Papai estava sentado ao pé de minha cama, acordei assustado e olhei para ele.
- Papai?- ele se aproximou.- O que está fazendo aqui?
- Querido...- ele estava sussurrando.- Escute... Papai precisa conversar algo sério com você.- assenti com a cabeça.- Nós teremos uma visita em nossa casa, querido, ela ficará por um tempo... Eu quero te pedir só uma coisa... Mas você precisa me jurar que não vai me desobedecer.
- Tudo bem, papai.
- Escute, Augusto. Eu quero que você jure! Jure!- ele agarrou meus ombros e sacudiu, não pude deixar de demonstrar que estava assustado.
- Eu juro, papai, eu juro!
- Tudo bem...- ele suspirou e parou os movimentos.- Ela vai estar aqui, só por algumas semanas, mas, você não pode, em hipótese alguma, falar com ela. Não olhe para ela, não pense nela. Apenas... A... Ignore.
Mesmo no escuro, pude ver o medo e o terror nos olhos de papai, ele ainda segurava meus ombros, mas logo que terminou a frase, relaxou me dando um abraço caloroso e longo. Eu não havia entendido nada, não conseguia deixar de pensar na tal visita, mas obedeceria papai, a ignoraria, e mesmo com as palavras ecoando em minha cabeça, fui tomado pelo cansaço e adormeci.
Os raios do Sol tomaram meu quarto, acordei animado como todos os dias, era um dia quente, desci as escadas rapidamente indo em direção a cozinha, um frio tomou meu corpo, o tempo agora parecia pronto para uma tempestade. Mamãe fazia ovos, enquanto papai e Rosie estavam sentados na mesa, não pude deixar de notar uma quarta figura, encostada no balcão, junto de mamãe, o cheiro agridoce irritou meu nariz me fazendo tampa-lo imediatamente, papai deu-me um leve sorriso assustado, gesticulando para a cadeira.
Todos estávamos sentados ali, mamãe serviu os ovos e a figura locomoveu-se até a mesa, observando que não tinha um lugar para se sentar, eu não olhei em seu rosto, o mesmo estava coberto por um camada grossa de cabelos negros, sebosos, parecia ter tomado chuva, voltei meus olhos para o prato enquanto Rosie fazia o mesmo, por debaixo de seus cabelos cor-de- mel, eu pude notar seu medo, ela tremia seus lábios enquanto um de seus dedos enrolava um fio de seus cabelos.
- Rosie!- papai exclamou fazendo todos pularmos das cadeiras- Coma seu café da manhã!
- Não estou com muita fome...- ela manteve a cabeça baixa, enquanto afastava o prato.
- Coma, querida!- mamãe disse docemente.
A mulher deu a volta indo em direção à Rosie, todos ficamos em alerta, sussurros inaudíveis foram pronunciados pela figura, Rosie não demonstrou nem falou nada, apenas pegou seu garfo e começou a devorar tudo, apavorada terminou em um minuto, saindo da mesa correndo, papai foi até ela. A mulher sentou-se no lugar de Rosie, levantou sua cabeça, foi quando seu cabelo saiu de seu rosto, ela olhou para mim. Seu rosto era disforme, como se tivesse pego fogo e depois sido jogada num rio e ali ficado por dias, eu abaixei a cabeça, sem conseguir tirar a imagem do que tinha acabado de ver.
Quando terminei meu café da manhã fui até a sala, onde Rosie estava deitada no colo do papai, ela chorava enquanto ele dizia que ela precisava ser forte.
- Serão apenas algumas semanas, Rosiberry...- esse era o apelido que papai chamava Rosie.
- Eu... não vou... aguentar.- ela disse em meio a soluços.
Papai a abraçou e eu resolvi subir até meu quarto. Me tranquei lá, eu não queria que aquela mulher viesse até mim, eu não sei o que ela disse à Rosie, mas a pobrezinha pareceu abalada, coloquei uma música para tocar e me deitei na cama, era domingo, um dia meio parado.
Acabei dormindo, mas quando acordei pude perceber a mulher parada ali, eu quase perguntei que diabos ela estava fazendo lá, mas apenas fiquei em silêncio. Ela se virou pra mim e eu quase gritei, virei meus rosto na direção oposta, fingindo estar sonolento ainda.
- Sabe, Augusto, sua irmã tem medo de mim...- ela aproximou seu rosto de mim, mas eu mantinha virado.- Você tem medo de mim, Augusto?
Mentalmente eu gritava: NÃO RESPONDA! NÃO RESPONDA!
Ela ficou por longos dois minutos ali, esperando minha resposta, eu me mantive calado, enquanto ela parecia impaciente, ela saiu, passos lentos que levaram uma eternidade. Logo que ela saiu, Rosie entrou fechando a porta, que eu jurava que estava trancada quando me deitei, mas como a mulher a abriu?
- Gus?- Rosie tinha sua voz de choro.- Você quer saber o que a mulher falou para mim?- meu corpo tremeu.
-Não, Rosie, nós temos que ignora-la, papai não te disse?
- Sim, mas...
- Rosie, nós não podemos sequer pensar nela, pare!
- Ela pediu para que eu te contasse, Gus...
- Rosie, por favor... Papai pareceu apavorado...
- Ela disse que vai te levar junto com ela, Gus. Para o lugar encantado...
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Delírios de uma mente quase sã
HorrorContos, divididos em algumas partes, capítulos e devaneios de uma noite de insônia. Não leve muito a sério, mas se quiser, fique a vontade. Contém gatilhos e violência explícita.