiss Saumensch?Onde histórias criam vida. Descubra agora