58 13 3
                                    

Yuto dormiu muito bem naquela noite. Todo seu corpo relaxou no colchão e ele adormeceu com um sorriso no rosto. Na manhã seguinte, a primeira coisa que fez foi fumar um de seus cigarros chineses.

Ainda estava deitado na cama, sem camisa pois o calor já estava chegando. A janela estava aberta e a fumaça circulava pelo cômodo. Horas já tinham se passado e um novo dia tinha começado, mas mesmo assim Adachi ainda se sentia em êxtase total.

Ele e Yanan tinham se beijado.

A ideia parecia tão surreal que em alguns momentos o moreno não conseguia acreditar que era verdade. Mas sim, o beijo era real e a sensação de felicidade também era.

Livrou-se de sua bituca e então se vestiu, decidido a arranjar um trabalho, como prometera para Hyunggu na noite anterior. Ele não precisava mais viver de roubos, mas necessitava de uma fonte de renda para se sustentar.

Pela primeira vez em muito tempo, Yuto abriu a geladeira e buscou por comida. O resultado foi o esperado: um grande vazio. Contudo, o simples fato de ele estar voltando para hábitos comuns, como dormir no próprio quarto e tentar tomar um café da manhã, mostrava uma evolução, já que, nas últimas semanas, o moreno só passava tardes e tardes no sofá, sentindo-se um inútil e entupindo seus pulmões de nicotina. Efeito Yanan.

Achava um pouco idiota e extremamente clichê, mas era assim e ponto final: Yanan mudou sua vida por completo. Ele mostrou para Adachi que, embora a vida muitas vezes seja horrível e o simples ato de respirar se torne dolorido, vale a pena. No fundo, vale a pena. E o chinês não fazia a menor ideia disso, não sabia que tinha se tornado o motivo pelo qual Yuto continuava vivo, muito menos que o incentivara a buscar um emprego. Yanan não sabia que suas palavras era tão poderosas e não sabia que tinha salvado o moreno de se afundar ainda mais.

Adachi decidiu passar numa padaria qualquer antes de passear pelas ruas em busca de um lugar para trabalhar. Antes de começar a roubar com Hyunggu, o garoto teve um emprego como mecânico; talvez pudesse tentar isso de novo.

Acabou por bater na porta de Hwitaek para ver se ele ainda precisava de alguém.

"Yuto, você por aqui!" Exclamou o mais velho. "Nunca mais te vi, cara. Você deu uma bela sumida, achei que estivesse bravo comigo." Comentou.

"Eu só tive uns problemas no meio do caminho, sabe?" O outro concordou com a cabeça, mostrando que compreendia.

"E o Kino, como está?" Disse Hui enquanto limpava as mãos sujas de óleo.

Um grande silêncio se instalou no local. Como o moreno daria a notícia? Simplesmente diria que o Kang estava morto? E se o fizesse, explicaria como ele morreu? Yuto estava preparado psicologicamente para falar sobre isso? Ele achava que não.

"O Kino, bem... Kino faleceu, Hui. Já tem aproximadamente um mês desde a morte dele." Sussurrou triste.

Hwitaek largou o pano que segurava, incrédulo.

"Hyunggu morreu? Ah, Yuto, meus pêsames, eu não sabia. Não queria ser indelicado desse jeito. Me desculpe."

"Tudo bem."

Felizmente, o Lee não perguntou mais sobre a morte de Hyunggu. Ele quis logo mudar de assunto e descobrir o que trouxe a "ilustre" visita do Adachi.

Yuto perguntou se ainda podia trabalhar lá, como mecânico, e Hui concordou.

"O mesmo turno de sempre, okay? Pode começar hoje? Te libero às sete."

"Claro, sempre."

Durante a tarde inteira, Yuto conversou com o mecânico e o ajudou com o trabalho. Durante o tempo que trabalhara com o Lee, não tivera muito tempo para jogar conversa fora, já que, naquela época, Hui só trabalhava por meio turno e Yuto estava neurótico demais para relaxar.

Quando a noite chegou, ambos se despediram e o mais novo foi direto para o mercado chinês. Sim, àquela hora o turno de Yanan já tinha terminado, mas talvez ele desse sorte e o encontrasse no meio do caminho.

E parece que o destino estava conspirando a favor do moreno, já que, para a surpresa do mesmo, o mais velho se encontrava sentado no balcão discutindo com Shinwon. O Koh logo sorriu malicioso e se despediu do amigo, largando um Yanan confuso que só foi entender as coisas quando escutou Yuto o chamar.

"O seu turno não terminava às seis?"

"Shinwon acabou me segurando por mais tempo do que eu esperava. Ele estava muitíssimo interessado no nosso encontro de ontem à noite." Falou com um sorriso, deixando Adachi com as bochechas coradas. Céus, por quê Yanan era tão maravilhoso?

"Ele é meio enxerido, até fugiu do próprio turno para nos deixar em paz, olha que safado." O chinês debochou. "Acho que nós podemos conversar lá fora, assim esse vagabundo trabalha." O moreno concordou com a cabeça; sempre concordaria com qualquer coisa dita pelo mais velho. "Ei, Shinwon, estamos indo embora, até amanhã."

Yuto contou para Yanan que tinha arranjado um novo emprego. Não era nada demais e sabia disso, mas estava orgulhoso de si mesmo. É claro, o chinês não sabia o motivo dessa pequena conquista ser tão importante, e a cortina de mistérios que envolvia o mais novo o deixava extremamente curioso, mas tinha um pouco de medo de invadir a privacidade de Yuto. Ele era tão quieto e misterioso, devia ter um motivo.

No entanto, ele estava gostando da companhia do moreno e ficava um pouco agoniado com a falta de informação que o outro fornecia sobre si mesmo.

Yuto perguntou se ele se importava com os cigarros, e Yanan negou. Estava acostumado, Shinwon também tinha esse hábito.

"Os seus machucados já quase não existem mais." Reparou.

"Pois é, agora são só cicatrizes de um passado que eu espero que remanesça distante."

Yanan tomou coragem e perguntou aquilo que estava o deixando intrigado desde o primeiro contato deles.

"Yuto, não tenha medo de mim. Não se esquive, você pode confiar em mim. Quero que me conte sobre seus machucados, quero que me conte tudo, quero que seja sincero comigo. Porque nós não podemos continuar saindo se você não me falar a verdade por trás disso tudo."

YY ❆ Chinese CigarettesOnde histórias criam vida. Descubra agora