Second chapter: Screams

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Um grito após o outro. Todos carregados do mais puro desespero, angústia e sofrimento.

Nunca havia corrido tão rápido em minha vida quanto no momento que me levantei da cama, fui até a porta e percorri vários corredores seguindo os sons dos gritos.

Acabei por chegar em um quarto afastado dos outros, aliás, muito afastado. Na frente dele um aglomerado de pessoas havia se reunido enquanto sussuravam coisas inaudíveis, todas assustadas e curiosas.

Neste momento, várias perguntas fizeram questão de importunar minha mente, como por exemplo, de onde diabos havia surgido tantas pessoas? Victoria não acabara de dizer que o lugar não era movimentado? Obviamente haviam algumas pessoas, mas nunca imaginei que fossem tantas assim.

E o mais curioso; De quem eram aqueles gritos?

Porém, logo outra coisa me chamou a atenção, ou melhor, alguém.

Uma garota. A mesma se encontrava encostada na parede, um tanto afastada da multidão. Era difícil ler sua expressão facial, pois ao mesmo tempo que aparentava curiosidade, também parecia indiferente. Seus cabelos negros desenhavam sua silhueta até um pouco abaixo dos seios. Sua face delicadamente traçada estava focada no ocorrido. Esta aparentava ter a minha idade, talvez fosse até mais nova. Era realmente muito bonita.

Me esgueirei até ela, aproximando-me devagar.

-Olá. - Falei com um sorriso simpático, ainda um pouco ofegante, e logo recebendo a atenção da garota.

-Oi. - Respondeu me analisando cautelosamente. -Nunca vi você por aqui.

-Certamente não, cheguei a pouco tempo. - Suspirei. - A propósito, me chamo Yerim, prazer.

A garota sorriu fechado, mostrando certa simpatia.

-Me chamo Olivia. Prazer Yerim.

-Me chame apenas de Yeri. - Sorri mais uma vez, logo voltando minha atenção às pessoas em nossa frente. - Sabe o que está acontecendo?

-Bem...não exatamente...-Suspirou pesadamente e se aproximou, como se fosse contar algum segredo ou algo confidencial. - Dizem...-Olhou para os lados na intenção de verificar que ninguém ouviria. -que ela é completamente louca, a garota no quarto. - Engoli em seco. - Há boatos de que ela ficou assim depois que a irmã foi assassinada, a  quase dois anos atrás. - Voltou a sua posição anterior. - Estou aqui a apenas um mês e já me acostumei com essa gritaria, na qual acontece praticamente todos os dias, porém hoje, foi bem pior do que normalmente.

Ouvi atentamente tudo que a garota me dissera, sem questionar ou comentar. Porém algo importunava minha mente.

-Sabe quem é ou como ela se chama?

- Não. Além da Irene, ninguém mais pode entrar naquele quarto. Ela nunca sai e quase ninguém aqui chegou a vê-la.

Travei o maxilar e uni as sobrancelhas. Aquilo certamente era muito estranho. Minha curiosidade sobre a garota já começara a dar sinais.

-E quem é...

Antes que pudesse continuar, fui interrompida por uma mulher cuja feição não estava nada agradável. A mesma havia acabado de sair do quarto da garota, chamando a atenção de todos lá presentes.

-O que vocês querem aqui? - A mesma quase gritou, encarando a todos e exalando certa irritação. Porém logo se deu por vencida e suspirou pesadamente, suavizando a expressão ao observar as faces assustadas que a rodeavam. - Ela está bem, podem voltar aos seus aposentos.

-Irene? - Olivia sorriu soprado e resmungou entre dentes. - Essa mesma...- Apontou para a mulher em frente ao quarto com um aceno de cabeça. A mesma agora conversava com algumas pessoas, ou melhor, respondia suas perguntas curiosas sobre a garota.

No momento em que Olivia mencionara Irene, me veio em mente uma senhora idosa ou de meia idade e aparência abatida. Porém, Irene era completamente o oposto disso.

Seus cabelos castanhos lisos iam até abaixo dos ombros, sua face parecia ter sido milimetricamente desenhada. Sua fina boca rosada se contrastava com sua pele branca, enquanto seu sorriso iluminava todo seu rosto. Era incrivelmente encantadora, porém não parecia ser muito comunicativa.

Olivia e até mesmo Irene, duas mulheres extremamente bonitas e jovens, em uma mansão no meio do nada. Isso realmente era mais uma questão a ser levantada, até mesmo porque a maioria das pessoas que acabara de ver à minha frente, eram de meia idade para mais, com exceção delas e de mais dois ou três.

-Por que está aqui? - Perguntei me voltando a Olivia. - Digo, nesta casa.

A garota suspirou e abaixou o olhar. Pude ver um semblante triste em seu rosto.

- Meus pais me mandaram para cá. A dona desse lugar é minha tia, Victoria, já deve ter conhecido ela.

-Sim, ela quem me recebeu. - Ponderei por alguns instantes se deveria perguntar o porquê, porém estava claro que esse assunto não a deixava confortável, então decidi não insistir, logo levantando outra questão. - Bem, se sua tia é dona do lugar, ela já deve ter visto ou conversado com a garota daquele quarto, certo?

- Sim, possivelmente. Porém acredito que apenas antes dela enlouquecer. - Suspirou frustrada. - Já a questionei sobre o assunto, porém ela sempre dá um jeito de evitá-lo.

-Onde posso encontrar sua tia? - Certamente falaria com ela sobre isso, minha curiosidade sempre fora maior que minha discrição.

Sinceramente, não vejo o porquê de encher minha cabeça com essas coisas, sendo que amanhã estaria partindo e nunca mais as veria. Porém como disse antes, minha curiosidade sempre é maior.

-Ela já deve estar deitada a essa hora. - Olivia respondeu seguido de um bocejo. - Coisa que eu também deveria estar, aliás.

-Oh certo, falarei com ela amanhã. - Sorri em agradecimento. - Tenha uma boa noite Olivia.

Após me despedir, dirigi-me até o quarto novamente. Nem havia notado que as pessoas já haviam retornado aos seus aposentos e que apenas eu e Olivia estávamos lá.

Obviamente toda aquela conversa e informações me deixara muito intrigada. Como saberia mais a respeito da garota se ninguém iria fornecer-me informações?

Iria tentar conversar com Victoria amanhã, quem sabe arrancar alguma informação dela. E se sobrasse tempo, falaria com Irene também. Se precisasse, passaria até mais alguns dias aqui, porém descobriria o que todos parecem querer esconder.

Custe o que custar.

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