Alexis on:
Bufei, entediada. No sofá da sala, logo ao meu lado, minha mãe tinha a parte inferior dos olhos borrada de rímel preto por conta do choro de algumas horas anteriores, fruto de uma das diárias brigas árduas que ela tinha com meu pai. A garrafa de vodka em suas mãos já na metade enquanto ela gargalhava em frente à comédia romântica que passava na televisão era nada mais nada menos do que uma cura momentânea para sua tristeza indelével e, pelo menos, as bebidas roubadas dentro da minha mochila estavam servindo para algo.
Minha cabeça pesava e, mesmo que estivesse dentro de casa e já estivesse de noite, eu tinha óculos escuros no rosto. Uma ressaca tinha me acertado em cheio, assim como o garoto da noite anterior, que ficava rodando por minha cabeça incansavelmente. Lembrei de seus lábios macios, seus olhos agressivos, sua risada escandalosa e, por último mas não menos importante, o jeito como ele me segurava e nossas línguas se chocavam.
Meus pensamentos foram interrompidos pelo estridente barulho da campainha. Contorci meu rosto, aquilo soava como uma faca em meu cérebro. Olhei minha mãe pelo canto dos olhos, ela nem parecia ouvir qualquer outra coisa que viesse de fora da TV.
- Eu atendo - sussurrei, me levantando.
Corri até a porta da frente, a pessoa segurava a campainha afim de irritar quem estivesse do lado de dentro da casa e, de certo modo, tinha funcionado; eu poderia socar qualquer um que estivesse do outro lado, até mesmo uma senhora que estivesse pregando as palavras de Deus. Abri a porta rápido e com certa estupidez, fitando os olhos e o sorriso provocativos de Jack que mantinha ainda seu dedo na superfície capaz de produzir aquele barulho alto e irritante.
- Cai fora - o empurrei com força, ouvindo sua risada adorável.
- Mau humor noturno? - arqueou uma sobrancelha enquanto eu revirava os olhos. - Tem uma festa muito boa rolando do outro lado da cidade, se não estiver fazendo nada interessante, pode vir comigo - seus olhos desceram até meus pés -, nem precisa trocar de roupa.
Minha mãe continuava rindo do programa de TV enquanto eu entrava em casa e vestia meus vans pretos. Saí de casa pela porta sem dizer uma única palavra; ela não iria notar minha ausência da mesma forma que não tinha notado minha presença, ou pelo menos não fazia questão dela.
_______
A música alta daquela casa de festas noturnas lotada estourava em meus ouvidos, ela seria capaz de atordoar qualquer um. Todos ali estavam perfeitamente bem vestidos. Jack já tinha se perdido com uma garota qualquer, eu estava sozinha e com uma roupa inapropriada para a situação; um jeans preto e um casaco velho e ridículo do Scooby-doo. Maldito melhor amigo que fui arranjar, pensei. O banco de madeira daquele bar era pouco confortável, mantive minhas pernas cruzadas enquanto fumava um cigarro de maconha e observava as pessoas dançando. Sorri ao ver adolescentes talvez um pouco mais jovens do que eu gargalhando ao ver dois do seu grupo em um beijo. Meu sorriso se desfez; eu sempre me divertia ao ver o que os outros tinham coragem de fazer, nunca era realmente eu quem estava sentindo a adrenalina, era como se eu estivesse a um passo atrás de todos e, sem motivo aparente, eu ficava paralisada e não conseguia me juntar ao resto.
- Eu amei seu casaco do Scooby-doo, sou um grande fã e estou realmente encantado de encontrar alguém aqui com os mesmos gostos que eu.
Me virei para o dono da voz de tom que estava em uma linha tênue entre sarcasmo e sedução mas, por suas palavras, eu percebi que ele só queria mexer comigo por causa de meu moletom, sem nenhuma intenção de flertar. Levantei as sobrancelhas quando o vi; o mesmo cabelo loiro e os olhos prateados de antes me encaravam provocativamente. Retribuí sua alfinetada com um sorriso irônico que se desfez em menos de um segundo, voltando minha expressão à mesma mau humorada de sempre.
- Então... - se sentou ao meu lado e tomou o cigarro de minha mão, dando uma tragada no mesmo.
- Então... - abri um sorriso pequeno, a falta de assunto estava constrangedora.
- Desde quando você é uma fã louca de Scooby-doo? - arqueou uma sobrancelha com ar de piada.
