As Trevas de Lamor

Conversa na floresta

Mandei uma fada "Vocês estão mexendo com algo muito maior do que imaginam, se você realmente não acredita no que está acontecendo, você não devia participar disso". Ele acha estranho, percebe que fui eu e fica me observando. Eu vôo pra floresta, ele dá uma ordem ao lince, que vai para algum lugar dentro da cidade, e salta da muralha se transformando em lince também. Ele corre para dentro da floresta na mesma direção que eu segui. Eu pouso em uma árvore e uso as árvores para localizar os dois linces, aposto na sorte qual dos dois é ele e tento interceptá-lo.

Eu o encontro. Pouso em uma árvore perto de onde ele está e solto um pio para chamar sua atenção. Ele me localiza imediatamente, e durante longos segundos nenhum de nós se move. Nenhum dos dois está confiante o suficiente para tomar qualquer atitude, é possível ver que ambos estamos apreensivos e incertos sobre o que esse encontro realmente significa. Os meus instintos de sobrevivência me pedem para ir embora, e eu duvido se a minha atitude de me unir a ele foi sábia, mas tenho esperança de que ele possa ser um fator decisivo para o que está por vir. Sem tirar os olhos dos dele, eu começo a me transformar em elfa novamente, e ele imediatamente faz o mesmo. Agora, já não são mais dois animais selvagens que se encontram, mas duas criaturas que, de tão semelhantes, observam uma à outra em busca de suas diferenças.

Eu nunca havia chegado tão perto de um drow. Ao menos, não fora de uma batalha. Eu já havia ouvido alguns rumores à respeito da raça, mas são informações completamente vagas e nas quais eu não confio. Tudo que sei é que odeio dois deles e que eles não deveriam poder andar sob o sol. Fora isso, tudo são novidades, e me impressiono com as semelhanças sutis em nossa anatomia. Sua pele extremamente escura, com um tom arroxeado e seus olhos dourados semelhantes ao de um lince são as duas diferenças mais significativas. Seus cabelos são brancos e lisos, escorrendo pela cabeça, enquanto os meus são brancos e emaranhados, mas de maneira geral parecem diferir apenas graças aos nossos diferentes costumes. Ele tem uma postura hostil, mas seus olhos parecem tão curiosos quanto os meus, e ao mesmo tempo que ele me permite observá-lo, eu permito que ele me estude. Procuro por ferro em suas vestes e equipamentos, e o vejo apenas em detalhes funcionais. De modo geral, ele veste uma túnica que parece muito nobre em comparação às roupas dos humanos com quem estive nos últimos dias, e por cima dela uma armadura composta por diferentes couros, combinados de uma maneira que eu dedicaria mais tempo para estudar se não fossem as atuais circunstâncias.

Após esse longo hiato, ele volta a olhar em meus olhos e pergunta

(Eu lembro que foi ele que começou a falar, mas não lembro o que ele disse, vou continuar com o que eu consigo lembrar)

D: o que você quis dizer com aquilo?

E: O que vocês estão fazendo é algo muito maior do que apenas uma batalha. Eu não sei quais são as suas intenções, nem mesmo o quanto você sabe, mas se você realmente não concorda com o que está acontecendo, você não devia trilhar esse caminho.

D: Bem, a sua intuição está correta. Recentemente, não se sabe o motivo, os drows adquiriram a habilidade de andar sob a luz do sol, algo que é almejado pela minha raça há muito tempo, e que trará mudanças drásticas à maneira como o mundo é hoje. - Isso foi um choque para mim. Não consegui pensar em outro momento em que uma mudança tão grande como essa tivesse ocorrido, e não consegui imaginar que tipo de forças poderiam alterar a natureza de uma raça de maneira tão drástica.

E: Mas se você não concorda com o que estão fazendo, por que continua ao lado deles?

Eu seria caçado, tenho uma família grande

Por que vocês atacaram essa cidade?

500 almas vivas pro ritual

O peso daquelas palavras me atinge como um soco no estômago. Como alguém poderia trocar a vida de 500 pessoas apenas para engrandecer a si próprio? E então, outro pensamento me vem à mente, e um sinto meu rosto perder um pouco de cor com minha realização. Dois, dos três irmãos que nós conhecemos, já se transformaram....