Você pensaria que seria fácil conviver com uma pessoa depois que ela está morta. Não Paige. Ela leva suas obrigações de irmã mais velha muito a sério. Faz quatro anos desde que ela se afogou, e ela ainda está no meu pé.
— Você não está realmente usando isso para a escola — ela disse, empoleirada no ar logo acima da cabeceira da cama de ferro forjado da minha cama, seus tornozelos cruzados e inclinados para o lado. Era o jeito que ela costumava se sentar à mesa, quando fingia estar interessada em cada palavra do papai enquanto sua mente se afastava para tópicos escolhidos. Porém esses dias ela fazia isso sem uma cadeira.
— O que há de errado com eles? — eu perguntei, fechando o zíper do meu jeans. Ela estava vestindo jeans, também. Claro, seu jeans era apertado, capris de baixo corte. Os meus eram grandes e largos. Eu pisei na bainha tantas vezes que eles eram tão esganiçados como o meu tapete violeta, mas ei, eles eram confortáveis.
Paige franziu seu nariz petulante e sacudiu a cabeça. Era muito pouco as coisas que a faziam trabalhar, tais como o meu inexplorado senso de moda. Na maioria das vezes, ela tinha esse aspecto desbotado de lenço de papel, tão translúcida que eu podia ver através dela. Entretanto, bastava apenas chamar a sua atenção, e ela se iluminava como uma lanterna chinesa. Logo em seguida ela estava radiante, desde os cabelos loiros descoloridos até suas sandálias de tiras.
Alguns anos atrás isso me deixaria zangada. Nesses dias, eu estava acostumada. Era como um jogo: quão mandona ela poderia ficar, quão malcriada eu poderia ficar. Brincando de ser normal.
— Você nunca olha para si mesma, Cassie? — Paige disse. — Você tem coisas mais agradáveis no seu armário. É como se você quisesse ser uma relaxada.
— Há coisas mais importantes do que roupa, você sabe.
— Você poderia ao menos escovar o cabelo. Por favor.
Eu mordi meu lábio para tirar a franja dos meus olhos e sorri. — Tudo bem, se é tão importante para você.
Eu encontrei minha escova na pilha de revistas em quadrinhos, pratos sujos, e trocados em cima da minha cômoda e passei através da confusão de lama marrom do meu cabelo. Paige flutuou, sua mão roçando a minha cabeça com um formigamento leve. O cheiro de maçãs carameladas e canela saíam de seus dedos.
— Você pode ser bonita, Cassie — murmurou ela. — Você tem uma figura bonita, se você se vestisse para mostrar isso... um pouco de maquiagem, eu aposto que seus olhos poderiam parecer muito verdes, se você fizesse certo, e um novo corte de cabelo...
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Give Up The Ghost - Megan Crewe
ParanormalCass McKenna prefere a companhia dos fantasmas a dos vivos. Fantasmas não são complicados e dependentes, e eles sabem os segredos de todos... E Cass adora saber os podres. Ela está na missão de explorar os segredos sujos de seus colegas de escola. M...