- Deixa de ser implicante - ri lhe dando um empurrãozinho no ombro -, eu não sabia que seria uma festa cheia de fifizudos.
- Fifizudos?! - Gargalhou, seus olhos quase se fechavam de tão largo que era seu sorriso. Sorri, sua risada era escandalosa e envolvente. - Você deveria criar um dicionário.
- Você deveria ser menos debochado - revirei meus olhos.
- Perdão, senhora super mal humorada - riu, se levantando do banco
- Eu não sou super mal humorada - cruzei os braços enquanto me levantava.
- Imagina se fosse... - sussurrou.
Ignorei seu comentário pegando meu cigarro de maconha de volta e tragando. A música que agora tocava era Instant Crush, do Daft Punk. Não posso negar que as batidas eram realmente envolventes e me faziam flutuar, talvez eu já estivesse chapada demais. Leonardo me encarou com uma sobrancelha arqueada enquanto exibia passos de dança ridículos; por sua expressão, eu podia perceber que ele estava apenas fazendo graça. Realmente estava engraçado, não controlei meu riso. Seu corpo alto e magro (mas não tão magro...) o faziam desengonçado ao extremo. Me juntei a ele, imitando seus passos e o vendo gargalhar de mim já que eu, sem sombra de dúvidas, conseguia deixar o ridículo mais ridículo ainda. Em uma fração de segundo, o prateado de seus olhos se prenderam ao castanho dos meus e não mais desviaram, paramos ambos de dançar, a distância que nos separava era pequena, eu podia sentir sua respiração lenta em meu rosto. Eu precisava olhar para outra direção, mas simplesmente não podia, não conseguia, não queria. Sua íris fixa hipnotizava-me e então tudo em nossa volta sumia. Perguntei-me, desesperadamente, se ele se sentia da mesma forma. Meus lábios não se abriam, meu corpo não se movia em nem um centímetro.
- Alexis! - senti meu corpo estremecer com o puxão que recebi.
Encarei Jack, assustada. Ele também tinha pavor nos olhos enquanto segurava em meu braço. Saindo lentamente do transe em que antes me encontrava, ouvi as sirenes da polícia vindo do lado de fora e as luzes vermelhas e azuis piscando e iluminando todo o local escuro em que estávamos. Arregalei os olhos e, antes de correr, olhei para onde antes olhava; Leo não mais estava lá. Franzi o cenho, confusa.
A confusão durou pouco, já que o medo tomou conta de todo o meu corpo enquanto fugia junto com Jack, correndo o mais rápido que podíamos para o lugar mais próximo que fosse longe da polícia. Chegamos perto de uma represa, estávamos seguros.
- Alex - riu -, isso foi loucura.
- Foi - suspirei ofegante enquanto apoiava minhas mãos nos joelhos.
- Não acredito que amanhã já é segunda-feira, vou ter que ver o merda do Liam White - sua fala estava lenta e carregada, ele estava muito bêbado -, aquele filho da puta.
- Não entendo o porquê de você o odiar tanto, Jack - passei seu braço por meus ombros o ajudando a andar -, vem, vamos para casa.
Jack não falou nada que possuísse algum sentido durante todo o caminho, eu apenas ria de tudo; sempre fora assim. Meu melhor amigo começou a beber aos doze anos de idade quando seu pai saiu de casa e largou sua mãe e os irmãos mais novos. J sempre foi um palhaço, ainda era, mas desde quando seu pai se fora, o brilho em seus olhos havia sumido. Perto de sua casa, começou a gritar pela calçada do condomínio versos de Do I Wanna Know, do Arctic Monkeys. Parou de se apoiar em mim, caindo no chão de propósito.
- Crawling back to you! - começou a engatinhar pelo chão com um olhar pervertido, sentindo-se dentro da música. - Eu sou mais gostoso do que o Alex Turner, não acha, Alexis?
- Acho que você precisa de algumas aulas de meditação - o olhei pensativa.
- Para quê? - se levantou cambaleando até se apoiar a mim novamente.
- Para aprender a esperar até sua próxima encarnação, Jack! Ninguém jamais será mais gostoso do que Alex Turner!
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moon | young dicaprio
FanficEle era como a lua; tão sozinho, tão cheio de imperfeições mas, assim como a lua, ele brilhava em tempos de escuridão. Leonardo era um ser fascinante, misterioso e pouco comunicativo. Alexis se intrigara por seu jeito e por seus olhos que, magicame...