Capítulo 3

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Enquanto aproveitava o banho de espumas na banheira repassava na mente a briga violenta que teve com o pai por conta do que tinha falado do homem que confundira com um campista, mas que agora tinha um nome: Sebastian Zouvelenski.

— Como se atreve, Maria Laura?! — Octávio, a repreendeu duramente quando se encontraram a sós na sala.— Pensei que sua estadia na Europa tivesse curado você dessa sua tendência a ser impulsiva e cabeça dura! Não percebe que, como nada ainda foi assinado, você pode ter prejudicado todas as negociações?! — Uma veia saltava no rosto vermelho de raiva do pai.

— Pois se isso acontecer, saiba que ficarei muita satisfeita! — O desafiou, levantando o rosto. — Você não pode vender o Solar para um homem daquele tipo! Você tem que achar alguma outra saída!

— Se houvesse, Maria Laura, eu certamente já teria achado! — retorquira de modo seco. — Agora, você... francamente! Não passa de uma mimada! Uma mimada, mal criada e orgulhosa! Eu errei muito pensando que estaria contribuindo para sua formação ao tentar protegê-la de certas realidades da vida, mas a que ponto me enganei!

— Ah, faça-me o favor! Agora vai dizer que me protegeu dos possíveis "Sebastians" que existem por ai!?! — disse desaforada. — E ainda digo mais! Ele não poderá ter nossa propriedade de modo algum!

— Ah, mas ele vai! — disse o homem mais altivo ainda. — Não só vai, como espero ardentemente que se mude para cá! E quanto a você, Maria Laura, não vai fazer e nem mesmo dizer nada que possa colocar em risco a venda!

Remoendo-se de revolta, percebeu que de nada adiantava lutar ou muito menos se opor. Naquele momento, realmente era ridículo o modo como agia e de fato parecia "birra". Mas como fazer o pai enxergar que o comprador não combinava com a importância daquele lugar?

Exasperada, calculou o quanto tinha de dinheiro guardado na tentativa de fazer uma oferta a seu próprio pai, mas com desgosto e muito, muito relutante, percebeu que nem chegava perto do preço do qual o Solar estava sendo anunciado. Ali, percebeu que por mais que a ideia lhe doesse e o orgulho queimasse, ponderou ser melhor baixar a guarda e abrir mão daquela briga. Realmente, seu pai estava certo ao dizer que ela estava se comportando de um modo infantil. Não queria admitir que estava com vergonha por ter feito toda aquela cena na frente do grego, e jamais admitiria isso.

Ainda resistente, respirou fundo, controlou os ânimos e respondeu polida e em tom apaziguador.

— Bem, quanto a isso, não precisa se preocupar, estou certa de que não existe outro modo de fazer com que esta situação melhore..., mas também não vou ajudar pra que piore. E aliás, vou fazer de tudo para que meu caminho jamais volte a se cruzar com este... — Recebeu um olhar mordaz do pai e se conteve. — ... possível comprador.

Ainda acalorado pela discussão, o rosto de Octávio denotou de repente um brilho de surpresa, logo no início das palavras de Maria Laura, mas se fechou ao escutar as últimas.

— Na verdade, Maria Laura, você o verá outra vez. — Assegurou-lhe de modo seco. — Ele jantara conosco e ficara para o baile.

Os olhos dela se arregalaram encarando o pai como se de repente nele crescesse uma segunda cabeça, e assim, todo o auto controle que havia preservado, lançou fora.

— Você só pode estar brincando! Ele não pode ser convidado!— desesperou-se pelo vexame.— Meu Deus! A nossa reputação está em jogo, pai! A alta sociedade pensará que gostamos de alpinistas sociais, que o estamos promovendo de alguma forma!

— E por que não estaríamos? — Reagiu com um murro na mesa. — Onde foi que você aprendeu a ser esnobe, arrogante e tão desagradável!? — o homem não conhecia a filha que tinha. — Possa ser que Sebastian tenha herdado dinheiro, mas ele fez uma fortuna por sua própria conta desde que assumiu o império do pai! E no mundo de hoje, é o dinheiro que conta, minha querida! Olha só como estamos! — Octávio bradava.— E não o julgaria, se fosse você! Ele até agora, ele tem sido muito bom nas negociações! — Parecendo farto, ele se deixou cair na cadeira confortável e retirou os óculos de grau do rosto, jogando-os sob a mesa. — Eu só espero que você não tenha estragado tudo com seu espetáculo de agora a tarde! — A olhou de modo sério. — Ele tem a reputação de ser um negociador muito implacável.

Uma Doce LiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora