Carta

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" Eu nunca escrevi uma carta antes, então talvez esta fique um pouco caótica, mas eu queria lhe contar algumas coisas em que estive pensando.

Tenho ponderado muito sobre nossa conversa há alguns dias atrás.. eu tenho tantas dúvidas, tantas coisas que gostaria de lhe perguntar, mas te encontrar pelo simples desejo de conversar talvez seja um capricho arriscado demais em nossas posições, então decidi me contentar em lhe escrever uma carta, que talvez eu nunca lhe entregue, mas onde eu posso ao menos lhe contar o que o nosso contato me deixou.

Eu acho que finalmente entendo a sua mensagem final. Eu sempre estive tão preocupada com o equilíbrio da vida selvagem, que esqueci de perceber que as raças com civilizações também fazem parte desse equilíbrio. Agora, há algumas semanas entre eles, eu finalmente começo a entender a maneira como eles se organizam e pensam. É fascinante ver como essas pessoas estão lentamente se fortalecendo depois do que passaram.

Na noite da invasão, quando eu tentava sair da cidade, eu passei por uma casa com algumas pessoas dentro. Eu sabia que elas não conseguiriam escapar sozinhas, mas também sabia que eu estava fraca demais para tentar salvá-las, e sabia que eu não podia morrer naquela cidade, não naquele momento.

Eu não olhei para trás depois que passei por elas, eu tinha apenas um objetivo em mente e ele era a única coisa graças à qual eu conseguia me mover. Eu sei que eu tomei a decisão correta, mas... Eu também sei que eu poderia ter tentado.

Sabe, você me disse que não tem medo, mas eu tenho. Eu não sei o que você conseguiu ver naquele dia na floresta, mas eu vi seus olhos se abrindo para a teia, e se você conseguiu perceber, mesmo que uma mínima fração de toda a vida que se une lá, saiba que eu sinto o fim de tudo isso chegando com os seus irmãos.

Eu gostaria de entender melhor o seu povo, pois eu entendo o desejo que vocês nutrem por sua liberdade, não é justo que uma raça viva confinada nas trevas. O que eu não entendo, é por quê vocês não poderiam viver junto aos outros seres vivos. Por quê vocês não poderiam fazer parte dessa teia, em vez de destruí-la e tomar o seu lugar.

Eu não tenho o poder nem o direito de guiar a sua raça nesse momento, mas você me dá esperança de que exista um caminho no qual os dois possam estar unidos. O que me resta agora, é lutar para proteger essa vida que eu tentei lhe mostrar. Você me disse que pessoas importam, e eu lhe digo que tudo importa, os animais e as plantas, e o seu povo, também.

Talvez a minha batalha esteja perdida. Quando nos encontramos, eu estava envenenada, fraca e ferida, mas mesmo que eu estivesse bem, eu sei que sozinha eu não seria capaz nem mesmo de enfrentar a você, muito menos a sua raça inteira. Mas eu não vou desistir. Eu não sei como você vai encarar isso, mas eu lhe prometo que mesmo que todos desistam dessa batalha, enquanto eu estiver viva, eu lutarei para proteger essa teia.

Eu sei que a única resposta para esse conflito reside na união, eu espero que você também saiba disso.

Você nunca me disse seu nome... O meu é Elanor.

Espero vê-lo novamente, e espero que não seja em lados opostos de um campo de batalha.

As Trevas de LamorOnde histórias criam vida. Descubra agora