Anele se viu profundamente entediada com aquela falação toda a sua volta. Afundada num sofá verde de veludo revirava os olhos brilhantes esboçando pura insatisfação e desdém por aquela cena patética.
―Que gente mais entediante, gritando e gesticulando feitas loucas por uma coisa tão... Normal... Ah... Muito normal... Gemeu Anele lascivamente mordendo os lábios umedecidos.
***
1833
Cinco horas de um fim de tarde ensolarado no Bosque Saint John's
Paris / França
A moça loira de corpo sinuoso e pele clara caminhava usando seu guarda sol rosa para se proteger da luz ainda intensa. Em breve minutos o sol se poria e a noite chegaria. Não era prudente caminhar àquela hora, mas Anele era uma moça de comportamento incomum. Sua mãe, uma condessa portuguesa que se casara com um conde francês num belo casamento arranjado, vivia com os cabelos arrepiados e os nervos a flor da pele pelos arroubos de sua única jovem filha. Quase sempre envolvida com boatos de se comportar libertinamente com os rapazes da corte. Isso mesmo! Rapazes no plural. Anele por sua vez se entediava rapidamente com eles. Sempre lhe tocando do mesmo jeito, fazendo os mesmos movimentos copiados, os mesmos beijos, as repetidas posições... E se por acaso ela ousasse "inovar" durante o ato de prazer, eles simplesmente recuavam. Sentiam-se chocados com a sua modernidade.
― Rapazes da corte. Puritanos em demasia. Eles me cansam por demais. Lamentava Anele pra si mesma enquanto caminhava. Sua dama de companhia a olhou, mas não perguntou nada. Estava acostumada com a senhorita que falava sozinha e muito pouco se direcionando a ela.
Anele cansou de caminhar e resolveu assentar-se num banco próximo a um grande carvalho. Sua dama de companhia assentou-se ao seu lado quieta. Entretanto num dado momento elas ouviram um som de folhas e galhos se quebrando logo atrás delas e se assustaram. Quando as moças se voltaram alarmadas para verem o que poderia ser... Anele se surpreendeu. Um homem de grandes olhos castanhos escuros a mirava espantado escondido atrás do carvalho de tronco largo: Camisa branca de cadarços entreaberta mostrando um peitoral rígido que foi impossível de Anele não reparar, calças com o cós aberto e a mão direita na boca pedindo que ela não falasse nada. Anele segurou a mão de sua dama de companhia, quando dois guardas do castelo chegaram apressados com espadas desembainhadas nas mãos.
― Senhoritas, boa tarde! Cumprimentaram eles ofegantes.
― Boa tarde. senhores. Respondeu Anele calmamente.
―Procuramos um homem alto de cabelos e olhos escuros, descomposto. As senhoritas viram alguém assim passar por aqui? Arguiu-lhes um dos guardas, um bem jovem, de olhos claros, que conhecia Anele biblicamente. Anele sorriu e respondeu:
― Não Joseph. Não vimos ninguém passar por esse bosque tedioso. Os guardas pediram licença e se retiraram. Joseph ainda lançou um olhar malicioso para Anele, porém a moça não retribuiu. Possuía agora uma nova distração.
O homem de olhos castanhos saiu de trás da árvore olhando para todos os lados. Os cabelos nos ombros desgrenhados. Passando as mãos por eles, aproximou-se de Anele e beijou-lhe a mão sem ao menos lhe pedir permissão.
―Esse ganhou pontos comigo. Pensou Anele. Sua dama de companhia por sua vez achou um absurdo a audácia do tal moço, mesmo que o fizesse com a senhorita Anele. ―Ela é uma senhorita da corte. Uma nobre. Uma nobre promíscua, mas ainda assim, uma nobre. Ele parecia... Apenas um simples camponês. Belo e viril. Contudo um camponês. Suspirou a dama de companhia em seus pensamentos.
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7 CONTOS - NINGUÉM É O QUE APARENTA SER! AUTOR: KIEVE HAVIN.+ 18
ContoO SER HUMANO É UM ADAPTADOR POR NATUREZA. COMPLEXO NOS MÍNIMOS DETALHES DE SUA MENTE. MÁSCARAS, OLHOS E DISFARCES SÃO SUAS PODEROSAS ARMAS.