As mãos começam a suar, meu peito acelera, calafrios constantes começam a me assombrar. Meus pensamentos me destroem, tento lutar contra o lado de mim que diz que mereço tudo isso. As mãos agora entortam, meu estômago revira como se fizesse a dança do acasalamento, mas não está. Eu vomito uma, duas, cinco vezes até que me conformo: preciso ir ao hospital. Lágrimas agoniadas escorrem pelo meu rosto, sem conseguir abrir os olhos direito, ouço os comentários das pessoas: “o que ela tem?” “isso não é normal” “tadinha. tão jovem…” queria poder gritar, dizer que ao invés de apontarem seus dedos sujos para mim, poderiam guardar seus comentários que só pioram a situação pra outro momento. Que pelo menos poupassem minha mãe, que chora só de me ver assim pela centésima vez nesse mês.
Me olho no espelho do hospital, não me enxergo como a menina que meus pais vêem, ou um dia viram, já não sei. Vejo um monstro que construí e no fundo nem entendo os motivos. Eu não era uma pessoa boa? Quero morrer, digo pra mim mesma. Quero morrer! É o meu grito que agora ecoa no banheiro sujo que fede ao meu próprio vômito. O trabalho que dou pras pessoas, o peso que passo pra elas, nenhum deles merecem isso. Eles me amam tanto, fazem tudo o que podem e ainda sim me sinto só, é como se eternamente eu fosse um espírito solitário e invisível, por mais que as pessoas tentem de alguma forma se comunicarem comigo. Eu vomito de novo, eles enfiam remédios na minha veia pra me dopar, “ela vai ficar calma” o médico diz. Mas do que adianta vocês acalmarem meu corpo e não fazerem nada pelo meu coração? Sinto minhas pernas adormecerem, pouco a pouco vou caindo no sono, é como se aquelas drogas pudessem afastar os monstros que gritam na minha cabeça e dizem que não sou boa o bastante.
Abro meus olhos, vejo minha mãe e o último cara que presta no mundo, ele segura minha mão e minha mãe dá um sorriso amarelo, seca as lágrimas. Fecho os olhos novamente, ainda meio grogue. “Ela está bem, pode ficar calma” diz meu namorado, consigo sentir sua mão suando, sei que ele não está tão calmo quanto gostaria. Ela passa a mão em meus cabelos, com amor, sinto seu calor aquecer minha cabeça inteira. Respiro fundo e junto todo o ar que consigo pra soltar algo que acalme eles “estou bem, não se preocupem” e ouço suas gargalhadas, aliviados.
Chegando em casa sinto ainda minhas veias quase que pulsarem, é como se o inferno fosse dentro de mim agora. O fato do efeito do remédio estar passando faz com que minha pressão caia, vou ao banheiro tentando não alarmar novamente meus entes tão amados, como se eles realmente pudessem fazer algo pra evitar. Fica-calma. Está-tudo-bem. Você-está-segura-agora. Repito pra mim mesma, pausadamente, respirando fundo, como um mantra que vai fazendo o mesmo efeito dos remédios que mais cedo haviam sido injetados em minha corrente sanguínea. Ele bate na minha porta. “Está tudo bem, amor?” Respondo da forma mais calma que sim, mas ele sabe que não. Talvez pela demora no banheiro, talvez pelo tempo que durou minha resposta. Ele abre a porta, segura minha mão. “Você precisa se controlar, está tudo bem” e isso piora as coisas, minha vista escurece, me sinto pressionada a ficar bem, mas ao mesmo tempo o fato de eu saber e lembrar que não possuo quase nenhum controle disso me desesperam. Ele percebe meu suor escorrendo por meu rosto, fala alto “você precisa reagir, reage!” como se fosse uma escolha, como se aquilo não me fodesse bem mais do que a ele. EU NÃO POSSO FAZER NADA! Grito. E o silêncio paira pelo ar. Ele me olha, decepcionado. Solta minha mão, desistindo de tentar me ajudar. Vejo ele virando as costas, acendendo um cigarro, me olhando enquanto pensa numa resposta boa o suficiente. Eu choro, choro porque não quero fazê-lo sofrer mas ao mesmo tempo vejo que ele não é capaz de compreender algo que nunca viveu, isso dificulta tudo pra nós dois. Eu só queria que alguém entendesse que eu não escolho me sentir assim, ninguém quer quase morrer num mal estar que não tem fim, todas as vezes que minha ansiedade vem é pior, as crises são cada vez mais intensas e sinto como se um dia elas fossem me vencer.
Espero que as pessoas que lerem isso hoje, ou no futuro saibam que eu tentei todas as vezes lutar contra, que nunca foi uma escolha ou algo que eu pudesse controlar. Eu quis poupar todo mundo, mas no fundo sei que ninguém nunca me poupou e hoje esse acúmulo de mágoas e de palavras não ditas quase que me enforca. Lembrem-se de que eu lutei todas as vezes, mas nem sempre venci. Meu peito agora dói tentando segurar a respiração ofegante, evitando que as pessoas em volta no meu trabalho percebam mais uma das minhas crises, aqui isso também é visto como frescura. Eu queria não ter sido tão frágil o tempo todo, se soubesse que isso tudo aconteceria, teria dito todas as vezes que algo me machucou, mas agora é tarde demais. A psicóloga me diz que nunca vou me livrar da ansiedade, que vou precisar aprender a lidar com ela assim como lidei com o gênio das pessoas ruins que cruzaram meu caminho. Eu queria que fossemos amigas, juro. Mas constantemente estamos em guerra e nem sempre estou blindada o suficiente pra ser pega de surpresa.