ONE

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Um dos meus lugares favoritos sempre foi o mar.

Como a típica garota que cresceu na cidade, pensar no mar e na sua imensidão sempre foi algo inacreditável. E como minha infância não foi fácil, nós não tínhamos como simplesmente tirar férias no litoral. Sendo assim, a primeira vez que pisei com meus pés na areia foi aos 15 anos, depois de ser descoberta.

E isso aconteceu muito por acaso.

O tio de uma garota da minha escola trabalhava com um produtor musical que, coincidentemente foi assistir as apresentações de fim de ano da escola, onde me viu cantando. Ele filmou e mostrou para um conhecido, que mostrou pro outro e que mostrou pro outro... e de repente, eu estava recebendo ligações. Foi em questão de meses, ou melhor, semanas, para ganhar uma legião de fãs que me seguiam em todas as redes sociais e por todos os lugares que eu ia.

Foi então que um show foi marcado no Rio de Janeiro e eu conheci a praia pela primeira vez.

Quando os meus pés sentiram a areia fina e branca, que os massageava enquanto eu trilhava cada passo em direção ao mar. O mar que era tão imenso e bonito, que não parecia real, mesmo eu estando ali.

E eu me apaixonei.

Me apaixonei pelo exato tom de azul do momento onde o céu e o mar se unem no horizonte. Me apaixonei pela balanço do mar que guiado pelo som das ondas quebrando, parecia dançar a mais bela das canções. Eu me apaixonei pelo cheiro de verão, de areia molhada e água salgada. Eu me apaixonei por tudo ao meu redor e nunca mais consegui esquecer a sensação que aquela brisa me fazia sentir.

Mas assim como todas as coisas na vida, tudo tem seu lado positivo e negativo.

A fama tinha coisas maravilhosas, como os meus amados Any Stans, que se dedicavam a cada música lançada, a cada votação aberta e a cada campanha iniciada. A possibilidade de viajar para todos os cantos do mundo também era um ponto positivo. Conheci milhares de pessoas, cada uma com sua peculiaridade. Fiz amizades no México, no Senegal, na Finlândia, na Coreia e até mesmo na China. Cada lugar tinha a sua cultura, a sua culinária, suas tradições e suas vestimentas. E conhecer cada um desses lugares e dessas pessoas era renovador para a alma.

Porém os pontos negativos sempre estavam lá, principalmente a falta de privacidade. Eu sentia saudades de ser uma garota normal, que pudesse sair na rua com calma. Sentia falta de ir ao supermercado, de ir ao cinema, de ir até qualquer lugar que eu bem entendesse. Mas não era assim que as coisas funcionavam.

O trabalho era incessante e haviam dias onde a exaustão tomava conta de mim e meu único desejo era sumir. Mas eu era apenas uma garota normal de 19 anos e, em alguns momentos, nós desabamos.

E foi no fim da minha primeira turnê mundial.

Eu nunca imaginei que iria ser conhecida no mundo todo, mas quando assinei com uma gravadora americana e estourei nas rádios de todo o país, meu empresário achou que seria possível uma turnê mundial. E foi. Mas a minha mente e o meu corpo já não aguentavam mais.

Eu tinha passado os últimos 7 meses pulando de um quarto de hotel para outro, comendo milhões de refeições de restaurantes e conversando com pessoas que eu não sabia o nome. Minha mãe e minha irmã já não me acompanhavam mais, já que Belinha precisava frequentar a escola e nós exigimos que fosse uma presencial, porque queríamos que ela tivesse uma juventude normal.

Então eu estava sozinha, acompanhada apenas por pessoas que, por melhor que me tratassem e por mais legal que fossem, estavam ali porque eu pagava um salário para elas. Eu me sentia sufocada, me afogando em um mar invisível onde eu não conseguia lutar contra. Como se algo puxasse meu pé para o mais fundo possível e a luz desaparecesse aos poucos.

Ocean Eyes - BEAUANYOnde histórias criam vida. Descubra agora