120 25 19
                                    

Dois dias depois, Yuto foi novamente ao mercado chinês para comprar outro maço.

O vendedor ainda era o mesmo, e ele muito educadamente lhe perguntou se seu nariz estava melhor. Adachi sorriu e disse que sim, e embora só estivesse indo ali para comprar cigarros, ele queria ficar mais tempo no mercado.

"Pode me chamar de Yanan, é menos formal." O chinês comentou. "E qual é o seu nome?"

"Adachi Yuto, mas pode me chamar de Yuto, é menos formal." Repetiu com um sorriso.

Quando o moreno percebeu, já estava conversando havia meia hora com Yanan, e ele sequer se sentia mal. Ele não pensava em Hyunggu ou em Hongseok, ele não pensava na culpa que levava em suas costas. Ele não pensava naquele dia fatídico, naquele roubo que deu errado. Ele não pensava no sorriso que o Kang dera para si nem no choro de Hongseok. Ele só pensava em como Yanan era agradável, simpático e conseguia distraí-lo de todos os seus (muitos) problemas.

"Meu turno termina às seis da tarde." Falou o rapaz de cabelos escarlate. "Nós podemos sair para conversar depois disso, se não for nenhum incômodo, é claro." Ele sorriu na direção de Yuto, suas bochechas adquirindo um tom leve de vermelho.

"Eu adoraria." O moreno respondeu, sorrindo de volta.

Os dois ficaram em silêncio, tímidos sorrisos estampados em seus rostos. Um cliente então entrou no mercado e Yanan foi atende-lo. Adachi se despediu do rapaz e disse que voltaria às seis.

Chegou em seu pequeno apartamento e abriu as janelas, deixou o ar entrar. Tirou as garrafas de soju e os maços velhos do chão, jogando-os no lixo, já que estavam todos vazios. Yuto se sentia minimamente disposto naquele dia. Yanan conseguira animá-lo com sua conversa descontraída e animada junto ao seu bom humor.

Tomou um banho e aproveitou para dar uma olhada nos ferimentos. Provavelmente ficariam ali por mais alguns dias, a maioria já estava terminando de cicatrizar. Ele vestiu-se e foi para a varanda, levando consigo seu isqueiro e seus cigarros.

Encostou-se na grade e ascendeu um dos cigarros, tragando-o lentamente. Yuto sabia que não passava de um viciado em tabaco, mas era impossível não relaxar vendo a fumaça fugir de seus lábios ou então sentindo-a em seus pulmões. Ele também sabia que estava reduzindo seu tempo de vida, mas naqueles dias essa era a ideia que mais lhe atraía. No entanto, pelo resto daquela tarde o rapaz estava estranhamente feliz, tanto que passara um bom tempo na varanda apenas apreciando a vista dos prédios e das pessoas nas ruas.

Ele olhou o relógio da cozinha, que marcava oito minutos para seis da tarde. Yuto saiu de seu apartamento com um sorriso no rosto, apressando o passo para poder se encontrar logo com o chinês.

Yanan estava lá, despedindo-se do rapaz que assumiria seu turno. Ele acenou para o outro e então saiu correndo em sua direção.

"Você tem alguma ideia de lugar para irmos?" Indagou Yuto. "Porque tem um parque aqui perto e eu costumava ir muito lá, é bem agradável."

"Eu não tinha pensado em nada, para falar a verdade, mas a ideia do parque me parece bem interessante."

Enquanto andavam, a conversa surgiu do além, como se fosse um passe de mágica. Yanan, por exemplo, adorava música, assim como Yuto. Naqueles dias, a única coisa que ele conseguia fazer era escutar música. Além disso, o chinês era o tipo de pessoa que falava abertamente sobre qualquer coisa, sempre sorrindo. Um garoto iluminado, como diria a avó já falecida de Yuto.

Nascido em Shangai, viera morar em Seoul com doze anos, o que explicava seu coreano fluente. Os assuntos entre ambos divergiam tanto e eram sempre comentados com tanta intensidade que o moreno se via completamente enfeitiçado. Era como se ele tivesse viajado para um mundo paralelo; sua cabeça divagava nas indagações profundas que o chinês fazia sobre a vida e nos comentários simples sobre a beleza das árvores. Ele se sentia tão bem, tão feliz que nem conseguia acreditar.

Leve. Pela primeira vez em anos, Adachi se sentia leve. O constante peso nas costas parecia ter lhe abandonado; ele se sentia quase que como uma pessoa normal. Era isso que Yanan fazia consigo: o tirava da realidade.

Acabaram por se sentar num banco. Yuto estava curioso sobre Shangai, e o rapaz de cabelos escarlate ficou feliz em responder todas as perguntas que o outro fazia sobre sua cidade natal. Até aquele momento, Yanan era quem se abria para perguntas. Não que ele se incomodasse; na verdade, o simples fato do moreno não estar se expondo o deixava com um ar misterioso, o que atraía o chinês. Despertava sua curiosidade em relação àquele estranho que fumava cigarros chineses, tinha hematomas no corpo e tatuagens no pescoço.

"Mas e você? Me fala um pouco sobre você, Yuto. Eu estou morrendo de curiosidade sobre, bem, sobre você."

Ele coçou o pescoço, um pouco nervoso com aquilo.

"O que exatamente você quer saber?"

"Tudo. Tudo que puder me contar."

Yuto suspirou. Não gostava de falar sobre si mesmo, detestava se abrir. Quando você mostra suas emoções e sentimentos para alguém, está demonstrando fraqueza. E essa fraqueza pode ser usada contra você. Não, era melhor ficar quieto e não se expor; era isso que ele pensava.

"Porque você não faz uma pergunta pontual? É mais fácil para mim se for desse jeito."

"Certo, me deixe pensar um pouco." Respondeu o outro, franzindo as sobrancelhas. Por um segundo, Adachi se viu pensando em como ele ficava adorável quando se concentrava em algo.

"Ah, já sei!" Yanan sorriu e então virou-se de frente para Yuto. Assim que seus olhos se encontraram com os do rapaz japonês, ele ficou sério. "Os seus machucados. Como você os conseguiu?"

YY ❆ Chinese CigarettesOnde histórias criam vida. Descubra agora