Prológo

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Flora debruçada na sacada da varanda do apartamento, seus olhos amendoados estavam com sua atenção voltada para baixo, observando uma multidão de foliões fantasiados ocupando toda avenida até a praia de Copacabana.

Ao som de marchinha os foliões se divertem pulando no bloco de carnaval.

Um integrante de um grupo, um folião mascarado que se sacudia na avenida, se sentiu observando e olhou para o alto e encontrou os olhos compridos de Flora.

O folião levantou a mão que segurava uma latinha de cerveja e acenou para ela.

Ela ergueu a mão timidamente e retribuiu o cumprimento.

O mascarado lançou um sorriso tão lindo que Flora imaginou que fosse um príncipe encantado por trás daquela máscara de carnaval.

Ele fez um gesto com a mão, para ela descer e o coração da moça deu um pulinho no ritmo da batida do tambor.

–Cambada de profano! –amaldiçoo uma voz severa.

Flora levou um susto ao deparar com sua mãe ao seu lado na sacada, olhou para o semblante carrancudo da mãe que olhava com desprezo para os foliões na avenida.

–Festa da perdição! Vão morrer no fogo do inferno! –Esbravejou a pleno pulmões.

Flora se encolheu com medo que sua mãe tivesse visto acenar a mão para o folião lá embaixo.

Mas sua mãe estava mais preocupada em rogar praga e não percebeu a filha paquerando o folião excomungado.

–Olha Flora, essas garotas estão seminuas, com fantasias que mostram quase todo o corpo.

A mulher observava horrorizada os trajes das foliãs.

–Ainda bem que você tem juízo e não gosta de carnaval.

Na verdade, Flora não sabia dizer se gostava ou não, pelo simples fato que sua mãe nunca permitiu que participasse, nem na escola, no inocente bailinho que alunos brincavam no carnaval.

–Não sei como os pais dessas meninas deixam saírem quase peladas de casa para ficar nessa sem-vergonhice no carnaval, depois não reclamem quando aparecerem de barriga de algum desconhecido que encontrou no carnaval, e não saber nem o nome dele... Vamos minha filha entrar, e ler a bíblia pelas essas almas perdidas que já estão condenadas.

Flora disfarçadamente deu uma olhada no folião que esperava que ela descesse para pular o carnaval com ele.

O mascarado fez sinal para ela, perguntando: "você vem"?

E Flora respondeu negando com um balançar de cabeça e seguiu obediente sua mãe para dentro do apartamento.

Sua mãe fechou a porta que dava para varanda para abafar o burburinho que vinha lá de fora.

Isso ocorreu quando era mocinha há tanto tempo atrás, mas até hoje Flora se perguntava o que teria acontecido com ela, se tivesse rebelado contra a mãe e descido para encontrar o mascarado.

Ele se apaixonaria por ela e se tornaria seu primeiro namorado, quem sabe seu marido?

Ou seria apenas um romance de carnaval.

O folião mascarado levaria para viela na rua mais próxima e tiraria sua inocência, e como sua mãe previa nove meses depois nasceria a consequência de sua rebeldia.

As duas possibilidades seriam melhores, do que a realidade que continuar perseguindo Flora.

Continua virgem aos quarenta anos.   














DEIXAR DE SER VIRGEM: Encalhada SolteironaOnde histórias criam vida. Descubra agora