Ariel apareceu depois de um tempo e puxou o lençol que me cobria bruscamente:
-Você está namorando aquela maluca? - Ela perguntou um pouco alterada.
-O quê? - Indaguei assustada - Não!
-Ela disse para todo mundo que vocês estão namorando!
-Ela mentiu! - Respondi ainda atordoada.
-É típico dela...- Falou minha colega de quarto já mais calma - Cuidado com essa garota!
-Claro! - Respondi pensativa. Ariel me abraçou de maneira repentina e saiu do quarto com certa pressa.
Peguei a minha mochila que estava perto da cama e tirei de dentro um pequeno caderno de capa dura vermelha e meu estojo azul, já um pouco gasto. Era meu caderno de rabiscos, onde fazia meus desenhos para me acalmar. Passei o resto do dia desenhando, nem quis comer nada, ou fazer qualquer outra coisa, só conseguia desenhar! Desenhei o monstro que me atacou, o maldito cachorro que me fez parecer maluca, a garota maluca do cabelo verde e até Ariel de pijama, com seu busto delineado como a conheci. Desenhei em todas as páginas que restavam em branco do caderno, até ele acabar. Por último, desenhei a minha mãe. Enquanto traçava seu rosto angelical e formava sua imagem tão realista no papel, senti lágrimas quentes rolarem nas minhas bochechas, algumas até borraram a tinta da caneta nanquim e estragaram um pouco a imagem dela. A saudade apertou, nada disso estaria acontecendo se ela estivesse ali! E eu chorei ainda mais, não conseguia mais segurar e deixei as lágrimas jorrarem enquanto meu rosto inchava e os soluços saíam, cada vez mais fortes. Eu agarrava forte o colar enquanto chorava e me encolhi embaixo dos lençóis novamente. Chorei até cair no sono.
Acordei num sobressalto com um peso em cima de mim e uma mão gelada me agarrando forte. Era Laura. Ela estava em cima de mim com uma expressão séria.
-Que história é essa de que não estamos namorando?- Ela perguntou parecendo chateada- Ariel disse para todo mundo que eu estava mentindo!
-Mas nós não estamos!- Falei um pouco assustada.
-Como não?- Disse apertando meu braço mais forte.- Sei que você gostou do nosso beijo! Por que não ia querer me namorar?
Percebi um olhar um tanto desesperado com pupilas dilatadas em seus lindos olhos verdes amendoados.- Eu mal te conheço, não namoramos ainda!- Falei tentando manter a calma.
Ela pôs as mãos em volta do meu pescoço e começou a apertar. -Mas eu te amo!- Me disse angustiada -Foi apertando cada vez mais com um olhar sombrio, eu já estava com dificuldade de respirar e tentava me soltar, mas ela era forte, tentei gritar, mas não tinha fôlego, minha vista já estava escurecendo quando ouvi Ariel gritar por ajuda. Pude vê-la avançar em Laura para me salvar antes de eu perder a consciência e apagar completamente.
Eu acordei em uma enfermaria. Tinha uma máscara de oxigênio presa ao meu rosto, eu estava em uma maca, de frente para uma enfermeira sentada a uma mesa perto da porta branca.
-Você está bem? -Ela perguntou com uma voz muito calma.
-Acho que sim...- Minha voz estava um pouco rouca e minha garganta doía, passei a mão em meu pescoço e o senti dolorido.
A enfermeira pegou um telefone e ligou para alguém, quando desligou, me disse para descansar e saiu da enfermaria, me deixando ali sozinha. Respirei afundando a cabeça no travesseiro, o ar parecia rasgar minha garganta enquanto eu respirava. Fiquei olhando para o teto perdida em meus pensamentos confusos, tentando entender tudo o que aconteceu nos últimos dias.

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Insana
Ficção AdolescenteLia é uma adolescente em luto pela morte da mãe, e repentinamente começa a ser perseguida por monstros. A jovem embarca em uma louca aventura com seu novo amigo, um cachorro falante que caiu do céu, para fugir dos monstros e entender o que está acon...