O sol surgiu machucando os olhos de Chawla e despertando-a de um sono mal dormido. Suspirou e começou a andar pelo escritório para esticar as pernas. O cansaço e excitação revezavam o lugar no seu peito, com uma boa pitada de dor no corpo. Nenhuma simulação tinha sido tão complexa, detalhada e focada em atingir a singularidade. Como não pensara nisso antes? Mais de vinte malditos anos e nunca havia lhe passado pela cabeça o mais óbvio? De fato tudo parece mais fácil visto em retrospectiva, mas colocar a si mesma na simulação deveria ter lhe ocorrido muito antes.
Chawla fechou as cortinas para bloquear a entrada do sol, bufando com a dor atrás dos olhos que a luz forte lhe causava. A mensagem de simulação carregada piscava no monitor à sua frente, pedindo para começar. O tempo de simulação seria de quatro horas e trinta e sete minutos. Chawla iniciou a simulação e foi se deitar.
O sono foi inquieto e cheio de sonhos vívidos. Estava presa dentro de um olho formado por pequenas escamas ásperas, esverdeadas, transparentes e feitas de um material que lembrava metal ou vidro riscado. A tonalidade de verde mudava ao toque, ficando mais escuro e opaco, perdendo a transparência.
Um pássaro gigantesco e sem penas, similar a um corvo, voava em círculos acima do olho, baixando vagarosamente. Um corvo gordo, sem penas e assustador. Conforme se aproximava do olho, Chawla percebia mais detalhes. Sua pele trocava de cor, passando de rosa para tons de cinza, que escurecia para tons mais azulados, por fim ficando pretos e voltando ao rosa, em uma espécie de ciclo. Observando mais de perto, Chawla percebeu que não eram apenas as cores que mudavam, mas a pele do corvo envelhecia, morria e renascia, com pequenos farelos escuros caindo como cinzas.
O corvo abriu as asas num movimento rápido e aterrissou no topo do olho, derrubando Chawla com o impacto. Ela se arrastou para trás, tentando se afastar do pássaro que, por sua vez, baixava a cabeça para encará-la dentro do olho. Aterrorizada, Chawla percebeu que os olhos do corvo eram humanos, com um tom castanho claro e uma expressão que a lembrava um cachorro curioso.
O corvo gritou alto e começou a bicar o olho, tentando quebrá-lo para chegar até ela. O som das bicadas começou a ecoar no interior com um som eletrônico e estridente. Pehh! Pehh! Pehh!
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