CPM22 soou pelo meu quarto. Era a música do meu alarme. Hoje era domingo e eu tinha que trabalhar. Sim, você leu bem, trabalhar em um domingo. Sou garçonete. Trabalho numa barraca perto de um açude e no fim de semana são os únicos dias de movimento. Em seus anos de gloria ele já foi considerado o maior do estado, o açude. Eu moro no interior. As vezes é uma droga mais eu gosto, é tranquilo. Não tem shopping, asfalto, praças e tudo o mais que tem em cidade grande mas tem praia, açude, dunas, muita natureza e é raro violência ou roubo.
Enfim.
Faço um pouco de hora antes de me levantar da minha cama. Sei que minha mãe pode vim aqui a qualquer momento me chamar, ela sempre faz isso. Pego meu celular e coloco uma playlist só de rock brasileiro. Em seguida vou para o banheiro e agradeço a deus por não ter ninguém lá, afinal só temos um banheiro. Não queira ver a briga quando temos que sair e todo mundo resolve tomar banho na mesma hora, é um caos.
Depois de estar apresentável e bem arrumada vou para a cozinha.
-Bom dia maaãe! - Falei alto. Animada.
-Fala baixo menina. Seus irmãos ainda estão dormindo.
-Sorte a deles.Deixo um beijo no seu rosto.
-Bom dia, meu amor. - Ela diz depois de me beijar também.
-Mãe, a merenda tá pronta?
-Tá sim. Acabei de terminar.
-Que bom. To com fome.Depois de colocar minha merenda sentei à mesa e fiquei conversando com a minha mãe sobre qualquer coisa. Tínhamos uma ligação incrível. Eu não escondia nada dela, não mais. O único segredo realmente grande já contei e acho que nunca tinha me sentido tão livre como nesse dia.
É horrível quando se tem uma ligação com alguém assim e tem segredos no meio. Você não é você realmente. Me sentia como se estivesse fingindo o tempo todo. Descobrimos quando uma pessoa nos ama verdadeiramente é na nossa fraqueza. E ela me provou, me olhou com tanto amor e disse que continuava sendo sua filha e não era uma orientação sexual que mudava isso. Minha mãe é uma pessoa maravilhosa e não só por me aceitar como sou mais por tantas outras coisas que fez por mim e por meus irmãos.
Dramas à parte, já estava na hora de eu ir trabalhar.
-Mami, a senhora vai me deixar no trabalho? - Perguntei.
-Vou, só deixa eu pegar meu óculos.
-Tá, vou pegar meu celular no meu quarto. Já volto.Depois que peguei meu celular fui esperá-la lá fora.
-Pronto. Vamos? - Disse depois de chegar.
-Hurrum.Subimos na moto e fomos. Eu sempre fazia uma piada besta ou uma gracinha para vê-la rir, por mais ruins que fossem as piadas e brincadeiras ela sempre ria.
Chegamos na barraca em que eu trabalho.
-Já vou meu, amor.
-Pensei que a senhora fosse dar um mergulho no açude.
-Hoje não. Ainda vou acordar seus irmãos e tenho muitas coisas pra fazer.
-Que tal a senhora acordá-los, mandar eles fazerem os afazeres da casa no lugar da senhora e a senhora ir curtir o dia. A senhora precisa de férias.
-Também acho. Mais tenho medo dos seus irmãos botarem fogo na casa.
-Verdade. Pensando por esse lado.Ela deu uma gargalhada.
-Agora é sério, outro dia eu tiro o dia de folga tá? Com todos vocês. Não há melhor folga do que passar o dia com meus filhos.
Sorri.
-Claro que há. Um dia de massagens no spa em Fortaleza, porque sabemos que aqui nunca teria algo assim, ou umas férias com algum homem velho gato ou novo também, não tenho preconceito.
-Deixe de ser fresca, Lauren. Não brinque com essas coisas. Agora eu tenho que ir. - Me deu um beijo na bochecha. - Bom trabalho.
-Obrigada, mãe. Tchau.
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AMOR NO INTERIOR
FanfictionEu a salvei de um acidente mais ela me salvou de uma vida sem cores e sem maiores expectativas.