Capítulo 3 - A Clínica

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Quando acordei, estava num quarto escuro, iluminado apenas pela luz que vinha de fora, que entrava pela porta aberta. Eu estava deitada numa cama de lençóis brancos, ao lado havia outra cama vazia, e entre elas um criado mudo. Tinha um armário em uma das paredes e um quadro de uma bonita paisagem campestre em outra, coberta por um elegante papel de parede florido, que dava um ar até aconchegante ao lugar. Havia um ar condicionado bem acima de mim, soltando um ar gelado que me fazia arrepiar de frio. Não tinha janelas, o que achei no mínimo estranho. O aroma de produto de limpeza se misturava ao ar seco que tomava minhas narinas. Podia ouvir um ruído de televisão ligada ao longe e algumas vozes conversando do lado de fora do quarto. Fiquei um tempo ali prostrada só observando o lugar, ainda estava sonolenta e meu corpo estava mole, não queria sair da cama.

Levei um tempo para entender o que estava acontecendo. Uma enfermeira miúda, com expressão dura e esquelética apareceu com uma bandeja para me dar uns comprimidos. Seus cabelos grisalhos estavam presos em coque e ela mal me dirigia o olhar, acendeu a luz que me ofuscou os olhos com seu brilho intenso.

-Tome! - Ela disse me entregando os remédios e um copo de leite.

-O que é isso? - Perguntei um pouco assustada.

-Vão te deixar melhor! - ela disse friamente

-Onde estou? - Perguntei pegando a caneca de leite e o copinho com os comprimidos. Bebi o leite tão rápido que até fiquei enjoada.

-Você está numa clínica... - Ela respondeu com receio

-Que tipo de clínica? - Perguntei já imaginando a resposta.

-É uma clínica de tratamento psiquiátrico. - Disse a mulher com a voz rouca - Agora tome os remédios!

-O que estou fazendo aqui? Eu não sou louca! - Falei aflita jogando os remédios para longe - Preciso ir embora... - Expliquei me levantando, acabei derrubando a caneca com o resto do leite e sujando todo o chão.

-Calma querida, você não vai a lugar algum! - Disse a enfermeira com a maior calma. Ela acenou para outro enfermeiro grande e forte que rapidamente me segurou enquanto ela me dava outra injeção que logo me apagou novamente.

Quando acordei, percebi uma menina na cama ao lado, pude ver apenas seus cabelos negros e cacheados, e seu rosto comprido em sono profundo. Sua pele era morena, suas grossas sobrancelhas se destacavam e seus lábios carnudos eram invejáveis. Ela estava coberta até o queixo com um cobertor branco felpudo que parecia bem quentinho. "Precisava de um daqueles" -pensei, estava me cobrindo apenas com lençóis, podia sentir meu nariz gelado, assim como minhas mãos e meus pés, estava muito frio ali, queria saber desligar aquele maldito ar condicionado. Olhei para o chão e ele não estava mais sujo.

Ainda estava digerindo a ideia de que meu pai teve coragem de me internar, como ninguém percebeu que era um monstro aquela noite? Por que pensavam que eu era louca? Ainda estava perdida em meus pensamentos quando percebi que a menina da cama ao lado tinha acordado e me observava.

-Oi...- Tentei puxar assunto.

-Bom dia! Você finalmente acordou...- ela tinha uma voz rouca e forte.

-Como sabe que é dia? - Perguntei observando-a pela pouca luz que vinha de fora do quarto pela porta.

-Você se acostuma, estamos no subsolo, na ala dos mais loucos como eles chamam... - Disse a menina com uma expressão melancólica se levantando da cama. Ela usava um pijama de bichinhos coloridos e calçou pantufas de unicórnios, achei as coisas dela tão fofas! Ela não usava sutiã, podia ver seus seios delineados na camisa com os bicos evidentes, tinha um busto tão avantajado, me bateu uma pontada de inveja, visto que o meu era tão pequeno que quase parecia uma criança.

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