𝐂𝐑𝐀𝐙𝐘 | 𝐍𝐄𝐘𝐌𝐀𝐑

PASSAR DO LIMITE

No primeiro toque do meu celular me levantei, 6h30 da manhã. Me arrumei sem fazer barulho pro meu irmão não reclamar e fiquei pronta em alguns minutos.

— Acordou cedo! — Mamãe me olhou arrumada para a escola.

— Pois é — sorri — não posso perder aula!

— Uau... — minha mãe sorriu — eu estou indo pro trabalho. Tenha um bom dia na escola, filhota!

— Bom dia mamãe!

Sorri para ela e ela fechou a porta saindo de casa. Ótimo, tudo certo nada errado. Comi com pressa e confesso que meu estômago revirava de ansiedade, chequei meu celular varias vezes, conferi o caminho que eu iria ter que fazer.

Olha Neymar, você não merece mas eu também não sou otaria de passar anos sofrendo por você. Então faça valer a pena!

Sai de casa e respirei fundo, um ônibus e um trem e eu estaria no hotel. Pelos meus cálculos o ônibus da seleção chegaria lá meio dia pra buscar eles, eu precisaria estar muito antes.

Fui o caminho inteiro nervosa, mamãe acha que eu estou na escola e minhas amigas acham que eu estou em casa doente. Era errado, mas dessa vez eu não deixaria passar! Pensava nas possibilidades de ser roubada, de me sequestrarem, de eu simplesmente sofrer um acidente dentro desse ônibus e tudo dar errado, mas foco, vai dar tudo certo!

No banheiro da estação me troquei. Um short e um cropped, eu estava linda eu acho... coloquei minha mochila nas costas e as meninas do grupo não paravam de esfregar na minha cara que conseguiram ver o Juninho no aeroporto, mal elas sabiam que eu tinha uma ideia muito melhor.

9h00 da manhã e eu estava lá, na frente do hotel. Em pensar que Júnior estava ali dentro meu coração palpitava, extremamente longe de casa, correndo perigo mas extremamente perto do meu ídolo.

Foi difícil esperar a hora passar aqui sentada, e o pior de tudo era ter que ficar distante do hotel para os seguranças não desconfiarem de mim. Vire mexe carros de luxo entravam e saiam do hotel e eu não podia deixar de ficar nervosa imaginando Neymar ali dentro, o que era improvável.

12h00 em ponto o ônibus enorme com o logo da CBF estacionou na frente do hotel, droga. Era agora? Eu errei o horário? Não importa, chegou minha hora de agir.

Me aproximei do veículo e todos os fotógrafos e repórteres estavam focados na entrada do hotel, de costas para a porta do ônibus. Mas o que me deixou irritada era o segurança na frente do ônibus, literalmente na frente da porta aberta do ônibus, com essa eu não contava.

Ir atrás do Neymar por tantos me deixou profissional em despistar seguranças, correr ou empurrar pessoas no meio de multidões. Então não demorei pra arrumar uma solução para o segurança enorme que fazia escolta na entrada do ônibus da seleção.

Mudei meu semblante e molhei meu rosto com a água que estava na minha garrafinha, espero que funcione.

— MOÇO, MOÇO POR FAVOR! — gritei chamando atenção do segurança e dos repórteres que estavam de costas pra mim antes disso — EU ACABEI DE SER ASSALTADA! EU PRECISO DAQUELE DINHEIRO, É PRA PAGAR MEU ALGUEL, MOÇO O BANDIDO FOI POR ALI, ME AJUDA!

— Moça... eu...

— POR FAVOR SENHOR SEGURANÇA, EU IMPLORO!

As pessoas olhavam para a cara do segurança esperando ele tomar uma atitude plausível que é no caso, ajudar uma pobre adolescente a recuperar seu dinheiro roubado.

— Com que roupa ele estava?

— Ele estava de azul e bermuda preta! Corre moço, me ajuda, eu vou ficar aqui!

— Tá ok, fica aqui. Pedrão, desce aí! é fica no busão, vou precisar sair!

Pude escutar ele chamar um outro segurança pra ficar em seu lugar e agora eu precisava ser ágil e rápida. Os repórteres olhavam o segurança correr para onde eu apontei que o falso ladrão foi mas logo voltaram a focar em registar algum momento em que os jogadores apareceriam.

E foi a minha chance. Em segundos corri para dentro do ônibus e me deitei no corredor do ônibus luxuoso e perfumado, merda Beatriz você é maluca!

Engatinhei para o último banco do ônibus e fiquei agachada ali, escutei dois homens conversarem

"ela tava aqui pô" "mas agora não tá mais! e agora?" "deve ter fugido..." "tem certeza que essa mina não era nenhuma fã maluca?" "não, pedrão! a menina tava arrumadinha até" "pegou o ladrão pelo menos?" "não..."

Respirei fundo e pelo menos o primeiro passo eu tinha dado agora era só esperar.

Horas e horas passaram e eu ainda estava aqui, encolhida, no chão entre um banco e outro. Como de costume, muitas meninas gritavam lá fora, eu podia escutar daqui. E por isso meu plano funcionaria, eles sempre pedem pro Júnior entrar primeiro pra diminuir a euforia das fãs e se tudo funcionar como eu planejo, Júnior sentaria bem aqui, como todas as vezes.

— NEYMAR!!! AAAAAA

— JUNINHO EU TE AMO PARA AQUI!!!!

— TIRA UMA FOTO COMIGO, NEY AAAAAA

Ele estava vindo. Ele estava vindo.

Eu mal conseguia respirar, estava nervosa, ansiosa e eu juro que eu queria vomitar. Escutei alguns passos e um perfume forte invadir o local, era ele.

MEU DEUS ERA ELE.

Eu queria gritar mas eu não podia então esperei.

— Mas que porra é essa?

Júnior me olhava encolhida no chão

— Fica quieto, por favor! — pedi desesperada — Senta e fica quieto, se der, me cobre também. Eu preciso ficar aqui! — sussurrei.

— Quem é você sua maluca? Eu vou chamar a polícia!

— Não! — controlei meu grito — Neymar, por favor. É meu sonho te abraçar, por favor, não estraga... me deixa aqui. Se você chamar a polícia eu to muito fodida, só tenho dezessete anos.

Neymar me avaliou por uns segundos outra pessoa vinha aí.

— Pagode no fundão hoje Juninho? — Era a voz do Marcelo.

— Tô de boa parça. Na volta pode ser?

Júnior falava com o amigo intercalando seu olhar pra mim e para Marcelo.

— Fechado então.

Neymar assentiu e se sentou, abracei minhas pernas dando espaço pra ele colocar as pernas dele e Júnior ainda me encarava e eu queria chorar.

— Qual é o seu nome?

— Beatriz. — Eu estava com falta de ar.

— E você fez isso tudo só pra me ver?

Assenti esperando alguma bronca.

— Vocês passam do limite!