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        —Eu não quero ser só mais um jogador de futebol, embora seja o que eu mais me identifique fazendo agora... –Jackson falava sem parar a incógnita jogar futebol ou não jogar futebol e Sehun não sabia mais se estava ouvindo toda a conversa ou apenas pegando pontos específicos. Não era como se ele não estivesse se divertindo, já que tinha comido tanto salgadinho que sentia a calça levemente mais justa na barriga e também tinha bebido uma tacinha vinho depois que conseguiu jogar metade da garrafa de cerveja dentro de um vaso chique. Vinho acabou se provando não muito melhor, mas ele tinha a experiência agora.

        Já passava da meia-noite e Sehun só havia se dado conta por causa do relógio da cozinha, onde ele comeu boa parte dos salgadinhos. Ainda tinham tempo antes de levantar acampamento, mas parecia que o ponteiro se arrastava preguiçosamente pelos segundos enquanto Sehun sentia os olhos cansados e o humor mudar para algo levemente enjoado. Mesmo assim, ele sorria gentil toda vez que via Jackson sorrir e ria quando ele ria, porque sua mãe havia lhe dado educação, afinal.

        Mas não podia culpar apenas o horário e Jackson por seu humor estar virando uma merda. Baekhyun simplesmente sumiu com Chanyeol pela festa o deixando totalmente sozinho e desajustado naquele lugar, como sempre acontecia quando Sehun se deixava ser arrastado para "festinhas" por seu amigo cabeça oca. Primeiro ele pensou que aquilo poderia ser um castigo por desobedecer sua mãe por uma festinha besta e os dramas de Baekhyun sobre perder pelo menos sua virgindade de boquete até o inverno (ele não queria sair do colégio sem ter tido uma experiência sexual real com alguém, porque acabaria sendo um desajustado na faculdade e tudo seria uma merda, pois Sehun não estaria lá com ele para roubar o título de mais virgem). A mão quente de Jackson estava em sua coxa de uma forma um tanto confortável, pois ele não estava alisando ou fazendo qualquer coisa esquisita, era simplesmente um gesto que ele nem mesmo tinha se dado conta de que estava fazendo. Naquela parte da noite, os dois haviam se dado conta de que nada aconteceria entre eles e terminar na amizade não era tão ruim.

         Algumas pessoas já tinham caído pelos cantos e outras pareciam continuar firmes na pista de dança, se balançando de forma bêbada por ai, nem mesmo se importando em seguir um ritmo.

        Será que boa parte conservadora da Seongnam sabia que essas coisas aconteciam debaixo de seu nariz? Alguns anos depois, já como um adulto, Sehun se deu conta de que era óbvio que eles sabiam. Dali mesmo saíram prefeitos e até candidatos a senadores, todos com um discurso ainda mais duvidoso do que se podia pensar, pregando sobre bons costumes e valores familiares. O conservadorismo não existia na elite, mas eles precisavam criar dois lados da moeda para que as pessoas comuns criassem grupos distintos e se dividissem, para que nunca se tornassem fortes o bastante para se unir contra eles.

        Então, enquanto Baekhyun perdia sua virgindade de boquete, Sehun comia os salgadinhos cheios de gordura (mas muito bons, cacete!) enquanto pensava na politica retrograda de sua cidade natal. Porra, talvez Baekhyun tivesse toda razão... não sobre a virgindade de boquete, é claro.

        No momento em que Jackson se distraiu com outro estranho ainda mais bêbado que ele, um rapaz de cabelos em um tom rose que sorria fácil e tinha um sotaque engraçado na voz (aquele era o jovem Mark Tuan, que seria o vocalista do Black Ink Demon em 1995 e seguiria assim até o fim da banda, em 1999, mas naquela época ninguém sabia disso e ele era apenas um cara que tocava bem o baixo e fazia a segunda voz de Suho), Sehun se afastou um pouco, sentindo que seu rosto já estava sujo para cacete com aquela maquiagem e seus olhos estavam um pouco irritados com aquilo. 

        Enquanto caminhava de um lado para o outro na casa, procurando por um banheiro que não tivesse alguém vomitando a alma ou transando na pia, Sehun o viu novamente como se fosse uma miragem. Lá estava aquele cara com jeito de galã dos anos cinquenta, sozinho na varanda de trás da casa, curtindo seu próprio mundo. Girando, dançando e rindo, ele parecia fazer parte de uma festinha particular na própria cabeça e ninguém mais havia sido convidado. Sehun tinha o direito de olhar aquela cena, apoiado na parede e sorrindo para a forma que ele parecia outra pessoa iluminado pela lua e as luzes violeta da varanda? Provavelmente não, mas não conseguiu se mover mesmo assim. 

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⏰ Última atualização: May 22, 2019 ⏰

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This Charming Man {seho/hunho}Onde histórias criam vida. Descubra agora