Capítulo 2

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Fazia sentido que os mortos acabassem sabendo muito sobre todo mundo. Eles passavam a maior parte do tempo deles assistindo as pessoas, porque, realmente, o que mais eles poderiam fazer? Eles eram invisíveis e inaudíveis para os outros vivos. As coisas que as pessoas faziam quando elas pensavam que estavam sozinhas, os segredos sussurrados entre amigos, toda a sujeira que ninguém queria mexer: era visto e ouvido. E se eles achassem um ser vivente com ouvidos abertos, eles estavam mais do que contentes de contar tudo o que sabiam.

Por um longo tempo, eu nem tentava ouvir. Nas primeiras vezes que reagi aos fantasmas nos corredores, me marcaram como a garota maluca, acima de todo o resto. E então, um dia, era como se algo que eu estivesse prendendo firme dentro de mim escorregasse dos meus dedos e se quebrasse. Mamãe havia acabado de sair para um cruzeiro de oito dias. Eu estava passando pelo corredor com os olhares e as risadinhas de sempre, muito ciente de como a minha vizinha de armário murmurava alguma desculpa e saía correndo quando eu a cumprimentava. Os garotos que me seguiram do ensino fundamental para o Frazer fizeram o trabalho deles muito bem. Todos aqui sabiam que eu era uma louca, a ladra de garotos, a amiga gananciosa, e qualquer que fossem os rumores que nasceram desde então. Não que eles se incomodassem em descobrir se alguma dessas coisas eram verdade.

Norris e Bitzy estavam passando tempo no beco sem saída perto do meu armário. Eles estavam fazendo muito isso desde que eles descobriram uns meses atrás que eu podia vê-los. Eu os ignorei enquanto pegava as coisas que eu precisava para as aulas da manhã, mas não podia evitar escutá-los.

— Me deixa tão brava! — Bitzy estava dizendo, batendo seu pé. — Eles fingem que ainda são amigos na frente da Mary, mas é só fingimento agora, e ela nem percebe. Quem ela acha que contou para aquele cara que ela gosta dele para que então ele pudesse tirar sarro dela? Quem ela acha que jogou a roupa íntima dela no lixo?

Minhas entranhas se apertaram. Eu enfiei o livro que estava na minha mão dentro da minha bolsa e me agachei lá, escutando.

— Como eles conseguiram pegar a roupa íntima dela? — Norris perguntou, se concentrando, é claro, na parte mais importante da situação.

— Foi durante a aula de natação.

— Talvez eu devesse fazer uma pequena fiscalização no vestiário.

— Ah, credo! — Blitzy repreendeu. — Eu nem sei por que eu ainda falo com você.

— Tudo bem, eu entendi, é uma droga. Você tem algum outro ponto fora isso?

Blitzy suspirou. — Eu só desejava poder falar algo para ela. Por que não funciona igual aos filmes? Eu não posso escrever em espelhos, não importa o quão embaçado eles estejam.

Give Up The Ghost - Megan CreweOnde histórias criam vida. Descubra agora