Capitulo Um

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Flora saiu atrasada do prédio onde morava, foi em direção ao ponto de ônibus, sabia que se não apertasse o passo iria perder a condução que a levaria à escola onde trabalhava.

Deu dois passos na rua e já estava suada, nem parecia que tinha tomado banho com água gelada.

O dia amanheceu quente, apesar de não passar das sete da manhã, e prometia ser mais um dia em que o termômetro iria passar da casa dos quarenta graus.

O calor estava insuportável no mês de dezembro, ainda faltavam alguns dias para a chegada do verão, mas esses dias que antecipavam a entrada da nova estação já mostravam como ela seria quente, bem quente mesmo.

Com o sol a pino e a temperatura elevada, nada surpreendente, por se tratar do Rio de Janeiro.

Rio quarenta graus, para alegria dos turistas que já desembarcam na cidade maravilhosa nessa época do ano, a fim de aproveitar o calor em suas belas praias.

Flora encontrou pelo caminho vários banhistas, muitos com sua prancha de surf debaixo do braço a caminho do mar. Ela fazia o caminho inverso, indo ao ponto de ônibus, para pegar um circular que a levaria ao centro da cidade, bem longe da praia mais famosa do Brasil. Ela morava em Copacabana, nascida e criada lá, a poucos metros da praia; no apartamento n°12 de um prédio antigo de cinco andares adquirido pelo seu pai há muito tempo – quando o metro quadrado do bairro não tinha esse preço exorbitante – que só ricaço pode comprar hoje em dia.

Mesmo morando perto de um cartão postal do Rio de Janeiro – Copacabana, princesinha do mar – não poderia ser chamada de praiana, pois nunca tomou banho de mar. Para falar a verdade nunca nem ao menos colocou os pés na areia. Parece absurdo alguém que vive na cidade do Rio, morando em apartamento próximo à praia, nunca ter chegado perto dela, sendo que turistas do mundo inteiro gastam uma fortuna para ir até lá desfrutar a delícia de se refrescar nesse mar.

Não Flora, que nunca teve o prazer de se batizar nesse marzão de Deus, que se estendia em frente à janela do seu apartamento, pois tinha aquafobia –o medo herdado da mãe – que tinha verdadeiro pavor do mar. Sua mãe quando era pequena foi levada por uma onda forte e se não fosse um bravo banhista, que arriscou a própria vida para salvá-la, teria se afogado.

E desde esse dia a mãe de Flora ficou com esse trauma, nunca se recuperou, mesmo depois de se tornar adulta, casar e ir morar bem em frente ao mar.

E quando sua filha nasceu, aterrorizou a menina desde que começou a andar, e segurava seu baldinho e pedia para mãe ir brincar na praia. Então ela contava para filha a história horripilante de como o mar era traiçoeiro e perigoso, que nem na areia poderia pisar, pois viria uma onda enorme, como um Tsunami, que surgiria de repente pra arrastar os banhistas para o fundo do mar e afogá-los.

E é claro que a mãe explicava detalhadamente para a filha como é a sensação de engolir um monte de água salgada, como seus pulmões agonizavam implorando por um pouco de ar.

Pobre menina, tinha pesadelo quando dormia, do bicho papão chamado mar.

Agora já adulta e após sua mãe ter morrido há muito tempo. Flora entendia que o trauma não era seu e sabia perfeitamente que ficar na beira da praia, no dia de mar calmo, não era tão perigoso como sua mãe o desenhava...

Porém não adiantava, ela não conseguia se livrar do medo herdado de sua mãe.

Poderia ser um dia ensolarado do verão, quando o mar está convidativo para um mergulho, ou simplesmente, chamando para relaxar depois de um dia cansativo, assistindo ao pôr do sol, andando descalça pela areia fofa da praia, sentindo água morna batendo nos seus pés.

DEIXAR DE SER VIRGEM: Encalhada SolteironaOnde histórias criam vida. Descubra agora