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Quando chegou domingo, Yuto achou que vomitaria de nervosismo. Não tinha conseguido levar as roupas de Kino embora já que suas pernas tremiam toda vez que ficava em pé. Efeito Yanan.

Estava suando frio quando saiu do apartamento. Suas mãos, que colocara no bolso do moletom, molhavam tudo que tocavam. Olhou-se no espelho do elevador. Estava bem melhor do que da última vez que vira seu reflexo. Os ferimentos já estavam quase desaparecendo, e dessa vez Adachi não faria nada para mantê-los ali. Bagunçou um pouco os fios acinzentados de modo a ajeitá-los da maneira que gostava e então partiu, seguindo para a barraquinha de lámen que ficava a algumas quadras do seu prédio.

A caminhada pareceu durar uma eternidade. Via casais de braços dados e sorridentes, velhinhas carregando compras exaustas, crianças correndo e gritando, deixando seus pais irritados. Sorria com o pequeno caos à sua volta, mas por dentro o nervosismo o consumia.

A fila para comprar o lámen ainda estava pequena; comprariam a comida e então se sentariam na calçada para comer, como todos que vinham ali faziam. Olhou para os lados e nenhum sinal de Yanan. Será que ele tinha desistido?

"Ei, Adachi-ah!" Escutou. Levantou seu olhar e lá estava o chinês, as mãos balançando na frente do seu rosto.

"Me desculpe por não ter te visto antes." Desculpou-se. "Você, hum, já quer ir para a fila? Essa barraca geralmente fica lotada."

"Pode ser." Respondeu e então sorriu. Ah, o sorriso dele era capaz de derreter o Polo Norte inteiro.

Ambos ficaram lado a lado na fila, que já estava bem grande. Aquela feira noturna era sempre muito interessante. Desde pequeno, quando seu pai ainda tinha disposição e tempo para fazer alguma coisa, Yuto visitava-a e analisava comidas e objetos de todos os cantos do Globo. Sua barraca preferida sempre foi a de lámen. Em primeiro lugar, quando criança, tinha o costume de assistir desenhos japoneses em que os personagens sempre comiam aquele macarrão. Além disso, a comida era realmente muito gostosa e saborosa. O preço era baixo e seu pai conseguia pagar, sem falar que o lembrava de sua terra natal; basicamente, tudo que era necessário para um garotinho de sete anos ficar feliz. E mesmo estando agora com vinte, não conseguia evitar de sorrir na fila. Principalmente porque a companhia de Yanan era muito melhor do que a de seu pai.

"Como você descobriu essa feira? Eu nunca tinha vindo aqui antes."

"Meu pai costumava me trazer quando eu era pequeno." Respondeu e Yanan pareceu impressionado. Gostou de surpreender o mais velho.

Enquanto esperavam para fazer o pedido, começaram a conversar. Felizmente, o ruivo não perguntou sobre os ferimentos de Yuto ou falou sobre o que tinha acontecido no parque; no entanto, Adachi sabia que, em algum momento, esses assuntos viriam à tona. E ele precisava estar preparado para isso.

Parecia que com o chinês tudo fluía bem, conversavam sobre coisas estranhas e aleatórias e era normal. Sentia como se o conhecesse há anos. Era uma sensação deliciosa de se sentir.

"Então, o que você acha que eu devo pedir?" Indagou, eventualmente, o mais velho.

"Eu sempre vou no tradicional, o chamado "da casa", sabe? É simples, porém gostoso."

"Se você diz, então vou pedir esse. Você é meu especialista particular em lámen." Falou e ambos riram. Era uma piada boba, que nem poderia ser considerada uma piada de verdade, mas para eles era engraçada. Porque estavam ali, jogando conversa fora, na fila para comer um lámen delicioso, curtindo a companhia um do outro. Porque estavam ali, Yuto e Yanan, e nada mais no mundo importava.

Sentaram-se para comer e o Adachi estava certo: aquele tradicional era extremamente simples, mas tão bom que o chinês não conseguiu conter um suspiro de deleite. Yuto o encarou; era errado imaginar outras coisas naquele momento?

Passearam pela feira noturna. O moreno mostrava para Yanan suas barracas preferidas, e embora não comprassem nada, era divertido andar no meio daquela multidão de pessoas felizes.

Andaram por horas, parecendo duas crianças. Olhavam tudo ao seu redor e ficavam maravilhados com o que viam, mesmo que não fosse a primeira vez. Porque, para eles, era a primeira vez. E Yuto sentia uma espécie de calor em seu peito, como se a simples existência de Yanan dissesse que vai ficar tudo bem, e seu sorriso iluminasse até a noite mais escura.

Eventualmente acabaram se distanciando da multidão, passeando pelas ruas quase que desertas sozinhos. O assunto agora era a cultura tailandesa. Nenhum dos dois entendia muito daquilo, e era isso que deixava a conversa mais interessante: as suposições. Yuto ria das besteiras que o mais velho falava, e Yanan parecia adorar as reações do moreno.

"Você devia sorrir mais, é tão bonito quando o faz. Quer dizer, você já é bonito sem sorrir, mas... você me entendeu, não entendeu?" Disse o chinês. Acabou se embaralhando com as palavras e suas bochechas atingiram um tom leve de vermelho, tanto que até murmurou algumas coisas em mandarim.

"Obrigado, eu acho." Falou o outro, quase tão envergonhado quanto Yanan.

Era uma situação um pouco constrangedora, um simples elogio desencadeou um silêncio profundo entre os dois. Yuto sentiu seu nervosismo voltar aos poucos. Já era tarde da noite e as ruas estavam vazias, só ele e o chinês andavam por ali. Ambos quietos, escutando os sons da noite em Seoul, uma cidade que quase nunca dormia. E, céus, mal conseguiu se manter de pé quando, bem delicadamente, Yanan entrelaçou seus dedos nos do Adachi. Percebia que o mais novo era tímido, por isso seus contatos sempre eram suaves e cuidadosos.

Estavam agora mais próximos do que nunca, andando de mãos dadas pela escuridão da capital. O coração do moreno acelerou, bateu forte contra seu peito, pedindo, implorando para que ele tomasse uma atitude. Queria, como queria, mas a coragem lhe faltava. No entanto, não precisou se preocupar: Yanan tomou a iniciativa por ele.

YY ❆ Chinese CigarettesOnde histórias criam vida. Descubra agora