Vincey e eu andamos para bem longe daquele lugar de destruição, tínhamos chegado então àquela pequena colônia de humanos, onde comprei cavalos, e uma carroça com cobertura do sol escaldante para Vincey. Gastei quase todo o dinheiro que havia levado naquilo, mas para onde eu iria não precisaria de tal coisa.
Foi quando eu caminhei até um comerciante que vendia odres de água, que ouvi as pessoas murmurando sobre um incêndio que devastou parte da floresta.
— ...aconteceu do nada, uma faísca e... BOOM!— Contava um dos aldeões, careca e desnutrido, gesticulando fortemente. — E então o homem de lá como se nada tivesse acontecido.
Segurei a garrafa com força, o vidro se rachando.
— Vou te dizer uma coisa, aquilo é obra do diabo. — Outro camponês desdentado se juntou ao primeiro. — Saiu direto do meio do fogo e nem estava chamuscado.
— Um bruxo com certeza. — O careca afirmou.
— Não, não! Um demônio, isso sim. Vi com meus próprios olhos. — O aldeão sem dentes arregalou os olhos.
Uma mulher desfaleceu.
— Temos que fazer alguma coisa! Meu filho brincava naquele bosque.
— Vamos matá-lo.
— Não! Vamos embora daqui.
— Chamem as autoridades!
— Até agora ele já deve ter rastejando de volta para o inferno.
— Mas e se voltar?
Nisso, um aldeão alto e robusto, que parecia ser o líder ergueu um garfo de feno, as axilas encharcando a camisa de feltro.
— Defenderemos o nosso lar! Nenhuma criatura diabólica pode nos pôr medo! Estamos em maior número.
— Mas eles tem magia oferecida por Satã.
— E nós temos balas!
Paguei o comerciante e sai dali rapidamente, antes que meu temperamento, que já estava alterado, me fizesse enfrentar os aldeões.
Vincey, sentado na traseira da carroça me olhou com curiosidade, seu corpo tenso. Seu olhar me dizia: "vão fazer alguma coisa?"
— Não, estão apenas assustados. — Respondi, lhe entregando as garrafas de água. — Apesar de parecerem bem corajosos quando estão juntos, não sobreviveriam a um ataque de mago. Até o mais fraco deles poderia levar esta comunidade inútil ao chão.
Montei no banco e golpeei os cavalos para que fossem mais rápido, minha cartola inclinada sobre a cabeça escondendo meus olhos selvagens.
— Pelo menos agora sabemos que o Limbo os está usando para tentar me intimidar.
Vin se movimentou, vindo até o banco comigo.
— O que está fazendo? — Sibilei. — O sol vai feri-lo.
Pois antes só havíamos nos movimentado pela noite, para que Vincey, já fragilizado, não sofresse com as reações solares.
Agora a sua pele estava brilhando com pequenos pontinhos mágicos de luz, a claridade fazendo suas sobrancelhas prateadas sumirem.
Vincey esticou o braço e apertou minhas mãos nas rédeas. Fiquei imóvel enquanto ela me olhava fixamente querendo dizer: "tudo vai ficar bem."
Dei um sorriso falso.
— Não, não vai.
Amargurada, me livrei das mãos dele.
— Volte para dentro, se virem você brilhando vamos ser descobertos mais rápidos do que eu gostaria.
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Syrena
FantasyKoltrix faz parte de uma organização secreta chamada Limbo, desde que foi resgatada aos nove anos. Um grupo diverso que busca rastrear e libertar seres mágicos capturados por humanos e jogados em circos, prisões, clínicas médicas e zoológicos. Sua...