Sinto os fracos raios do sol por cima das minhas pálpebras.
Já é de manhã e eu preciso trabalhar.
Levanto da cama e passo a mão pelos meus fios negros, lentamente o desembaraço com meus próprios dedos e logo em seguida faço uma trança, enquanto arrumo minha agenda mental do dia.
1º Tomar café.
2º Me arrumar.
3º Trabalhar.
4º Ajudar o vilarejo.
5º Voltar pra casa.
6º Comer.
7º Trabalhar mais.
8º Ajudar mais.
9º Voltar pra casa.
10° Comer.
11º Me arrumar.
12º Ir patinar.Levanto e faço minhas higienes diárias, escovo os dentes e lavo o rosto com a água gelada local, sinto que a cada dia ela fica mais e mais gelada. Coloco meias nos meus pés, junto com minha pantufas e saio do quarto.
Chego na cozinha e abro as cortinas, deixando a luminosidade entrar no local, e dando uma leve aquecida, eu adoro a época de sol.
Faço ovos cozidos e pego um suco na geladeira, junto com mirtilos frescos, por muito tempo, esse sempre foi meu café da manhã.
Quando termino, volto pro banheiro, prendo minha tranca com um laço no topo da cabeça, me dispo e tomo um banho, a água gelada não é um incômodo tão grande, acho que seria o último, o que realmente incomoda é meu sabonete ter acabado, então eu realmente só entro na banheira e tento me lavar com os sais de banho.
Quando saio, passo hidratante por toda minha pele, visto um vestido vermelho de mangas compridas, assim como a parte de baixo, que fica um palmo acima do meu calcanhar —para não arrastar no chão e sujar— ele é feito de algodão e tem camadas extras em baixo, para proteger bem minha pele do frio, coloco meias brancas e botas pretas.
Pego minhas luvas, também pretas, meu típico chapéu de bruxa e para finalizar, volto pra cozinha, aonde eu pego minha bolsa de couro, com todos os meus frascos dentro, pego um aonde o líquido rosado da mistura de óleo de coco e amoras se misturam, pingo duas gotas no dedo indicador e passo nos lábios.
Aqui temos que nos proteger bem, usamos sempre hidratantes para nossa pele não ficar ressecada.
Abro a porta e sinto uma lufada de ar entrando, respiro o ar frio e seguro o meu chapéu, fecho a porta e começo a caminhar para o meu vilarejo. Eu moro atrás das dunas de neve, aonde eu tenho mais privacidade pra fazer o que quiser, mas mesmo se eu gritar daqui, o vilarejo todo ouve, o silêncio é grande por aqui.
Começo a andar pela trilha que eu mesma fiz, aonde pedaços grandes de madeira de destacam no solo, eles são todos interligado e de noite as luzes se acendem, como se fosse uma pista de pouso aonde o avião sabe bem a onde pousar.
Passo pelos geradores e checo para ver se estão todos o.k, aqui a energia não vem das usinas hidrelétricas como em outros lugares, aqui tiramos a vantagem do vento e do sol, quando os 6 meses de luz solar vai embora o único que nos resta é a energia eólica.
Nossa mini cidade é composta por 150 cidadãos, aonde a maioria são jovens adultos e a minoria crianças e idoso, eu diria que esse é o lugar mais seguro do planeta, mas de uma certa forma estaria mentindo, aqui não acontece assassinatos, nem roubos, mas mortes por causa do frio. A expectativa de vida daqui é de 80 à 95 anos, e o último assassinato foi a 5 anos atrás.
Quando chego no começo do nosso vilarejo, vejo as pessoas varrendo suas calçadas, lojinhas se abrindo e o pessoal começar a trabalhar, sempre ouço um bom dia e como educada que eu sou retribuo com um sorriso no rosto. Sigo em frente e viro na primeira esquina, aonde o cheiro de pão invade meu olfato e eu sinto a tentação, minhas pernas chegam a falhar quando eu vejo o pão de mel na vitrine recém saído do forno.
— Não vai querer um pãozinho Senhorita Annabel? — pergunta o padeiro com seu típico chapéu de chef e avental sujo de farinha.
— Já comi mirtilos hoje Senhor Gille, mas aposto que as crianças da Senhorita Marta irão querer.
— Aquelas crianças acabaram com meu estoque de alcaçuz — disse meio rabugento e entrou em sua padaria.
Soltei um sorriso e continuei andando até chegar na minha farmacia, diferente das outras, eu faço remédios naturais, de acordo com as estações do ano e os períodos da lua.
Eu sou uma bruxa.
Assim que abro a porta, sinto cheiro de lavanda e canela, o que faz meu humor melhorar. Vou até minha escrivaninha e mal sento na cadeira quando ouço o sino da porta.
— No que posso ajudar? — pergunto ainda olhando para meus livros.
— Tem algo que a senhorita deveria ver — Vejo John na porta, John é um policial daqui, ele passa o dia dormindo, mal trabalha, pois aqui é tão pacífico.
Mas ele é um policial, porque chamar a mim?
— É de emergência? — ameacei pegar minha bolsa.
— Não será preciso, ele não deve fazer mal, só é.. meio estranho — Ele?
Então era um garoto? Fiz uma cara de confusa e John apenas indicou com a porta, abrindo-a para que eu passasse e logo segui o mesmo.
Estávamos indo em direção da praça e logo vejo um aglomerado de pessoas, entro na frente de John e logo todos aoe ver me dão passagem.
E lá estava ele.
O garoto magro e pálido, com seus cabelos ruivos bagunçados, olheiras debaixo dos olhos e um olhar extremamente cansado.
O falatório era alto e eu não consegui ouvir o que o garoto murmurava.
— Quietos — Gritei e apenas o barulho da água da fonte gelada foi ouvida — Quem é você? — perguntei chegando perto do seu rosto.
E pronto.
Seus olhos azuis se encontraram com o meu e por pouco eu não perdi o equilíbrio, seus olhos azul marinho, transbordavam tristeza e carência.
— O que aconteceu com você? — pergunto baixinho e ele apenas morde os lábios e desmaia em meus braços.
Por que está aqui? Da onde ele veio? E como chegou aqui?
Tantas perguntas e nenhuma resposta.
Mas a pergunta principal é:
Quem é o ruivo de olhos azuis?

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Amor Gelato
RomanceO frio aqui é perigoso. Não perca o equilíbrio se tiver andando em dunas de neve. Lembre-se de sempre andar com roupas quentes. Cuidado com os dias em que o sol não aparece e os ursos podem te matar. Bem vindo ao Alaska, o lugar aonde, vo...