22/08/2018

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A noite estava fria, mesmo dentro do hospital com o aquecedor ligado

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A noite estava fria, mesmo dentro do hospital com o aquecedor ligado. Não consigo esquecer da expressão de Louise. As lágrimas pesadas, o olhar pensativo, o queixo tremendo. Quando ela cruzou o corredor naquela noite acompanhada da enfermeira e com o mesmo vestido florido da última tarde, eu pude notar sua testa enrugada. O sorriso de agradecimento estava lá, claro. Ela não parava de falar enquanto sorria. Um sorriso nada contido, agradecido. Perfeito. Os olhos inchados tentaram roubar a cena, mas não conseguiram. O cabelo solto em ondas amassadas que saltavam conforme ela andava era brilhante. Nem notei quando as duas se aproximaram.


—Cuide bem dela, senhor. Qualquer sinal de dor de cabeça demasiada ou náuseas, retornem.—me disse enquanto passava a mão de Louise que estava segurando para a minha.


—Tudo bem. Obrigado. Tenha uma ótima noite.—respondi enquanto sentia a mão gelada da garota. As pernas descobertas com certeza seriam um problema.


Enquanto seguíamos até a saída, ela aparentava sentir ainda mais frio.


—Eu tenho agasalhos no carro.


—Não precisa. Obrigada. Sério. Você já fez tanto e eu estou de saída. Esse é meu número.—ela disse me entregando um papel—Você pode me ligar quando precisar de algum serviço. Eu sei limpar, passar, cozinhar, sou boa com crianças, mas agora não posso te retribuir em dinheiro.


Tentei interrompê-la, mas ela continuou:


—Eu sei que deve ter gastado um fortuna com tudo isso que eu causei, mas vou te pagar. Talvez demore um pouco, mas é isso. Eu sequer sei seu nome.

—Meu nome é Julian Draxler e como eu já disse, não precisa pagar nada. Eu posso  te levar pra casa , sem falar que seu carro não está aqui e preciso do seu endereço para mandá-lo.

—Não precisa se incomodar. É só me dizer onde ele está e eu vou até lá—sorriu, o nariz vermelho por conta do frio.

Quando percebi, já estava tirando o meu próprio moletom e colocando-o sobre seus ombros. Mesmo tentando recusar, eu fui mais rápido.

—Não vou te deixar aqui sozinha. Vamos, não vai me incomodar.

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Eu tinha certeza de que a palavra mais proferida por Draxler era "não"

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Eu tinha certeza de que a palavra mais proferida por Draxler era "não". mas, enquanto dirigia, não dizia nada, só olhava para a pista com atenção. É claro que não estou no meu melhor juízo, mas sei que ainda estamos longe da lanchonete. O relógio já marca mais de 20:00 e provavelmente ele vai chegar tarde se cumprir todo o trajeto. Ninguém mora perto de uma lanchonete rodoviária. Com certeza deve estar fazendo o caminho contrário ao de sua residência.

—Olha, mr. Draxler, eu posso pegar um ônibus daqui.—ele me olha pela primeira vez, um olhar nada amistoso. O cabelo bagunçado por causa do vento. 

Noto pela primeira vez seu corte de cabelo diferente. Uma linha quase no meio da cabeça, como um adolescente faria sem a permissão dos pais. 

—Eu já te disse que não vou deixar você ir sozinha.—sorriu— Eu não sou louco.

O sorriso irônico e debochado dele fez com que eu sentisse vontade de esmurrá-lo, mas seria muita ingratidão. Ele meio que me salvou. Sem falar que a sua última frase me fez lembrar de que eu não sei nada sobre ele e estou no seu carro seguindo o caminho para a rodoviária nada movimentada.

—Posso ligar o rádio?

—Pode.

—Tá. Obrigada.

Silêncio. Batuco os dedos no banco.

—Seu carro é bem bonito.

—É de um amigo.

—Desculpa. Eu não consigo ficar calada. Sou meio tagarela.—suspiro.

—Pode falar.

—Eu sei. Obrigada.

Silêncio.

—Você não fala como um nativo.

—Sou alemão.

Explicado.

—Não trabalha amanhã? Sério. Provavelmente vai chegar tarde em casa.

—Só tenho treino à tarde.

Desempregado, então.

—Sinto muito. As coisas estão difíceis. Eu posso te ajudar a conseguir algo na lanchonete.

—Como?

—Talvez a lanchonete precise de alguém para para cuidar dos carros dos clientes. Não pagam muito, mas já é um começo.

—Certo, mas e aí?

Rude.

—Nada.

—Eu jogo futebol, Louise. Profissionalmente. Não estou procurando emprego.

Outch.

—Uau.

—Não.—ele respondeu sério.

—Não  o quê?

—Não é grande coisa, se você  pensar bem.—volta a olhar pra frente.

—Eu limpo vômitos no banheiro de uma lanchonete de beira de estrada. É grande coisa.

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Por que eu digito travessões, publico o capítulo e aparecem hífens???????? Que raiva!

StehlächelnOnde histórias criam vida. Descubra agora