Capítulo 3

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Conformeos dias avançaram começamos a nos aproximar cada vez mais. Quantomais eu a conhecia, mais demonstrava interesse real em seu trabalho.

- Então é aqui que você trabalha?! - Pergunto enquanto caminho pela ONG (organização não Governamental) Dedicada a auxiliar pessoas de baixa renda, com um enfoque especial em moradores de rua.

- Exatamente! Não é tão belo quanto seu hospital, mas, todas as manhãs tenho orgulho de estar aqui!

- Permita-me apenas Corrigi-la em um ponto. Não é meu hospital. Presto apenas alguns trabalhos devido ao respeito que tenho por aquela instituição. Eu atuo mesmo em meu escritório particular e como professor universitário.

- Quer dizer que é palestrante e garoto propaganda só aos tempos livres - Rosângela sorri.

- Mais ou menos isso! E também sou sócio de algumas empresas nesse intervalo. - Digo enquanto observo a minha volta de forma quase distraída.

- Não deve ter muito o que desejar então não é?!

- Gostaria que fosse exatamente assim! - Respiro de forma profunda, enquanto ela me guia na direção de seu escritório.

- O Que quer dizer!?

- Sinto que preciso fazer mais do que tenho feito as vezes!

Rosângela me olha de forma interrogativa. Chegamos em sua sala, e ela passa a me explicar sobre o funcionamento da ONG. Apresenta-me pessoas. Falasobre a necessidade de mais voluntários. Sobre as dificuldades deconseguir roupas e medicamentos. Durante alguns instantes não aouço, meu olhar se perde, seguindo uma criança que brinca pelochão, com roupas suja enquanto sua mãe pede que ela não sentenaquele local.

- É triste não é?! - Ela diz ao perceber a direção em que estou olhando - A gente sente-se tão impotente diante de algumas situações.

- Por que decidiu trabalhar com isso?! - Busco seu olhar enquanto aguardo sua resposta.

- Quando era adolescente, meus pais quase perderam tudo. Por muito pouco não fomos parar nas ruas. - ela abraça a si mesma, tentando controlar um leve arrepio que pareceu atingi-la ao lembrar dessa época. - Esse tipo de coisa, faz a gente pensar sobre a fragilidade do sistema!

- Você searrepende?!

- De que? - Ela olha-me interrogativamente.

- Da escolha que fez?!

- Nunca! Ao contrario. Todas as manhãs percebo que fiz a melhor escolha possível.

- Mas e o retorno?! Tive amigos, que seguiram para a área social após a graduação, mas permaneceram muito pouco tempo. A alegação deles eram sempre as mesmas. Ganhavam mal, não eram valorizados, e o trabalho nunca acabava. - Ela me olha em silencio por alguns instantes.

- Por que escolheu ser médico Ângelo? - A pergunta me pega de surpresa

- Paraajudar as pessoas! Pelo reconhecimento! Um pouco pelo dinheiro!Escolha, as respostas são infinitas!

- Nesse caso, vou reformular minha pergunta. Você é totalmente feliz em sua profissão?! - Olha-me no fundo dos olhos, como se procura-se pela verdade dentro deles!

- Por que não seria?! Tenho uma carreira, sou sócio de pequenas empresas! Respeitado na universidade! Escritório particular! Carro do ano e não se esqueça do principal! - Digo sorrindo enquanto faço um quadrado com os dedos em frente ao meu rosto - Sou o rostinho bonito do Memorial - Sorrio. Rosângela acompanha meu sorriso, em seguida, olha-me novamente nos olhos.

- Então você é realmente feliz! Conquistou tudo o que sempre quis! Está no topo do mundo! - Respira fundo, olha em volta e novamente olha para mim - Então eu o invejo!

- Por que?!

- Por que posso contar nos dedos todas as pessoas que me responderam sim a essa pergunta, e você foi a primeira! - Caminha em direção ao bebedouro, pega um pouco de água e bebe.

- Pois não deveria sentir inveja, pois, sinto que estou no topo, mas que ainda não cumpri a minha missão! - Ela observa-me por um momento.

- E qual seria a sua missão?! - meus olhos por um segundo perdem-se no brilhos dos seus. Instantes depois abaixo a cabeça e respiro profundamente.

- Esse é o problema. Ainda não sei! Mas sinto que devo fazer mais do que tenho feito. Angustia-me saber que pessoas estão dormindo nas ruas, enquanto eu adormeço nos melhores hotéis! Gostaria de poder fazer alguma coisa, mas não sei o que! - Aproximo-me de uma pequena janela que dava para o patio interno, de onde era possível observar pessoas entrando e saindo do lugar.

- Compreendo esse sentimento Ângelo, já o senti várias vezes, e ainda sinto. Há ocasiões em que gostaria de fazer como um personagem de um livro antigo que li certa vez!

- Qual livro?!

- Não me recordo o nome do livro agora, mas contava a historia de um intelectual que resolve tirar uma garota das ruas e levá-la para morar com ele, na tentativa de convencer a sociedade de sua época, que sua forma e agir, era uma questão de aprendizagem.

- Conheço essa historia. Pena que após tantos anos, nossa sociedade ainda não a compreendeu! - Neste momento sou invadido por uma ideia. - É isso! Como não pensei nisso Antes! - Rosângela observa-me com curiosidade e espanto.

- Pensou em que?!

- Um experimento social! Algo que mostre que é possível capacitar uma pessoa e tirá-la das ruas!

- Ângelo, isso é apenas uma historia. Jamais daria certo na vida real.

- Está errada! Não daria certo caso seja feito da forma que fizeram no livro.- Pego uma caneta e rabisco uma folha de papel em branco. - Imagine que esse circulo seja o governo, e esse traço uma empresa. Agora, imagine se o governo fizesse um acordo. A cada pessoa que a empresa contratar ele reduz seus impostos!

- Isso já foi feito Ângelo. Mas não sei se deu muito certo. - Ela observa-me.

- Mas por que não deu certo?!

- Pelo que me recordo haviam faltas. Eles não estavam habituados a uma rotina.

- Exatamente! E se modificamos esse padrão de comportamento?! Se os habituarmos a uma rotina, o capacitamos e só depois o encaminharmos a um trabalho!

- Talvez desse resultados, mas ainda não compreendi o seu raciocínio.

- Estou disposto a fazer esse experimento, pegar um homem que vive nas ruas, dar para ele condições de se manter economicamente e educar-se e ver se dentro de um ano ele consegue sobreviver sozinho!

- Parece maluquice! - ela olha-me com duvidas nos olhos.

- Talvez seja, mas precisa ser tentado. É isso. Rosana preciso ir. Nos vemos depois.

- Espere aonde você vai?!

- Preciso preparar um projeto de pesquisa e levá-lo ao conselho. Se eles aprovarem, poderemos testar nossa hipótese.

- E qual seria?

- Todo homem é capaz de viver de seus sonhos, desde que alguém o auxilie em seus primeiros passos. - Digo aumentando o tom da minha voz enquanto afasto-me.


***

Enquanto a cidade dorme: Ângelo FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora