🌸

14 0 0
                                    

[ Imagem fofa homenageando nossa Annabel. ]

Já faz mais de 4 horas que o garoto ruivo está desacordado na maca da enfermaria - que fica bem atrás da minha farmacia-olhei para o relógio na parede e vi que já se passavam mais de meio dia e meu estômago roncava. Na cadeira ao meu lado está a enfermeira Josie, ela tricotava alguma coisa enquanto eu ainda olhava pro garoto, e, colocava minhas unhas na boca, roendo-as.

— Eu acho que ele só vai acordar amanhã — Comentou Josie ainda focando no seu tricô.

— Eu quero saber quem ele é, ele não tem um ar de garoto misterioso? — Sugeri ainda olhando para o garoto ruivo.

— Ele tem um ar de... Garoto depressivo, ou.. — Ela colocou uma agulha na boca e começou a mordê-la.

— Garoto perigoso? — Palpitei.

— Talvez— Ela se levantou e deixou o tricô encima da cadeira — Quer ir almoçar na minha casa? É mais rápido.

Olhei mais uma vez pro garoto ruivo, e se eu for almoçar e ele acordar?

— Não, tudo bem. Eu vou fazer mais soro e vou comer em casa. — Ela concorda e então sai.

E eu fico sozinha com ele.

Sento na cama e toco seus fios ruivos, eles estão ressecados, mas continuam brilhantes, todo a ponta de seu nariz e vejo que é tão fino e cheio de sardas.

Toco em suas bochechas rosadas, rosadas até demais.

Subo minha mão até sua testa e percebi que ele está com febre.

Levanto e vou até a pia, aonde pego um pano e encho uma bacia com água gelada.

Quando enche pela metade desligo a torneira e vou pra perto da maca, já que a maca é pequena me dou a liberdade de me ajoelhar.

Coloquei o pano em sua testa, deixei e depois torci, fiz isso por quase meia e quando percebi que a febre abaixou, respirei aliviada.

Não quero ter que cuidar de alguém e depois ver que a pessoa morreu.

Não de novo. 

Me afastei e abri a uma fresta da janela lateral, para entrar um ar gelado e não ficar abafado, olhei pra rua e vi duas garotas brigando, não estavam se batendo, mas discutindo e empurrando umas às outras.

Eram Mary e Katy, as duas eram gêmeas
e sempre vivam em sincronia, ajudavam todos e não eram a favor de brigas.

Mas estavam brigando.

Sai de dentro da enfermaria em direção à rua, alguns tentavam acalma-las, mas parecia que a discussão era feia.

Muito raramente acontece brigas ou discussões por aqui, já que eles sabem que eu não tolero violência.

Só de chegar perto, já sinto tensão no ar, uma nuvem de energia negativa, e fico bastante brava quando isso acontece.

— Você não tem nenhuma chance com ele! Já se vou no espelho, Mary?!

— Cale e boca, Katy! Eu tenho a mesma idade que você, sua inútil! — Mary deu um tapa da no rosto de Katy e esse foi o estopim para que a briga ficasse feia, mas antes que alguma das duas se machucassem seriamente, passei meu braço pela cintura de Katy e a puxei pra trás, a irmã mais nova delas, Liz, fez o mesmo com Mary.

Depois de afastadas, olhei-as desacreditada.

— Eu já disse um vez, e vou repetir pela última! — Falei bem alto para que todos ouvissem — Aqui é um lugar Pacífico sem brigas, não há nenhuma necessidade de violência, não somos como os outros lugares em que a violência corre solta, não quero que um ato desse se repita. — olhei para as duas que se encaravam com um misto de raiva e culpa, as pessoas esta em volta e tudo estava silencioso — Voltem para seus afazeres, Mary e Katy, sigam-me.

Depois que todos foram se afastando, percebi que a nuvem continuava lá, mas estava se dissipando aos poucos. Bem lentamente.

Estranho.

— Ela que começou com tudo Senhorita Annabel! — Disse Mary chorosa — E..E eu fiquei com raiva e deixei me levar pelo seu palavreado malvado.

— Como pode ser tão mentirosa? Você que começou espetando-me com rudez! Disse que meu nariz não eras o suficiente pra ele! — Suas bochechas vermelhas inflaram de raiva.

— Mas não é mesmo! Farei um cartaz com todas as assinaturas confirmando que seu nariz não és perfeito.

Quando Katy iria devolver mais um comentário me levantei e elas ficaram em silêncio.

Por que essa briga me intriga tanto?

Tem algo de errado e eu vou descobrir.

— Primeiro de tudo, quero que saibam que as duas são bonitas e, não são obrigadas a se rebaixarem para se sentirem superior, apenas para agradar... Ele? — me senti estranha pronunciando esse pronome — Ele quem?

— Ah as vezes eu esqueço que a senhorita não pode..— Katy deu um beliscão em Mary, antes que a irmã terminasse a frase.

— O garoto ruivo que chegou ontem — Respondeu Katy — Ele é bonito demais para pessoas como Mary — Alfinetou de novo a irmã.

Fechei a porta, deixando um ramo de lavando para proteger o lugar. Também fechei as janelas e as cortinas, sentia o peso da tensão e ódio e, isso era apavorante.

— Senhorita Annabel? — perguntaram as duas de uma vez.

— É um feitiço — Murmurei para mim mesma — Mas somos mais fortes que ele, não somos, Anna? — Fui até a minha prateleira e comecei a brincar com meus continentes preparando um chá. — Já vai passar — Murmurei enquanto terminava e pingava uma gota no chá que tinha feito. Coloquei em duas xícaras e levei até as gêmeas.

— Bebam — ordenei com a voz mais forte que o normal.

Elas se entreolharam e beberam.

Mas reagiram de um jeito estranho.

Começaram a tossir e ficar com o rosto vermelho, mas o que tinha de mais? Era um simples chá com um tônico para ilusões.

Já vai passar, eu sei que vai.

Mary e Katy estavam repelindo o feitiço sim, mas estava machucando-as. Mary começou a tossir e Katy tinha suas mãos nas têmporas e sussurrava alguma coisa.

Sentia cheiro de brasa, instantaneamente olhei para a lareira e o fogo estava mais alto, mas o que me assustou foi quando me virei e vi brasas saindo das bocas das meninas e logo em seguidas elas desmaiarem.

Isso é estranho, porquê nunca aconteceu antes e sinto que as coisas por aqui só vão piorar.

[ Não revisado, desculpem os erros. ]

Amor Gelato Onde histórias criam vida. Descubra agora