Capítulo 1 - Não se desespere, nada vai dar certo.

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9 Anos Antes...

- Mamãe?

A mulher se virou para encarar a pequena menina que havia entrado na sala. Ela segurava com força em seus bracinhos finos um ursinho de pelúcia, que era grande demais para o seu tamanho. A menina, no alto de seus quatro anos, podia não notar, mas havia medo nos olhos da mulher.

- Você não deveria estar dormindo, querida? - A mãe perguntou com uma voz rouca.

- Eu tava, mas... Eu tive um pesadelo, que ia embora, e então Inácio me acordou, dizendo que tava aqui e ia embora. - A criança murmurou, os olhos vermelhos e inchados pelo sono. Com a mão que estava livre, coçou o olho esquerdo e permaneceu de pé na sala, exigindo alguma explicação da mãe. - Cê num vai embola, né mãe?

A sala estava uma bagunça. Havia objetos espalhados por todo o canto, desde cédulas de dinheiro espalhadas pelo chão e roupas desorganizadamente enfiadas dentro de uma pequena mala aberta, a restos de comida sujando o tapete vermelho que ocupava grande parte do espaço do cômodo. Não que o espaço fosse muito grande; a casa em si era pequena. Todavia, era o suficiente para abrigar uma mulher de trinta e poucos anos e sua filha de cinco anos, e era isso que importava. Pelo menos, essa era a opinião da mulher.

Ignorando o que a filha havia dito anteriormente, a moça se levantou do velho sofá marrom onde arrumava uma pequena mala de costas. Apesar de estar com o zíper totalmente aberto, era difícil identificar o que havia dentro dela; era possível observar algumas camisetas jogadas de qualquer jeito lá dentro, e só. Não era para ela ter acordado, a mulher pensava. Ao chegar perto de sua filha, pegou-a pelas costas e segurou-a em seu colo, se levantando cuidadosamente, enquanto a garota, bocejando de sono, continuava a segurar firmemente seu ursinho.

Enquanto caminhava para o quarto da garota com ela no colo, apreciou seus prováveis últimos momentos com ela. Teria sido mais fácil se ela não tivesse acordado. Seria como tirar o curativo de um machucado, rápido e (quase) indolor; esses últimos momentos apenas deixariam a situação mais dolorosa do que ela já é. Ela poderia até dizer que não, mas, naquele momento, tudo que ela mais queria era ficar em casa junto de sua filhinha.

O destino podia ser cruel ás vezes.

Passava a mão pelo longo cabelo ondulado e castanho da criança, e logo tocava levemente suas bochechas rosadas, que contrastavam com sua pele pálida como gelo. Ela era linda, assim como o pai, suspirou internamente. Apenas esperava que, o que quer que acontecesse no futuro dela, não fosse sequer parecido como o que foi o do seu pai.

Cuidadosamente, passou o peso da garota para um dos braços e, com o outro, abriu cautelosamente a porta do pequeno quarto, que estava com as luzes apagadas. As paredes tipicamente rosas não apareciam tanto no escuro, muito menos as bonecas e as pelúcias espalhadas pelo quarto, fazendo com que a mulher tivesse um certo trabalho para conseguir chegar na cama da menina sem tropeçar em nenhum brinquedo.

- Pronto... - A mulher murmurou, enquanto posicionava a criança na cama. Seus olhos já estavam praticamente fechados, e continuava abraçada com o bendito urso. Ele era, estranhamente, chamado por ela de Inácio. Primeiramente, a mulher considerou até meio esquisito a criança chamar sua pelúcia de Inácio, mas, mais tarde ela constatou que toda criança tem uma imaginação enorme, logo, no fim, não viu muito problema nisso.

Entretanto, mais tarde, sua filha começou a conversar com o urso. A mulher acabou até mesmo tentando tira-lo a força dela, já que pensava que aquele brinquedo estava fazendo mal para sua filha, mas a pequena sempre chorava e gritava quando o mesmo não estava segurado junto a seu corpo. O pior era que parecia mesmo que o objeto falava com ela... Mas isso era nada demais, apenas preocupação de mãe mesmo. Bem, pelo menos foi isso que ela concluiu, depois de longas (e nada maturas) discussões com a criança.

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⏰ Última atualização: Mar 16, 2015 ⏰

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