Prelúdio

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Desde a estranha visão que tive de manhã, nada mais parece o mesmo. Não sei dizer se eu estou apenas projetando a minha inquietação na floresta, ou se ela realmente está tão inquieta quanto eu. De qualquer modo, seja no mundo ou apenas dentro de mim, algo está errado. A cada nova folha que vejo cair, um leve sussurro ecoa em minha mente sugerindo que talvez não volte a crescer outra no lugar daquela. Vagueio pela floresta procurando qualquer sinal que possa me indicar que aquela visão foi apenas um delírio, e apesar de nada estranho se destacar por entre as folhas, a angústia que aquelas imagens plantaram em mim só cresce a cada instante.


Um arauto da morte e da dor, que se ergue das trevas de um eclipse,

Dois fragmentos dourados, outrora forjados como uma só coroa,

Uma flecha de fogo que voa rompendo as trevas.


Uma profecia sobre o fim dos ciclos

Sobre o dia em que aquilo que é eterno findará

E aquilo que permanece nas sombras cobrirá o domínio do sol.


Eu caminho passando os dedos pelos troncos e pelas folhas, rezando para ter perdido a razão, mas em toda a minha vida, as árvores nunca pareceram tão inquietas. De repente, havia uma rachadura na serenidade constante que elas sempre demonstraram, e isso me assustava mais do que qualquer outra coisa que eu já tivesse visto ou sonhado. Foi esse sentimento de urgência, que poucas horas mais tarde me motivaria a tomar decisões que eu nunca teria cogitado em outras ocasiões, carregada pelo medo da profecia que havia se revelado a mim, imersa na esperança de poder impedi-la.

Enquanto eu caminhava, o sol subiu até o seu auge e iniciou sua lenta descida, alheio às preocupações daqueles que ele alimentava. E quando o céu já estava púrpuro acima da copa das árvores, me deparei com uma estrada, e nela, com viajantes.

As Trevas de LamorOnde histórias criam vida. Descubra agora